Por Renato Moura
Nos últimos dias o Papa Francisco abordou dois temas, ambos importantíssimos: cuidados de saúde e valorização dos idosos.
No Dia Mundial do Doente, sob o tema «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso» (Lc 6, 36), advertiu “Há ainda um longo caminho a percorrer para garantir a todos os doentes, mesmo nos lugares e situações de maior pobreza e marginalização, os cuidados de saúde de que necessitam e, também, o devido acompanhamento pastoral”.
E anunciou já o tema para o II Dia Mundial dos Avós: «Dão fruto mesmo na velhice». Considerando os idosos como pessoas “tão frequentemente deixadas às margens das famílias, das comunidades civis e eclesiais”, evidenciou “A experiência de vida e de fé deles pode contribuir, com efeito, para construir sociedades conscientes das suas próprias raízes e capazes de sonhar um futuro mais solidário”.
São afirmações para o universo, mas intimam à reflexão: todos, aqui e além.
É indiscutível a relação entre doença e idade; e a pobreza a interferir negativamente.
Não está em causa a qualidade de muitos dos serviços oficiais de saúde, dos lares, de tantos dos seus profissionais. Vão bastas vezes além da profissão e até à missão. Há excepções, algumas têm a ver com questões de humanidade. Muitas resultam de orientações das cúpulas. Os doentes e os idosos, para além das suas condições próprias, sofrem a solidão do afastamento dos seus familiares e entes queridos. Mesmo em período de pandemia, se um idoso ou doente com outra patologia, devidamente testado, só pode ser visitado por um único familiar também testado, em certos dias e por um período de 15 minutos, quem o determinou está desprovido de sentimentos humanitários e de senso moral. Tratar não é apenas ministrar medicamentos. Cuidar não é só dar comida e banhos.
Cabe-nos intervir, pelo menos na proximidade, lutando para que a garantia de acolhimento e tratamento de qualidade, com dignidade, não dependa do dinheiro.
Reconhecendo a formação académica dos jovens e sem querer retirar-lhes a capacidade de criatividade e inovação, ser-lhes-ia útil apreenderem, sem complexos, com respeito, a sabedoria dos anos, como diz Francisco: “ligados aos avós, que são como raízes, das quais extraem a linfa dos valores humanos e espirituais”.
“Há um mundo inteiro que deve ser reconstruído a partir dos seus fundamentos, que deve ser transformado de selvagem para humano, de humano para divino, de acordo com o coração de Deus”, assim como escreveu o Papa Pio XII, já em 1952, na “Proclamação por um Mundo Melhor”.