Por Renato Moura
O Partido Socialista foi para eleições pela esperança de conseguir uma maioria absoluta. Consciente da má fama das maiorias absolutas, estrategicamente oscilou entre o desejo e a confissão. Acabou ganhando com maioria absoluta; e nunca se ganha só por mérito ou estratégia própria, também com a falta de talento de adversários decisivos.
Alvoraçado pelo susto de tanta gente, António Costa apressou-se a conjurar: “Uma maioria absoluta não é o poder absoluto, não é governar sozinho”; e anunciou uma maioria de diálogo e promoção de consensos com os partidos, na concertação social e no conjunto da sociedade. Prometeu, quando indigitado, ouvir todos os partidos, menos o Chega, partido ao qual, goste-se ou não, o povo deu 12 deputados! Foi o primeiro sinal!!!
A audição, em política, visa resultados; não é uma mera formalidade. O diálogo de nada vale, se não houver desejo de buscar entendimento, ou algo proveitoso.
A maioria absoluta só é interessante para quem a tem. A ânsia e a tentação de a conseguir dá sinais absolutamente preocupantes. A prática e as consequências das maiorias absolutas estão historicamente demonstradas. Estamos fartos de assistir, em maiorias absolutas, às governamentalizações dos parlamentos, apesar de isso ferir a Constituição e os Estatutos.
A maioria absoluta só poderia não ser um risco se os governos respondessem perante os parlamentos e os deputados da maioria tivessem a liberdade e a coragem de tomar posições firmes: perante o Chefe do Governo, o qual sendo simultaneamente chefe do partido, vira chefe dos deputados! Já o disse institucionalmente, em Maio de 1991. O risco é acrescido quando os deputados fizerem do cargo a sua profissão; provavelmente o primeiro emprego.
Abanar a estabilidade duma maioria absoluta, como caução de democracia e sucesso, é uma falácia. E estabilidade não é garantia de segurança. Pode significar manter tudo silencioso, duradouro e inalterável. Na cauda da Europa!
Fiar em Marcelo? O homem oriundo do PSD que levou ao colo a esquerda?! Que ficará para a história como dez anos Presidente de direita e só com governos de esquerda?!
Há a oposição. Só tem valor se é boa e não for deixada para a campanha eleitoral, como agora deu para entender. Há a comunicação social se puder ser competente e livre. E há a opinião pública, se não for comprada.
Os eleitores escolheram. Mantenha-se a esperança. Mas nenhum cidadão se pode dispensar do dever de, perante a força, manter a vigilância, expressar as concordâncias com o bem e os desacordos face ao mal.