O pontificado do Papa Francisco, iniciado a 13 de março de 2013, é visto por três bispos portugueses como um tempo de grande impacto na vida da Igreja Católica e da sociedade.
“É admirável a atenção do Papa à família, a juventude, aos idosos, aos migrantes”, disse à Agência ECCLESIA D. Joaquim Mendes, presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família.
“É uma grande marca desde pontificado”, acrescenta o bispo auxiliar de Lisboa.
O responsável destaca a intervenção “notável” do Papa no processo de receção da exortação ‘Amoris Laetitia’ (2016), publicada após as duas assembleias sinodais dedicadas à família, e o seu empenho “numa pastoral intergeracional”.
“Investindo na família, estamos a investir na construção da Igreja, de forma sólida”, precisa.
D. Antonino Dias, bispo de Portalegre-Castelo Branco, faz uma avaliação “muito positiva” deste pontificado, destacando os “desafios” que o Papa tem lançado à Igreja Católica, para uma “renovação constante”.
“Foram nove anos inesquecíveis, que faziam falta à Igreja”, sustenta, realçando a “empatia” que Francisco foi capaz de criar a nível mundial, surgindo como uma “autoridade” moral.
“É um Papa desafiante”, assume.
D. Manuel Felício, bispo da Guarda, refere, por sua vez, que “o mundo está diferente” com este Papa, destacando a atenção que lhe é dedicada pelos media.
“As grandes propostas que ele faz são acolhidas”, indica.
O responsável elogia a “linguagem simples” de Francisco, capaz de “provocar” as pessoas.
“Espero que o seu apelo à paz, com esta guerra na Ucrânia, seja ouvido”, conclui.
O cardeal Jorge Mario Bergoglio foi eleito há nove anos como sucessor de Bento XVI, após a renúncia do agora Papa emérito, assumindo o inédito nome de Francisco; é também o primeiro Papa jesuíta na história da Igreja.
O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, então com 76 anos, entrou para o Conclave de 2013, a 12 de março, fora das listas de “papáveis” da maioria da imprensa e já a preparar-se para resignar ao cargo de arcebispo de Buenos Aires.
Já com as portas fechadas, na Capela Sistina, pelas 17h34 locais (menos uma em Lisboa), começava a escolha do sucessor de Bento XVI, com uma primeira ‘fumata’ negra, como esperado, pelas 19h41, durante mais de cinco minutos, acompanhada por milhares de pessoas na Praça de São Pedro.
No dia seguinte, contudo, após o quinto escrutínio, começou a sair fumo branco da chaminé colocada sobre a Capela Sistina, pelas 19h06 locais; só mais de uma hora depois, pelas 20h22, seria possível ver de branco o Papa que escolhera o inédito nome de Francisco, primeiro pontífice jesuíta e também do continente americano.
Jorge Mario Bergoglio nasceu na capital da Argentina a 17 de dezembro de 1936, filho de emigrantes italianos, e trabalhou como técnico químico antes de se decidir pelo sacerdócio, no seio da Companhia de Jesus (jesuítas), licenciando-se em filosofia antes do curso teológico.
Ordenado padre a 13 de dezembro de 1969, foi responsável pela formação dos novos jesuítas e depois provincial dos religiosos na Argentina (1973-1979).
João Paulo II nomeou-o bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992 e foi ordenado bispo a 27 de junho desse ano, assumindo a liderança da diocese a 28 de fevereiro de 1998, após a morte do cardeal Quarracino.
O primaz da Argentina seria criado cardeal pelo Papa polaco a 21 de fevereiro de 2001, ano no qual foi relator da 10ª assembleia do Sínodo dos Bispos.
Destacou-se pelo papel desempenhado na V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e das Caraíbas, em 2007, evento inaugurado por Bento XVI, o então presidente da Conferência Episcopal Argentina realçou a presença do Espírito Santo nesse momento eclesial, que deveria inspirar em todos os batizados o apelo a constituir “uma Igreja missionária, adoradora e transformadora”.
A Rádio Vaticano apresentava o novo Papa como “pastor das pessoas pobres, voz do que não têm voz, rosto dos que não têm rosto”, que confessa na Catedral como um “padre normal” e não tem medo, enquanto bispo e cardeal, de se “confrontar com as instituições quando tem de de defender a dignidade humana”.
A imprensa internacional começou por destacar o perfil simples de um cardeal que andava de transportes públicos e cozinhava as suas refeições; o Papa era conhecido ainda por ter ajudado a modernizar a Igreja Católica na Argentina e pela sua influência teológica na América Latina, onde reside a maior percentagem de católicos no mundo.
A agência AICA, da Conferência Episcopal Argentina, lembrava um bispo que colocou a arquidiocese de Buenos Aires em “estado de missão” e a levou a sair ao encontro “dos mais necessitados”.
Outros pormenores não demoravam a aparecer: “ex-basquetebolista, aficionado do tango”, “entusiasta pelos filmes de Tita Merello” (nome artístico da argentina Laura Ana Merello, 1904-2002), do “neorrealismo italiano” e simpatizante do San Lorenzo, equipa de futebol fundada por um padre.
Tem como lema episcopal ‘Miserando atque eligendo’, frase que evoca uma passagem do Evangelho segundo São Mateus: “olhou-o com misericórdia e escolheu-o”.
A primeira intervenção do Papa Francisco deixou, desde logo, várias mensagens fortes: “Sabeis que o dever do Conclave era dar um bispo a Roma: parece que os meus irmãos cardeais foram buscá-lo quase ao fim do mundo”.
O novo Papa surpreendeu os presentes ao pedir “um favor”, antes de dar a sua tradicional bênção neste encontro inicial, inclinando-se.
“Peço-vos que rezem ao Senhor para que me abençoe, a oração do povo pedindo a bênção pelo seu bispo. Façamos em silêncio esta oração”, declarou, conseguindo calar a multidão que se encontrava em festa há cerca de uma hora.
A primeira bênção seria, posteriormente, estendida a “todo o mundo, a todos os homens e mulheres de boa vontade”.
(Com Ecclesia)