A diocese está sem bispo titular desde o passado dia 21 de setembro de 2021
A diocese de Angra completa esta quinta-feira 488 anos, celebrando-se o dia da Igreja Diocesana no próximo domingo, em todas as paróquias. A diocese viverá este dia ainda à espera da nomeação do 40º bispo de Angra, depois da saída de D. João Lavrador, a 21 de setembro de 2021.
“Celebramos este aniversário numa situação estranha e amarga: a ausência de bispo diocesano, cuja nomeação aguardamos e pela qual insistentemente rezamos” afirma o Administrador Diocesano numa mensagem enviada a toda a diocese, a que o Sítio Igreja Açores teve acesso.
Historicamente a diocese já viveu períodos mais longos de sede vacante, mas nunca num contexto tão dificil para a Igreja, marcado pelo problema dos abusos de menores, pela falta de vocações ministeriais, pelo envelhecimento dos movimentos e pela baixa prática religiosa ao domingo, a que se junta a progressiva secularização da sociedade e consequente perda de relevância da Igreja.
Ainda assim, o cónego Hélder Fonseca Mendes sublinha que a ausência de bispo e as dificuldades não colocam a Igreja “em pausa”.
“Não estamos em pausa, sentados na praça pública à espera de quem nos venha contratar. O trabalho continua, deve continuar pelos serviços diocesanos de pastoral, seja na evangelização, na catequese e nas missões, seja na escola pública ou particular, no serviço de espiritualidade e liturgia, na pastoral social e da mobilidade humana, na pastoral da saúde, nos estabelecimentos prisionais, na pastoral juvenil e universitária, na pastoral familiar, nos movimentos de leigos e de apostolado” e em tantos outros serviços que o sacerdote identifica.
“A Diocese quer fortalecer os seus serviços pastorais no sentido de interagir mais e melhor com a sociedade açoriana, de apoiar e ajudar naquilo que é efetivamente necessário”, adianta ainda.
Dos 237 mil habitantes nas nove ilhas do arquipélago, menos 4,1% do que em 2011, cerca de 80% dos açorianos ou residentes nos Açores dizem professar a religião católica, mas é notória a redução da participação no culto, nomeadamente ao domingo bem como o envolvimento na vida religiosa.
Com um total de 165 paróquias e 22 curatos, a Diocese dispõe de uma centena e meia de sacerdotes e seis diáconos permanentes, mobiliza centenas de leigos nos vários movimentos e serviços da Igreja, a começar pela catequese, que é a dimensão pastoral que envolve mais pessoas, apesar de se ter registado uma quebra depois da pandemia, o que também teve implicações económicas severas, com algumas paróquias em sérias dificuldades financeiras.
“Para esta missão espiritual e pastoral a Diocese necessita de recursos humanos e materiais” destaca o Administrador Diocesano afirmando que os “contributos dos fiéis seja por via das paróquias, sejam as doações diretamente à Diocese, como são as coletas de 5 e 6 de novembro (dia da Igreja diocesana), aplicam-se na prossecução dos seus fins”, ressalva afirmando que no ano passado essa coleta rendeu 5.299,61 euros.
“As receitas são geridas de forma honesta e criteriosa do ponto de vista técnico e da finalidade. Todo o património da Diocese está ao serviço da missão: ensino, culto e caridade”, ressalva ainda.
A Diocese, criada há 488 anos pelo Papa Paulo III, através da Bula Aequum Reputamus, possui, 59 centros sociais canonicamente eretos, 47 confrarias e 23 misericórdias. A expressão da dimensão da religiosidade popular manifesta-se no número de Irmandades do Divino Espírito Santo que as nove ilhas têm- 254.
A Diocese de Angra está organizada em 3 vigararias que abarcam 17 ouvidorias, sete delas correspondem à ilha toda- Faial, Pico, São Jorge, Flores, Corvo, Graciosa e Santa Maria- e só na maior ilha do arquipélago existem 8 ouvidorias- Ponta Delgada, Nordeste, Povoação, Ribeira Grande, Vila Franca do Campo, Fenais da Vera Cruz, Capelas e Lagoa, registando-se duas também na ilha Terceira- Angra e Praia da Vitória.
A sede da diocese é em Angra, tendo como catedral a Sé de Angra, dedicada a São Salvador do Mundo e padroeiro o Beato João Batista Machado.
Até à data da sua criação, os Açores integravam a Diocese do Funchal, que um ano antes tinha passado a Arquidiocese, e a de Angra passou a ser sufragânea desta até à sua extinção como Arquidiocese, passando depois a fazer parte da Província eclesiástica de Lisboa, situação que permanece até aos dias de hoje.
A organização religiosa do arquipélago, como as restantes terras do além-mar português então descoberto, começaram por estar sujeitas à jurisdição espiritual da Ordem de Cristo, exercida pelo vigário nullius de Tomar, que mandava visitar as ilhas por representantes, os chamados bispos de anel. Ao ser criado o bispado do Funchal (1514), o arquipélago açoriano passou a integrá-lo.
A pedido de D. João III de Portugal, o papa Clemente VII, ainda, criou o bispado de São Miguel (1533), mas faleceu antes da bula respetiva ter sido expedida.
No ano seguinte, o recém-eleito papa Paulo III pela bula Aequum Reputamus erigiu o bispado de São Salvador do Mundo, dando-lhe por catedral a igreja do mesmo nome na cidade de Angra.
O período maior em que a Diocese de Angra se encontrou na situação de sede vacante foi de 34 anos e 7 meses, entre 1637, com a morte de Dom Frei António da Ressurreição a 8 de abril de 1637, e 1671, com a nomeação de Dom Frei Lourenço de Castro a 18 de maio de 1671.
A ausência de bispo titular aconteceu ainda mais quatro vezes de forma muito prolongada: entre 1612 e 1614, entre 1772 e 1774, entre 1818 e 1820 e 1870 e 1872.
Já no século XX esteve vacante entre 1904 e 1905, para viver, poucos anos depois, uma vacância atribulada após a implantação da República. Dom José Cardoso Monteiro, 32.º bispo de Angra, que havia sido nomeado em 1905, veio a falecer nesta cidade a 20 de junho de 1910. Angra só viria a ter novo bispo nomeado em 1915 tendo governado até 1922. Desde então as sedes vacantes foram mais curtas e verdadeiramente, a partir de 1928 nunca mais existiu qualquer período de sede vacante, a não ser desde setembro do ano passado.
“Ao Senhor Pai Santo pedimos a graça da Igreja nos Açores progredir no amor e na unidade, de se renovar na diversidade das suas comunidades, movimentos e instituições, de modo que seja sempre instrumento da presença de Jesus Cristo no mundo”, termina a mensagem que, logo no inicio, agradece aos dois bispos “deste século”- D.João lavrador e D. António de Sousa Braga, recentemente falecido- que acompanharam esta Igreja local governando-a por seis e 20 anos, respetivamente. O Administrador Diocesano agradece igualmente à população açoriana, em especial aos leigos mais comprometidos, e recorda as várias instituições que têm estado ao serviço da missão, como os órgãos decisores e consultivos, hierárquicos e eclesiásticos desta Igreja local como o Colégio de Consultores, o Cabido , a Cúria e os vários serviços, e também o Seminário Episcopal de Angra (a cumprir 160 anos no dia 9 de novembro), as Misericórdias, a Cáritas, os Movimentos e os Institutos religiosos de vida consagrada.