Quando contemplo a história dos 480 anos da nossa Diocese, a imagem que me surge logo é a de uma Comunidade em permanente construção.
Por um lado, porque a Igreja é mesmo comunidade sempre a edificar-se no mundo; e no nosso caso, dadas as realidades geográficas sociais e culturais ainda mais esta construção se fez e faz numa mudança – inculturação permanente.
O passado histórico e social da Igreja açoriana desde a Evangelização e Povoamento, passando pela Fundação da Diocese, pelo período da ocupação Filipina, na Restauração, no Movimento e Revolução Liberais, na implementação da República, mostra uma Comunidade-Instituição a edificar-se permanentemente, tendo em conta os dinamismos históricos nas nossas ilhas.
A construção do Cristianismo Católico e a Identidade Açoriana, revela-se no Ensino e Educação, tem em conta a Religiosidade na Literatura Açoriana, o Telurismo e as Expressões Religiosas nas nossas ilhas e tem ainda manifestações nas expressões artísticas e no nosso folclore. Para não falar na ação da nossa Igreja na promoção social do nosso povo.
Sinais de uma permanente edificação da nossa Igreja são também os seguintes: o trabalho dos 38 Bispos que já tivemos, a acção do Clero através dos tempos, bem como a das Ordens Religiosas, sem esquecer o Laicado, sobretudo através das Irmandades , Confrarias e depois nas obras de apostolado, nos Movimentos Eclesiais e nos Serviços Pastorais.
Ajudou também a edificação neste quase meio milénio da nossa Igreja Local, as 5 erupções, como eu costumo chamar, do vulcão que é a Religiosidade Popular, a saber: o culto Mariano, a paixão de Cristo, o culto dos mortos a devoção ao Espírito Santo, e a dos Santos Padroeiros. Também é verdade que a religiosidade e fé se expandiram daqui para o resto do mundo na missionação que tem zonas sinalizadas e tem figuras de relevo.
Cheia de luzes e com muitas sombras, comungando as alegrias e tristezas do nosso povo, a nossa Diocese experimentou também na história as consolações de Deus até chegar quase ao presente, áquilo que foi a «revolução» do Concílio Vaticano II que tem cinquenta anos.
Ordenado á 45 anos, como presbítero desta Igreja de Cristo que está nos Açores, seja-me permitido referir e testemunhar o fervor e a beleza da renovação do Concílio no nosso Seminário e nas nossas Ilhas, assim como infelizmente os recuos ao progresso e a paralisia em tantas acomodações pastorais.
Quero lembrar muito de passagem e em nota pessoal e histórica os Prelados: D. Manuel Afonso de Carvalho que me ordenou e com quem comecei o ministério; D. Aurélio Granada Escudeiro com quem trabalhei e D. António de Sousa Braga, de quem fui e sou colaborador próximo.
Hoje, a nossa Diocese com um caminho pastoral traçado, graças a Deus e ao nosso Plano Pastoral, iniciado há vinte anos, cresce na corresponsabilidade a partir das bases; na formação para todos, embora cheia de insuficiências; na orgânica pastoral concertada mas a pedir uma grande consolidação numa organização pastoral mais funcional; e nas orientações pastorais que apontam para uma avaliação abrangente a fazer-se, a qual irá levar num caminho de sinodalidade, áquilo que será a realização de um Sínodo Diocesano.
Assim posso dizer: esteve, está e estará sempre em construção a nossa Diocese, que em júbilo, celebra agora 480 anos!
Pe José Medeiros Constância
Ouvidor de Ponta Delgada