Por Renato Moura
Estamos constrangidos com notícias preocupantes. O Governador do Banco de Portugal, recente ministro do Governo (PS), esclareceu: “a inflacção vai ser mais elevada e menos temporária”. Um antigo ministro do Governo (PSD), Director na OCDE, considera deverem as pessoas preparar-se para uma subida dos juros dos empréstimos. A Presidente do BCE deixara já claro que se seguirão várias subidas nos juros. O Conselho de Finanças Públicas não exclui hipótese de recessão. O Presidente da República, nos intervalos das idas ao estrangeiro, ou até já enviando de lá escritos e entrevistas, diz não querer criar instabilidade, mas alerta para “enorme incerteza, volatilidade e imprevisibilidade”; e parece saber algum “segredo”, ao reclamar do 1.º Ministro informação aos portugueses com cenários e previsões futuras.
Das propostas que possa ter o Governo, como colectivo, nada de substancial se sabe. Os ministros que falam têm opiniões díspares; os que não falam garantem futura opinião “sua” igual à do chefe e assim não correm os riscos das sinceridades públicas!
Sondagens recentes divulgadas, contêm indicadores muito preocupantes. Um quinto dos portugueses estará já a cortar em despesas de saúde, cerca de dois terços a reduzir em bens essenciais, metade dos inquiridos considerando que o nível de vida piorou. Há receio de desemprego, a maioria parece não acreditar na melhoria da situação no curto prazo; e há esmagadora convicção de o pior ainda estar para vir.
O Chefe do Governo discursa sobre tudo quanto não solicitamos; e não nos desvenda a realidade. Continua a fazer parecer a imagem de um Portugal no melhor, apesar das convicções técnicas e políticas, externas e internas. Aliás ele sempre negou e odiou o chamado vaticínio de “o Diabo estar para vir”! Já que toma o Diabo como um fantasma, poderia, à cautela, estar pelo menos atento a se algum “Belzebu virá aí” escondido, envolto nalguma espiral inflaccionista, ou embrulhado numa recessão! Seria útil, para evitar a queda de Portugal nalgum colapso político e ou económico.
Se nos continuarem a embalar num berço de tranquilidade, podemos acordar afogados!
Aos políticos da oposição, aos deputados, (até a alguns dirigentes do partido de governo, se para tal tivessem coragem!), aos portugueses em geral, bem valeria seguir o ensinamento de Adriano Moreira: “O poder da Palavra é capaz de vencer a palavra do poder”. E o Professor Adriano Moreira, com os seus 100 anos completados no dia 7 deste mês, tomaria cada “Palavra” certa como preciosa oferta de anos.