Apesar das “trevas” que ainda perduram, como a guerra e a escravidão, a vitória será sempre do bem
A ressurreição de Jesus é a garantia de que o mal nunca triunfará e os cristãos têm a “missão” de difundir no mundo esta mensagem de esperança que nenhuma tragédia pode apagar, afirmou esta noite o Núncio Apostólico da Santa Sé, que presidiu à solene Vigília Pascal na catedral açoriana, em Angra do Heroísmo.
Apesar da coexistência das trevas e da luz, “no qual as trevas parecem ainda dominar sobre a luz, em que temos de lutar contra o mal e o diabo sabendo, porém, que Jesus sai vitorioso(…) cada batizado tem a missão de difundir no mundo e na história esta mensagem de esperança que nenhuma tragédia pode apagar”.
“Esta é a mensagem que devemos anunciar e testemunhar, dando prova de ter uma esperança inquebrantável porque fundada sobre Cristo Ressuscitado, primícia de uma nova humanidade chamada a ultrapassar as portas da eternidade”, esclareceu.
Na homilia da solene Vigília Pascal, a principal celebração do calendário litúrgico, composta por quatro partes- a Liturgia da Luz ou “lucernário”; a Liturgia da Palavra; a Liturgia Batismal e a Liturgia Eucarística- o prelado lembrou a “abundância e a riqueza” da Palavra de Deus que, como acontece em cada ano, foi proclamada nesta solene Vigília Pascal, e centrou a sua meditação na simbologia da luz.
“As trevas são o símbolo da morte, do maligno, do pecado, do desespero, do sofrimento, do castigo, da enfermidade, da escravidão, da violência, da guerra. São todas situações e experiências que fazem sofrer muito os seres humanos, pondo em risco a possibilidade de alcançar a salvação eterna à qual todos são chamados” explicitou o diploma.
“A luz que rasga as trevas é o símbolo de Jesus, que, através da sua paixão, morte e ressurreição, vence tudo o que é representado pelas trevas” explicitou ainda desafiando os cristãos a serem os missionários da boa nova.
“Anunciar que Jesus ressuscitou significa afirmar que a morte física não é mais a última palavra” e que “o diabo, que julgava ter vencido Jesus na trágica conclusão da morte na cruz, na realidade no dia de Páscoa é derrotado definitivamente”, uma inevitabilidade que ainda não se consumou plenamente porque se está a realizar uma grande luta entre a “irresistível força de salvação de Cristo, de um lado, e, do outro, as graves e múltiplas tentativas de sabotagem do diabo”. Entre os exemplos do mal, D. Ivo Scapolo fala, entre outros, do “sofrimento físico e espiritual”, na “doença, na escravidão e na “violência”.
“Não se pode esquecer que um dos objetivos do diabo é de conduzir as pessoas ao desespero, a desconfiar do amor de Deus, a deixar-se abandonar ao pessimismo, ao ódio, à inveja e a sentimentos de autodestruição” afirmou .
“A escravidão, à qual os homens reduzem outros homens, vê aparecer o momento da libertação” tal como “a “violência, que é apresentada como único método para resolver os problemas entre as pessoas, pode ser substituída pelo caminho da paz e da reconciliação; Jesus, com a sua entrega total na cruz, indicou o caminho do amor e da misericórdia para resolver as contendas humanas”.
“Com a ressurreição de Jesus inicia-se o resplandecer de um novo dia que se instaurará de maneira definitiva com o regresso glorioso e definitivo de Cristo”, concluiu.
Esta é uma celebração mais longa do que o habitual, em que são proclamadas mais passagens da Bíblia do que as três lidas aos domingos, continuando com uma celebração batismal e a comunhão.
Nos primeiros séculos, as Igrejas do Oriente celebravam a Páscoa como os judeus, no dia 14 do mês de Nisan, ao passo que as do Ocidente a celebravam sempre ao domingo.
O Concílio de Niceia, no ano 325, apresentou prescrições sobre o prazo dentro do qual se pode celebrar a Páscoa, conforme os cálculos astronómicos (primeiro domingo depois da lua cheia que se segue ao equinócio da primavera): de 22 de março a 25 de abril.
Em 1951, o Papa Pio XII determinou a celebração da Vigília Pascal de novo como nas origens, isto é, na noite do Sábado Santo para o Domingo da Páscoa; a reforma do Concílio Vaticano II (1962-1965) confirmou esta disposição.
Atualmente, é ordenado que a Vigília seja celebrada à noite, pelo menos depois que o sol se ponha, e antes do amanhecer de domingo.
A vigília começa com um ritual do fogo e da luz que evoca a ressurreição de Jesus; o círio pascal é abençoado, antes de o presidente da celebração inscrever a primeira e a última letra do alfabeto grego (alfa e ómega), e inserir cinco grãos de incenso, em memória das cinco chagas da crucifixão de Cristo.
A inscrição das letras e do ano no círio são acompanhadas pela recitação da fórmula em latim ‘Christus heri et hodie, Principium et Finis, Alpha et Omega. Ipsius sunt tempora et sæcula. Ipsi gloria et imperium per universa æternitatis sæcula’ (Cristo ontem e hoje, princípio e fim, alfa e ómega. Dele são os tempos e os séculos. A Ele a glória e o poder por todos os séculos, eternamente).
O ‘aleluia’, suprimido no tempo da Quaresma, reaparece em vários momentos da Missa, como sinal de alegria.
A celebração articula-se em quatro partes: a Liturgia da Luz ou “lucernário”; a Liturgia da Palavra; a Liturgia Batismal; e a Liturgia Eucarística.
A liturgia da Palavra “percorre a história da Salvação”, propondo sete leituras do Antigo Testamento, que recordam “as maravilhas de Deus na história da salvação” e duas do Novo Testamento: o anúncio da Ressurreição segundo os três Evangelhos sinópticos (Marcos, Mateus e Lucas), e a leitura apostólica sobre o Batismo cristão.
A Liturgia Batismal é parte integrante da celebração, pelo que mesmo quando não há qualquer Batismo, se faz a bênção da fonte batismal e a renovação das promessas, sublinhando uma história de salvação “concretizada” na vida da comunidade católica.
Do programa ritual consta, ainda, o canto da ladainha dos santos, a bênção da água, a aspersão de toda a assembleia com a água benta e a oração universal.
Esta Vigília teve transmissão em direto na RTP Açores.
(Fotos de Hugo Silva)