Ouvidor diz que a nova realidade sociológica exige novas formas de evangelização
A ouvidoria das Capelas, com oito paróquias e quatro sacerdotes, é hoje uma realidade “económica, social e religiosa diferente” afirma o ouvidor padre Hélio Soares.
“Há uma clara realidade sociológica, económica e até religiosa que é Capelas, Fenais da Luz e São Vicente e depois uma periferia mais rural que abrange todas as Bretanhas” afirma o sacerdote na entrevista ao Igreja Açores, que vai para o ar este domingo depois do meio-dia.
“As três paróquias mais urbanas têm uma realidade dormitório que é cada vez mais evidente e a própria especulação imobiliária tem efeitos na mutação social destas paróquias. E, já não é só nas novas urbanizações é também no coração da própria Vila das Capelas ou em São Vicente, por exemplo onde as propriedades vão sendo vendidas e há muita gente nova, que nada tem a ver com o lugar”, esclarece.
“Na zona das Bretanhas é o despovoamento”, destaca.
Diante desta nova realidade, o sacerdote afirma que há “novos desafios”.
“Cada vez mais há esta descaraterização que nos coloca grandes desafios. Temos de ir ao encontro: temos de aproveitar momentos cruciais da vida das pessoas, casamentos, batizados, funerais, missas de sétimo dia para nos encontrarmos com as pessoas, ou na catequese para estarmos com elas, pararmos e falarmos”. Senão “elas entram e saem e nós não sabemos quem são”.
“Um simples cumprimento à entrada e à saída” avança o sacerdote; “se não conheço pergunto quem é, como se chama e onde mora. É a oportunidade que eu tenho de falar, conhecer e saber esta geografia. A proximidade é muito importante”, refere ainda acrescentando também a vantagem “do convívio social”.
“É curioso que nalguns organismos da paróquia já começam a ser integrados estes novos capelenses, seja na Cáritas, nos Romeiros, na Comissão Fabriqueira, no Conselho Pastoral”, esclarece.
Mas, para o padre Hélio Soares, presente nesta ouvidoria há já nove anos, há três problemas comuns às zonas rural e urbana: a indiferença religiosa, um descompromisso e a perda de pessoas são “questões transversais à ouvidoria”. Depois há ainda “o problema da catequese”.
“Depois desta pandemia, nós ainda não fizemos uma reflexão sobre o novo método de evangelização, e não parecemos estar sensíveis a novas formas de evangelizar, que passam por movimentos e novas realidades eclesiais” avança o sacerdote.
“É preciso refundar movimentos ou criar novos. Temos paroquianos mas não temos movimentos e a igreja precisa deles”.
“Falta-nos uma análise profunda que esta caminhada sinodal poderia ter desenvolvido e que foi uma oportunidade que não foi aproveitada” sublinha lamentando que desde o principio não tenha havido uma clara percepção do que era pedido e do alcance desta iniciativa.
“Do ponto de vista teológico e eclesial, a caminhada sinodal é o caminho, mas cá pode não dar frutos porque não foi compreendida desde o seu nascimento” esclarece.
O sacerdote, na entrevista que vai para o ar este domingo no programa Igreja Açores, no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores, depois do meio-dia alerta para a “falta de agentes pastorais”; para a capacidade de fazer análises “mas também das dificuldades em encontrar soluções para os problemas” ou para o ritmo da Igreja que ainda não se adaptou ao ritmo da sociedade atual e , por isso, “muitas vezes estamos a trabalhar com análises de há dois anos e as coisas, entretanto, mudaram”.
Na entrevista o padre Hélio Soares fala ainda deste período de sede vacante, do problema que é a percepção da igreja como uma espécie de supermercado de serviços (os sacramentos) e da indiferença crescente em relação ao governo da diocese.