O Papa defendeu hoje a necessidade de manter o diálogo com a Rússia para tentar travar a agressão deste país à Ucrânia, destacando que Kiev tem o direito a defender-se.
“Acho que é sempre difícil entender o diálogo com os Estados que iniciaram a guerra, e parece que o primeiro passo foi dado de lá, daquele lado. É difícil, mas não devemos descartar isso, temos de dar a oportunidade de diálogo a todos, a todos! Porque há sempre a possibilidade de que, no diálogo, se possam mudar as coisas, e também oferecer outro ponto de vista, outro ponto de consideração”, referiu aos jornalistas que o acompanharam de regresso ao Vaticano, após uma viagem de três dias ao Cazaquistão.
Francisco admitiu que as iniciativas neste sentido podem ser mal-entendidas, pela opinião pública, mas sublinhou que é necessário manter aberta a “única porta racional para a paz”.
“Não excluo o diálogo com qualquer potência, seja em guerra, seja o agressor… às vezes o diálogo tem de se fazer assim, mas deve fazer-se, cheira mal, mas tem de ser feito. Sempre um passo à frente, uma mão estendida, sempre”, acrescentou.
Questionado sobre a decisão de enviar armamento para a Ucrânia, o Papa sublinhou que esta é uma decisão política, “que pode ser moral, moralmente aceite, se for feita de acordo com as condições de moralidade, que são muitas”.
“Mas pode ser imoral, se for feito com a intenção de provocar mais guerra ou vender as armas ou descartar as armas de que já não se precisa”, acrescentou.
“A motivação é o que, em grande parte, qualifica a moralidade deste ato. Defender-se não é somente lícito, mas também uma expressão de amor à pátria. Aquele que não se defende, aquele que não defende algo, não ama, mas aquele que defende, ama”, disse.
Francisco insistiu na necessidade de refletir sobre o conceito de “guerra justa” e lamentou que se fale de paz “há tantos anos”, sem que os discursos sejam concretizados.
“Estamos numa guerra mundial”, sustentou.
O Papa falou do conflito na Ucrânia, mas também no Azerbaijão e Arménia ou na Síria.
“Que interesses movem estas coisas? Depois há o corno de África, o norte de Moçambique ou a Eritreia e uma parte da Etiópia, depois Myanmar, com este povo sofredor que tanto amo, o povo Rohingya que gira, gira, gira como um cigano e não encontra paz”, acrescentou.
A resposta apontou o dedo ao comércio de armas, falando de um “negócio assassino”.
“Alguém que entende de estatísticas me disse que se parassem de fabricar armas durante um ano, isso resolveria toda a fome do mundo… Eu não sei se é verdade ou não. Mas fome, educação… nada, não se pode porque é preciso fazer armas”, criticou.
Francisco falou da importância de uma “consciência de paz” e da capacidade de “chorar” perante a guerra.
“A guerra em si é um erro, é um erro! E nós, neste momento, estamos respirando este ar: se não há guerra, parece que não há vida”, lamentou.
(Com Ecclesia)