Assim como não se conjuga bem os cristãos andarem com cara de quarta feira de cinzas, parece não fazer sentido celebrar-se ao domingo o dia de fiéis defuntos.
Este ano é assim. Vão ser ambos no mesmo dia. Salva-se a distinção do dia de Todos os Santos cuja manhã e tarde costumam ser hora de visita aos cemitérios.
Penso ir celebrar a Eucaristia ao cemitério no dia 2, domingo. Terei presentes os mais próximos, parentes e conhecidos, que a morte tornou distantes mas nem por isso alheios à minha vida. Até me parece que, muitas vezes, a memória os ressuscita a falar e rezar comigo. E não perco o seu olhar, oiço o som das suas palavras que o além tornou distantes e ao mesmo tempo próximas e saborosas. E, sempre que na Eucaristia lembro os que passaram tenho-os como presentes. Por vezes mesmo repito os seus nomes em voz alta e parece que estou a ouvi-los a fazer comigo um pequeno dueto de prece e agradecimento.
Penso que todos nos juntamos aos nossos falecidos mais vezes e durante mais tempo do que pensamos. Eles estão muito nas nossas vidas. E o interessante é que, mesmo perpassados por um fio de saudade, ligamo-nos em ternura como se fossem ressuscitados ou como se o nosso próximo encontro fosse já amanhã.
Este ano eles estão convidados para a festa de Domingo, dia de Ressurreição e para a grande festa que é a Eucaristia. A liturgia é dos defuntos mas a celebração é dos vivos que lembram o infinito, o além, o inacessível, nos esplendores da luz perfeita e perpétua que nós buscamos.
Domingo, dia de defuntos, a festa será maior que o habitual. Passou o tempo do luto. Estamos mais perto de testemunhar a vida que está para além da morte. Mesmo que isso nos desconcerte, não nos esmaga.
P.António Rego