Por Renato Moura
Os serviços oficiais gabam-se de facilidades concedidas aos utentes através dos sítios na internet. Pode-se fazer marcações, requerer e obter certidões, assinar digitalmente documentos e muitas outras acções outrora presenciais. As empresas comerciais e de serviços oferecem opções de escolha, compra, agendamento e pagamento de produtos ou trabalhos, sem sair de casa. Uma evolução impensável há anos. Inúmeras pessoas sentem-se muito à vontade neste ambiente, algumas já não o dispensariam. Estarão neste grupo os novos e os de meia-idade”; e alguns idosos a quem as profissões familiarizaram com o uso das novas tecnologias.
Há outros sentindo-se forçados a lidar com essas tecnologias, designadamente os muito idosos e uma parcela importante da população sem o mínimo de escolaridade, ou com frequência escolar rudimentar e já quase reduzida a “assinar o seu nome”, usando a linguagem dos próprios.
Com indiferença ao estado da Nação, é obrigatório entregar a declaração de IRS pela internet, há serviços oficiais a exigirem marcação para tudo e a pagar por multibanco. A CGD, outrora um banco do Estado para servir o povo, já acabou com as cadernetas – um serviço a distingui-la da generalidade dos bancos – restando aos clientes o recurso a serviços da internet para controlar os movimentos nas contas, ou a disporem de cartões para levantar uns euros sem terem de pagar! Alguns, inábeis para aceder a estas “modernices”, optam por guardar o dinheiro debaixo dos colchões, para delícia dos ladrões e burlões.
Para quem perde o sinal de televisão é necessária apreciável desenvoltura, por números escolher opções, ou dizer palavras para máquinas que dispensam trabalhadores da operadora, mas não substituem os humanos. Quem ultrapassa a odisseia de chegar à fala com o técnico, ainda assim é levado a resolver o problema, através de um conjunto de operações impossível para o geral dos humanos, principalmente se idosos.
Há idosos e desprotegidos a ter de pagar para alguém lhes preencher a declaração de IRS no site das Finanças, para lhes pagarem contribuições, taxas, bens e serviços no Multibanco, para se desenvencilharem com a operadora do serviço de televisão; ou então importunar os amigos, ou tirar o juízo aos familiares, se os têm.
Em resumo esquece-se que: ainda há iliteracia, há idosos, pessoas sem internet nem computador; não se conhece o País que somos. O rumo ao progresso não dispensa alternativas capazes e humanas.
Fala-se muito de ajudar os idosos e os desfavorecidos, mas respeito é mais que palavras.