O Papa publicou hoje a carta apostólica ‘Desiderio desideravi’, com que se dirige a toda a Igreja para pedir o fim das “polémicas” sobre a Liturgia, criticando tanto o desleixo com o excesso de formalismo nas celebrações.
“Abandonemos as polémicas para ouvir juntos o que o Espírito Santo diz à Igreja, guardemos a comunhão, continuemos a espantar-nos com a beleza da Liturgia”, escreve Francisco.
A carta sublinha que “uma celebração que não evangeliza não é autêntica”, pedindo que se recupere o significado profundo da celebração da Eucaristia.
O Papa rejeita um “estetismo ritual”, que se preocupa apenas com a “formalidade exterior” ou a “escrupulosa observância das rubricas”, bem como a “criatividade sem regras”, que “confunde simplicidade com banalidade desleixada, essencialidade com superficialidade ignorante, a concretude da ação ritual com um funcionalismo prático exasperado”.
Ao longo de 65 pontos, o Papa aprofunda a mensagem que tinha enviado aos bispos de todo o mundo, na carta ‘Traditionis Custodes’, a respeito do uso da Liturgia Romana anterior à reforma de 1970.
“Seria banal ler as tensões que infelizmente estão presentes, em volta da celebração, como uma simples divergência entre várias sensibilidades em relação a uma forma ritual. A problemática é, acima de tudo, eclesiológica”, de conceções da Igreja, justifica.
Francisco insiste na necessidade de “comunhão” em toda a Igreja, em volta da reforma litúrgica que surgiu após o Concílio Vaticano II (1962-1965).
“Gostaria que a beleza da celebração cristã e das suas necessárias consequências na vida da Igreja não fosse deturpada por uma compreensão superficial e redutora do seu valor ou, pior ainda, de uma instrumentalização, ao serviço de alguma visão ideológica, qualquer que seja”, adverte.
A reflexão fala numa “mundanidade espiritual” que deturpa a vida cristã e refere que a participação na Eucaristia não é uma “conquista” pessoal”.
“A Liturgia nada tem a ver com um moralismo ascético: é o dom da Páscoa do Senhor que, acolhido com docilidade, faz nova a nossa vida. Só se entra no Cenáculo pela força de atração do seu desejo de comer a Páscoa connosco”, precisa.
O Papa destaca a necessidade de promover a participação de toda a assembleia, recuperando o “sentido do mistério”, perante o individualismo, o subjetivismo e o “espiritualismo abstrato” do mundo pós-moderno.
Francisco apela a uma maior formação “litúrgico-sapiencial” nos seminários, para que se os novos padres aprendam a colocar no centro da vida comunitária “a celebração eucarística dominical, fundamento da comunhão”.
A carta elenca, em particular, vários “modelos” de presidência pouco adequados, dos párocos das comunidades cristãs, da “rigidez austera” à “pressa”, observando que é necessário superar a sede de “protagonismo”.
O documento conclui-se com votos de que “a Igreja possa elevar, na variedade das línguas, uma única e mesma oração capaz de exprimir a sua unidade”, frisando que esta única oração é o Rito Romano que emergiu da reforma conciliar, instituído pelos Santos Paulo VI e João Paulo II.
(Com Ecclesia)