Relatório da intervenção de conservação e restauro da peça que está em exposição no Museu Nacional de Arte Antiga aconselha a medidas “preventivas urgentes”
O Resplendor do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que se encontra exposto no Museu Nacional de Arte Antiga, integrando desde o passado dia 24 de setembro a exposição Splendor et Gloria, apresenta “risco de estabilidade futura”.
O alerta é deixado pelo relatório feito depois da limpeza da peça, efetuada pelo Laboratório José de Figueiredo, sob orientação do Museu Nacional de Arte Antiga, a que o Sítio Igreja Açores teve acesso esta quarta feira.
O documento aponta “graves problemas ao nível da fixação das pedras (gemas)” cuja “estabilidade futura pode estar comprometida” .
“Se numa primeira observação o estado de conservação do Resplendor do Senhor Santo Cristo dos Milagres poderia ser considerado bom”, quando se procedeu à limpeza mais profunda verificou-se a existência “duma camada de poeiras, mais ou menos aderentes, sobre toda a superfície de ouro e pedras, pontualmente pingos de cera de velas, e as cravações de prata assim como o reverso encontravam-se muito oxidados”.
Além disso, prossegue o relatório dos técnicos do Laboratório “a observação mais atenta e a desmontagem do centro do resplendor permitiu verificar que este Já tinha tido algumas intervenções ao nível do suporte e dos elementos decorativos aplicados”.
“O ouro em algumas zonas apresentava fissuras que tinham sido reforçadas no interior inadequadamente, talvez com solda de chumbo/estanho, tendo sido fixadas com a mesma solda alguns elementos decorativos”, avança ainda o relatório.
“Algumas peças destacavam-se facilmente das cravações, havendo falta de pedras”, como aliás já tinha sido avançado preliminarmente por Galopim de Carvalho, no relatório que antecedeu o empréstimo da peça e que inventariava a quantidade, natureza e valor das gemas presentes nesta Jóia, que integra o tesouro do Senhor Santo Cristo dos Milagres.
Dado o curto espaço de tempo para efetuar a intervenção de conservação numa peça com estas características, com aproximadamente 7019 gemas, “não foi possível retificar a fixação de todas as pedras pelo que pode estar em risco a sua estabilidade futura”, conclui o relatório do laboratório, que deixa um conjunto de recomendações.
“Após o término da exposição o Resplendor deveria regressar ao Laboratório para que a fixação das gemas nos engastes seja estabilizada”, conclui o relatório que sublinha a necessidade urgente de uma grande intervenção antes do Resplendor regressar para junto da imagem.
O Resplendor integra neste momento e até ao dia 31 de outubro a exposição do Museu Nacional de Arte Antiga, data em que está definido o seu regresso à região conforme consta do protocolo entre a Diocese e o Museu.
Qualquer alteração a esta decisão do Bispo de Angra, que se comprometeu com o Santuário que a peça estaria novamente junto da imagem no dia do Cristo Rei (23 de novembro), teria de passar pelo assentimento do Reitor do Santuário, Monsenhor Augusto Cabral, depois de ouvidos o Conselho Administrativo do Santuário e a Irmandade do Senhor Santo Cristo, entidades ouvidas também pelo Bispo de Angra antes de autorizar o empréstimo temporário da peça para a exposição.
De resto, este relatório é do conhecimento dos responsáveis pelo Santuário que têm agora a última palavra sobre o restauro desta jóia emblemática do tesouro do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que não poderá ser feito em Ponta Delgada.