O ex ministro participou numa conferência em Ponta Delgada
A crise que o país e o mundo atravessam deve-se à falta de valores éticos e morais, disse o ex ministro das finanças e da segurança social, António Bagão Félix, que foi o orador das II Jornadas de Outono, que se realizaram esta sexta-feira à noite, em Ponta Delgada, ilha de São Miguel, numa iniciativa promovida pelo Serviço Diocesano da Pastoral Social.
“A crise porque passamos deriva do facto de haver uma erosão ética e moral porque algumas pessoas não foram o que deveriam ter sido e deixaram que se fragmentasse a fronteira entre o bem e o mal. E, quando nós construímos uma sociedade, onde não se consegue distinguir o bem e o mal, e somos marcados pela indiferença estamos a criar uma amiba perigosa”, referiu Bagão Félix na conferência sobre o papel do Estado à luz da Doutrina Social da Igreja.
Para o atual comentador da Sic Notícias, a falta de valores ético morais provocou “uma fragmentação social”, que “é perigosa” e isso deriva do facto de, cada vez menos “as pessoas interessarem”.
“Somos indivíduos, cidadãos com direitos e deveres mas esquecemo-nos de ser pessoas, que é o conjunto de atributos que está para além do nosso cartão de cidadão”, refere lamentando que hoje “toda a gente ache que tem mais direitos do que deveres”.
Bagão Félix começou por elencar os três princípios basilares da Doutrina Social da Igreja- o primado da pessoa, a prossecução do bem comum e o destino universal dos bens- e a forma como se articulam a partir da noção de subsidiariedade.
“O Estado existe para servir a sociedade e não o contrário. Mas o Estado, também não pode ser a fada para resolver todos os males. Isso é uma perversão e põe em causa a noção de distribuição equitativa dos bens por todos”, disse Bagão Félix sublinhando o exemplo da educação.
De acordo com o ex ministro, as famílias “demitiram-se” das suas responsabilidades e confiaram ao estado a tarefa educativa quando lhe deveriam ter reservado apenas a do ensino.
“A escola é importante mas é apenas uma parte da educação, pois a parte principal está em nós, na nossa autoridade de pais, no testemunho, no exemplo” frisa Bagão Félix.
“Quando se desrespeita o principio da subsidiariedade compromete-se a equidade e a justa distribuição de bens e recursos”, conclui o ex ministro do emprego e Segurança Social.
Outro exemplo da falta de valores e da “relativização das coisas” prende-se com o endividamento.
“Convidaram-nos a endividar- na maioria das vezes por coisas inuteis- e desconsiderámos a poupança, como retribuição geracional. O resultado está à vista: o empobrecimento generalizado”.
A conferência sobre o Papel do Estado na Doutrina Social da Igreja foi proferida no âmbito das II Jornadas de Outono, organizadas pelo Serviço Diocesano da Pastoral Social. (Condefência disponível em formato audio – Clique aqui para aceder»»»)
Para o responsável, Pe Cipriano Pacheco, “é uma temática que não podia ser mais actual dada a situação económica social e política” do país e do mundo, “ sem esquecer a pertinência e o alcance dos princípios, e dos valores que decorrem da Doutrina Social da Igreja, que, de resto, nem sempre foi um assunto muito trabalhado nas próprias comunidades cristãs”.
As primeiras jornadas de primavera, realizaram-se em 2013 e debateram A Crise Actual: Contributos da Igreja para um Outro Desenvolvimento Social e Económico e contaram com as presenças de Manuel Brandão Alves, Isabel Allegro de Magalhães, João Menezes, Rogério Roque Amaro e José Francisco Portela.
Já as Jornadas de Outono de 2013 decorreram sob o tema “Novas Estratégias Para a Prevenção e Erradicação da Pobreza – À Luz da Doutrina Social da Igreja”, nas quais participaram Alfredo Bruto da Costa e José Manuel Pureza.
Este ano, as II Jornadas de Primavera tiveram como temática “O Estado Social e a sua relação com a Doutrina Social da Igreja”, contando com a presença de Eduardo Paz Ferreira.