Manifestantes apelam à paz
Cerca de 700 pessoas concentram-se “pela paz” na baixa de Ponta Delgada, nos Açores, em sinal de solidariedade para com os ucranianos, que estão “com o coração a arder”.
Sob a batuta de músicos ucranianos do Conservatório Regional de Ponta Delgada, numa atmosfera de emoção em que dezenas de ucranianos marcaram presença, Natasha Zagoruy, casada, de 47 anos, que reside em Ponta Delgada há 16 anos, sob o jorrar de lágrimas refere: “o meu coração está a arder muito”.
A ucraniana tem estado em contato com os seus familiares na Ucrânia através da internet e por outros meios disponíveis, mas isso não a tranquiliza, estando num “estado de alerta constante” perante a possibilidade dos seus familiares serem confrontado de forma direta com a ofensiva russa no país.
“No terceiro dia, quando se sabia que Kiev ia ser bombardeada com muita força, passei toda a noite em frente à televisão, com os nossos santos, rezando com Nossa Senhora de Fátima”, afirma Natasha Zagoruy, que diz que os seus familiares estão a conseguir manter a calma, evitando o pânico, apesar da ansiedade.
Já Oleksandr Dushivsky e sua esposa vivem em Ponta Delgada há mais de 20 anos e têm-se mantido em contato com os seus familiares, que “não esperavam que a Rússia ia entrar na terra ucraniana”, havendo quem na família quem considerasse que se tratava apenas de pressão psicológica.
A mulher de Oleksandr interrompe o momento de emoção do seu marido para referir que Putin o que pretende é que a Ucrânia “fique a seus pés”.
A jovem Oleksandra Okhrytm, de 27 anos, há seis meses nos Açores, onde conheceu o seu namorado, também ucraniano, está “de coração partido”, e todos os que estão a falecer neste conflito são membros da sua família, que “neste momento está longe da zona mais perigosa”, tendo contato diário com ela.
Maria Cristina Borges, presidente da Associação de Imigrantes dos Açores (AIPA), onde vários associados são ucranianos, considera que “não faz sentido que em pleno século XXI esteja-se a viver problemas desses”, apelando ao diálogo.
A AIPA e outras instituições, através da Câmara Municipal de Ponta Delgada, em parceria também com os bombeiros, estão a mobilizar meios para acolher refugiados, tendo já a autarquia criado uma linha de apoio.
Um grupo de açorianos criou entretanto um grupo de apoio nas redes sociais visando que os proprietários de espaços de alojamento local e de turismo os disponibilizem para os ucranianos que decidirem unir-se nos Açores aos seus familiares.
Entoando palavras de ordem como “pela paz e não à guerra”, as centenas de pessoas que se concentraram na baixa de Ponta Delgada empunhavam cartazes a convidar Putin a sair da Ucrânia e a apelar a um fim do conflito.
A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já mataram mais de 350 civis, incluindo crianças, segundo Kiev. A ONU deu conta de mais de 100 mil deslocados e quase 500 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a “operação militar especial” na Ucrânia visa desmilitarizar o país vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário.
(Com Lusa)