Por Renato Moura
Seguiu-se à antiga suspeita, a confirmação de inúmeros casos de abuso sexual de menores no seio de instituições, nomeadamente na própria Igreja Católica, em diversos países e também em Portugal.
O Papa Francisco, como sempre, é o grande impulsionador da clarificação dos problemas e das acções para os solucionar, mesmo quando são dentro da Igreja. Defendeu com clareza “o fim de uma cultura de morte e silenciamento cúmplice”, que classificou de “assassinato psicológico” praticado por membros da Igreja, durante décadas. Mais uma atitude corajosa enfrentando clérigos dos diferentes níveis da hierarquia. Soube-se que muitos não gostaram, seja por formação, por ameaça de perda de poder, por culpas.
Crimes contra menores são horrendos, nas instituições, na sociedade, nas famílias. Porém no seio da Igreja são uma dupla traição, por ofenderem a dignidade humana e os agressores espezinharem a moral cristã. Atingem crianças de baixa idade, crê-se que mais rapazes do que raparigas, sobretudo praticados por adultos do sexo masculino, habitualmente de forma continuada, em espaços tidos como seguros, com utilização da força da coação, geradores de silêncio perpetuado das vítimas, por medo, vergonha ou culpa.
A Igreja em Portugal acabou por criar uma Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças. A Comissão organizou-se de forma autónoma, integra especialistas em diversas áreas, nomeadamente pedopsiquiatria, sociologia, psiquiatria, terapia familiar, direito; e não inclui clérigos. Temos como garantia, para além das valências profissionais, o reconhecido mérito e prestígio dos seus membros. A própria Comissão asseverou a sua condição de independente da própria Igreja Católica e também de outros credos ou religiões, raças e etnias, géneros e identidades.
A Igreja, em tantos ambientes e lugares, cuida de todos, especialmente dos mais vulneráveis, das crianças, com proficiência, esforço desinteressado e eficácia. Assume agora o dever de combater o mal, promover a justiça.
A Igreja católica tem a melhor rede de contacto com a população. Não é aceitável como não divulga, insistentemente, a existência da Comissão e a forma de lhe aceder. Que se fique a saber como: Preenchendo o Questionário «Vamos dar voz ao silêncio»; escrevendo para: CE Comissão Independente – Apartado 012079 EC Picoas 1061-011 Lisboa; ou através do mail geral@darvozaosilencio.org; ou pelo telefone +351 917110000.
Com as garantias de sigilo profissional e anonimato, urge quebrar o silêncio dos abusos.