A Igreja, família e sexualidade foi o tema da primeira conferência dos IV Encontros da Praia

A psicóloga Raquel Oliveira e o teólogo José Júlio Rocha foram os oradores da primeira de três noites de reflexão na ouvidoria da Praia, na ilha Terceira

A igreja deve estar preparada para entrar no diálogo da sociedade sobre a ideologia do género sem que com isso tenha de abdicar da sua doutrina, afirmou esta noite o padre José Júlio Rocha durante o primeiro de três Encontros de reflexão sobre temas relacionados com a Família,  nas visões do mundo e da Igreja.

“A Igreja não pode desistir da sua proposta de sexualidade mas tem que dar passos no sentido de compreender, tolerar, aceitar e discutir esta questão em diálogo com a sociedade” referiu o sacerdote que é doutorado em Teologia Moral, rejeitando qualquer abordagem ao assunto assente apenas “em modas” ou “condenações”.

“O assunto é muito mais sério” afirmou.

“A sociedade de hoje não dá às questões da sexualidade e do género nenhuma categoria moral para evitar o sofrimento que ao longo da história foi imposto a tantas pessoas” destacou lembrando que a “violação e o abuso” são as duas únicas categorias sociais amplamente censuráveis pela sociedade.

“A igreja vai mais além e ao considerar que a sexualidade tem duas finalidades- unitiva e procriativa- tem que ter uma moral e é essa moral que pode chocar com a realidade”, afirmou.

O sacerdote lembrou a problemática dos abusos sexuais na Igreja, que voltou a condenar, e pediu aos cristãos que façam este diálogo na sociedade e na família com respeito e sentido de integração de todas as pessoas .

“A pior acusação que nos podem fazer é que a Igreja apareça como a castradora, que condena. A mensagem de Jesus foi muito diferente e embora a questão da sexualidade não tenha sido por Ele abordada basta olharmos para a Sua mensagem para percebermos como seria o seu posicionamento sobre estes temas da sexualidade”, concluiu.

Antes Raquel Oliveira, psicóloga e docente em várias escolas, apresentou a problemática da sexualidade numa perspetiva estritamente técnico-cientifica.

A partir da ideia do homem como um ser “bio-psico-socio-espiritual”, o que lhe confere uma complexidade para além do determinismo biológico, a ex-professora do Seminário Episcopal de Angra refletiu sobre a evolução cientifica na abordagem das questões da sexualidade. E que, do ponto de vista social e legal, conduziu à criação do direito à autodeterminação, isto é, o direito a que cada um possa construir a sua própria identidade sexual, que deve ser vista em quatro dimensões: o sexo biológico (macho ou fêmea), a identidade de género (a forma como cada um se sentem independentemente de ter nascido homem ou mulher); a expressão de género (a forma de comunicar a sexualidade) e a orientação sexual (que está associada ao objecto de desejo numa dimensão afectiva e física).

A psicóloga reconheceu a dificuldade que esta abordagem pode ter no seio da família e da sociedade mas sublinhou que é importante estar ciente de que há certas expressões de sexualidade que “não são doença” e devem ser aceites e compreendidas nesta linha de pensamento cientifico, “sem estigmas” que provocam “sempre sofrimento, sobretudo em quem é diferente”.

Os IV Encontros da Praia prosseguem esta noite com uma reflexão sobre “as dificuldades quotidianas das famílias” como “ o exercício da parentalidade”, “os casais com e sem filhos” ou as “dificuldades de educação e criação, indo ao concreto” com a professora Zulmira Barcelos.

No terceiro e último dia, o diretor espiritual do Seminário Episcopal de Angra, cónego Gregório Rocha, abordar a “espiritualidade para a família”.

O primeiro dia das jornadas da ouvidoria da Praia foi animado pelos Jovens da Casa da Ribeira.

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