Por Renato Moura
Esta contou-me um amigo: Há muitos anos, um menino optou pela ida para o Seminário. As pessoas da terra perguntavam-lhe a razão da opção. Ele respondia: “ser padre sempre é uma vida mais limpinha”!
Mais tarde o rapaz percebeu que não tinha vocação para ser padre e voltou. Não enfrentou a vida dura da lavoura do tempo, que sujava e doía. Teve uma vida limpinha como simples funcionário público, partilhando amizade e alegria com todos; infelizmente uma doença levou-o muito novo, certamente para tão perto do Pai, quanto outros com toda a vidinha de padres.
Algumas pessoas escolhem certas profissões, sem vocação. Principalmente há outras a assegurar cargos na política e na administração, ou lugares destacados nas instituições, sem terem o mínimo de propensão. À sua maneira, vão à procura de «uma vida mais limpinha»: melhores remunerações e horários mais favoráveis; libertação das chefias e acesso ao poder; capacidade para interferir e facilidade na obtenção de vantagens próprias; trampolim para outros lugares. Umas disfarçadas com declaração de sacrifício, outras inconfessáveis sob o manto do silêncio. Frequentemente sabe-se das mais variadas estratégias para entrar e duma grande resistência para sair.
Há boas excepções; parecem, todavia, cada vez mais raras!
Também no presbitério, feito de humanos, por vezes parece faltar vocação: por ter desaparecido, face à dureza das exigências ou das circunstâncias; ou por verdadeiramente nunca ter existido. A busca de poder vai desde o topo até à base, pois é um problema de formação; e para Jesus o Seu reino não era deste mundo. Nota-se relutância perante as opiniões diferentes, revolta perante as críticas. Nos juízos do seu povo parecem ver sempre ataque à unidade! O apelo constante ao amor nascerá de imaginarem ódio a grassar?! E apesar de um Evangelho cheio: de citações das contestações a Jesus e de situações em que Ele foi confrontado e posto perante as mais duras provas; e das formas como respondeu e resistiu.
Felizes excepções: também as há.
Se alguém está na política, nas instituições ou na Igreja, para aceder a uma «vida mais limpinha», não deveria ter entrado e não deve continuar. Não havendo vocação e sentido de missão, resulta ruína, como a do “insensato que edificou a casa sobre a areia”, usando a linguagem do Evangelho.
Sobretudo os políticos precisam saber que há vida para além da política.
Pude vivenciar a honra do regresso à verdadeira profissão, depois do cumprimento da acção política.
Mas, claro, é preciso haver profissão anterior.