Por Renato Moura
Conta-se que em Tribunal um inteligente contestatário, no fim das suas alegações como testemunha, terá tido um desabafo entre dentes: qualquer coisa como acusando os agentes do Estado de ladrões a roubarem para o Estado. O juiz, ocupado a tomar notas, pareceu-lhe ouvir algo de grave e pediu-lhe para repetir o que dissera. A testemunha, com a sua muito reconhecida esperteza, disse: paguem que é justo pagar, como eu já paguei.
Atentando nas notícias ouve-se repetidamente: “Governo dá cheque”, “Governo decidiu atribuir”, “Governo já começou a pagar apoio”, “Governo dá 125,00 euros”, “Governo vai atribuir apoio”, “Governo prolonga apoio” e outras simpáticas notícias semelhantes, criadas pelos governos, ampliadas e multiplicadas pela comunicação social. Nos Açores, em Abril passado, quando foi decidido diminuir o custo de combustível a pagar pelos utilizadores, na factura do fornecedor aparecia “Desconto do Governo Regional”!
Ao invés, ao Estado se atribuem todas as coisas desagradáveis: a cobrança, a manutenção e o aumento dos impostos e taxas; a não subida dos salários na função pública, justificada na falta de recursos do Estado; a alteração da fórmula que levaria a aumento das pensões, para a sua diminuição real, em nome da sustentabilidade da segurança social do Estado; o sucessivo adiamento de investimentos propalados pelos Governos, mas nunca realizados, alegadamente para evitar o deficit do Estado e propagandear uma invenção apelidada de “Contas Certas”!
Em resumo: o Estado é transformado numa entidade abstracta, é de todos, tem de ser defendida e suportada por todos, fixa as coisas penosas, cobra, exige os pagamentos, toma posse dos nossos recursos; os governos dão, atribuem facilidades, concedem benefícios, subsidiam, são os bons da fita.
Como os governos se não distinguem do partido de governo, eleva-se o partido no poder a único virtuoso; e o seu 1.º Ministro, também chefe do partido, a estrela fulgente! Assim sendo é o 1.º Ministro a prometer uma chuva de residências para estudantes; o Ministro da Educação limita-se a afirmar não haver alunos sem aulas; apenas há horários por preencher!
A inflação que antes se negava, agora diz-se conter, finalmente será uma desgraça inevitável; mas não por culpa do Governo, dirá – então informado – o Ministro das Finanças, impedindo a descida de impostos! O Ministro da Economia, sem a desejada descida transversal de impostos, talvez se pergunte o que faz no Governo!
A Marcelo melhor será esperar sentado os reclamados cenários e previsões!