“Sinto uma grande vontade de me lançar ao terreno, de começar esta missão”

Bruno Espínola é o 51º presbítero ordenado pelo atual Bispo de Angra.

Bruno Espínola tem 27 anos, é natural da Guadalupe, ilha Graciosa. É o 51º presbítero ordenado pelo atual Bispo de Angra. Fez a sua preparação no Seminário Episcopal de Angra nos últimos seis anos. Fala na primeira pessoa ao Portal da Diocese sobre o ministério, a cultura do encontro e o serviço ao próximo

 

Portal da Diocese(PD)- Como é que descreveria o sentimento que o invade nesta altura?

 

Bruno Espínola- Invadem-me neste momento vários sentimentos e emoções, no entanto os sentimentos que ressalvo são o da responsabilidade e da fidelidade…responsabilidade para com aquilo que o próprio Senhor e a Igreja me confiaram e fidelidade a esse mesmo mandato.

 

PD- Chega ao fim de uma etapa mas o desafio maior ainda está para chegar. Como é que encara o momento seguinte? 

Bruno Espínola- É com alguma ansiedade que espero pelo momento de me encontrar com as comunidades que me forem confiadas. Durante este tempo em que vivemos e nos formamos no seminário acompanhou-nos o sonho de servir o povo de Deus. Mesmo durante este tempo já rezávamos por elas. Agora é o momento de concretizar o sonho: servir com Cristo, em Cristo e por Cristo.

 

PD- Qual é o seu principal receio? 

Bruno Espínola- O meu principal receio…? Com Deus tudo, sem Deus nada! O meu principal receio é esquecer-me desta afirmação, porque Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos. Por isso, peço a Deus que me capacite sempre para que eu possa fazer a Sua vontade e não a minha, que não sou auto-suficiente, só Ele é o Belo Pastor.

 

PD- Esteve seis anos no Seminário. Sente-se preparado para enfrentar os desafios que se colocam a um líder de uma comunidade paroquial? 

Bruno Espínola– Preparado não tenho bem a certeza, no entanto tenho a certeza que me foram colocados à disposição pelo Seminário Episcopal de Angra todos os meios possíveis, e ao seu alcance, para me formar líder de uma comunidade paroquial. Partilho que sinto uma Grande vontade de me lançar ao terreno, de começar esta missão.

 

PD- Há um professor seu que diz muitas vezes que, em certo sentido, o seminário serve para formar padres, não Doutores. Considera que teve uma boa formação para enfrentar com tranquilidade o ministério sacerdotal?

Bruno Espínola- Concordo que o seminário existe para formar padres ou pastores. Ser doutor não se sobrepõe ao ser padre, é uma formação que deve acompanhar o ser padre. Precisamos também de padres formados. No entanto, acho que se quer padres doutores e não doutores padres.

Como já referi o Seminário oferece um exausto e longo plano de formação na dimensão humana, espiritual, intelectual e pastoral, para tal também conta com um vasto leque de professores, na sua maioria padres formados e alguns leigos.

Por isso, acho que tive uma boa e rica formação. No entanto, parte de cada um assimilar essa formação, contra mim falando.

 

PD- No último Conselho Presbiteral foi unânime a preocupação da hierarquia diocesana em acompanhar mais os sacerdotes mais novos que muitas vezes chegam às paróquias e são como que abandonados. Já fez trabalho “de campo”, tem esta noção?

 

Bruno Espínola- Com a Ordenação Presbiteral, o Seminário deixa de ter responsabilidade para com o novo presbítero porque a sua função termina. Pode parecer que aquela instituição que até agora foi nossa mãe, nos deixou órfãos. Não acredito que sejamos abandonados, todavia admito que possa haver um choque nos primeiros tempos de vida paroquial, o estar só pode levar ao sentimento de abandono. Mas, pelo pouco que ainda pude ver, os colegas sacerdotes mais velhos costumam acolher bem os novos padres.

 

PD- Que tipo de acompanhamento gostaria de ter nestes primeiros tempos da sua ordenação? 

Bruno Espínola- Acho que é fundamental, como acabei de referir, o acolhimento dos padres da mesma zona ou ouvidoria, não esquecendo claro o bom acolhimento por aqueles a quem serviremos, o que nos dará obviamente a alegria para servir: a alegria do Evangelho.

 

PD- Hoje ser padre é diferente do que era há algum tempo atrás. As populações são mais esclarecidas e exigentes. Mas ao mesmo tempo também mais indiferentes e menos comprometidas com a religião e sobretudo com a igreja. Ciente destas dificuldades qual vai ser a sua estratégia?

Bruno Espínola- Por isso, é importante uma boa formação no Seminário… Todavia, esta formação não acaba aqui, a sociedade exige muito do padre e somos chamados a estar preparados para dialogar com todo o tipo de pessoas, segundo a sua formação. Por isso é importante o estudo pessoal.

 

 

PD- É um jovem com 27 anos. Neste primeiros tempos de ordenação que tipo de paróquia gostaria de liderar?

Bruno Espínola- Uma pergunta difícil. No entanto, só existem tipos de paróquias quando se fala de territorialidade. Aprendi com alguns padres que não existem paróquias perfeitas, mas também não existem paróquias imperfeitas.

 

PD-  No último Conselho Presbiteral falou-se muito da Exortação Apostólica do Papa Francisco. Na Alegria do Evangelho ele interpela muito os sacerdotes. Como é que vê estas interpelações e como é que as vive?

Bruno Espínola- São interpelações muito concretas. E das muitas que o Papa Francisco nos faz chamou-me a atenção o convite que nos lança a sermos próximos do povo que nos foi confiado, a sabermos acolher. Neste tempo de crise acho que é necessário estarmos atentos, vigilantes como nos pede o Evangelho, porque só assim poderemos perceber e conhecer as pessoas, para além disso, estar vigilante permite agir onde for necessário ao jeito do bom samaritano.

 

PD- Será o 51º sacerdote a ser ordenado pelo atual Bispo de Angra, o decano dos bispos portugueses. Como vê a organização da Igreja nos Açores?

Bruno Espínola- Acho que está bem organizada, tem mecanismos próprios de apoio e de resposta às necessidades pastorais. Todavia temos uma característica que não é comum a quase todas as dioceses do país, o facto de sermos ilhas, algo que muitas vezes pode dificultar a consciência de pertença a esta diocese dos Açores. Podemo-nos cingir apenas  ilha em que vivemos.

 

PD- Qual é para si o principal desafio diocesano dos próximos tempos?

Bruno Espínola- O desafio é sempre o mesmo: é levar a Boa Noticia da ressurreição por todo o mundo, tornando todos irmãos em Cristo pelo baptismo. É este o desafio que Deus, por Cristo confiou à Igreja e a todos aqueles que O querem servir. Entretanto o mundo está cada vez mais exigente, por outro lado, também indiferente às coisas de Deus. Toda a Igreja, é chamada a rezar em conjunto para que o seu agir seja a vontade de Deus em favor dos homens. Foi assim que Jesus fez, antes de cada acção, antes de cada agir, rezava ao Pai antes de se cumprir a vontade do Pai e não a Sua. Por isso acho que o grande desafio á Igreja diocesana e mesmo à Igreja Universal é “estar com“, ou seja, uma Igreja em comunhão, porque o pão que comemos é o pão de unidade, e só juntos caminharemos rumo à Salvação oferecida em Jesus Cristo, nosso pastor.

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