o 39º bispo de Angra é formalmente a partir do hoje o bispo titular de Viana do castelo, deixando a diocese insular
O bispo eleito de Viana do Castelo, João Lavrador, alertou hoje para os “interesses que açambarcam tudo” e apelou à sociedade para que, através do caminho da solidariedade, reconstrua “uma nova humanidade” afetada por um “virusinho” (SARS-CoV-2).
João Lavrador, que respondia aos jornalistas durante uma conferência de imprensa de apresentação, no Centro Pastoral Paulo VI, em Darque, disse que a pandemia de covid-19 colocou a sociedade perante “um duplo caminho”.
“Estivemos todos sujeitos às mesmas regras por causa de um virusinho. Esta solidariedade que nos foi pedida, a partir do vírus, não poderia ser aproveitada agora para nós, conscientemente, livremente, humanamente, desenvolvermos uma nova realidade, com maior equidade, maior solidariedade e fraternidade?”, questionou.
“Seria uma leitura ótima para darmos um salto extraordinário e termos uma sociedade totalmente diferente […]. Mas não podemos ter ilusões. Os interesses do mundo arranjam todas as suas artimanhas para açambarcar, e não olham à condição da pessoa, para acumular para si próprios”, insistiu.
Em alternativa, o caminho na construção de uma “nova humanidade” passa por “deixar assaltar tudo”.
“Se puderem açambarcar todos os fundos – para este, para aquele e por aí fora. Graças a Deus, vamos tendo estruturas na sociedade que vão denunciando estas situações e a comunicação social tem aí um papel muito importante, de estar atenta e ver os meandros que isto pode muitas vezes levar, mas com cuidado porque isto pode ser, muitas vezes, encapotado”, alertou.
João Lavrador, que no domingo presidirá à eucaristia de entrada solene do novo bispo, na Sé Catedral, com a presença de autoridades civis, eclesiásticas e militares, disse ainda estar “preocupado com o grau de marginalidade” da “sociedade moderna, de um Ocidente que quer mostrar-se como baluarte do modernismo e onde depois aparecem gritos terríveis”.
“Vejamos os refugiados. Estamos a lidar tão mal com isto. Já devíamos ter aprendido porque estamos há vários anos com esta situação. Ainda não fomos capazes de encontrar uma resposta séria para uma realidade destas, que é um grito, um grito em várias direções”, destacou.
João Lavrador afirmou estar consciente da época “extremamente difícil” em que inicia o seu ministério e referiu que orientará a sua ação através de três premissas: “escutar, dialogar e discernir”.
“Estamos num tempo às vezes muito baralhado, em que se entrecruzam muitos interesses e também, ao mesmo tempo, o desejo de valores. No meio disto tudo é preciso discernir o que é bom, o que interessa, o que pode defender a realidade humana, o que temos de valorizar como verdadeiro”, alertou.
“Nós sabemos que os interesses mundanos, muitas vezes, fazem uma capa de adorno. É o que se faz quando se quer colocar um produto que não é tão atrativo. Faz-se um bom embrulho para que possa ser atrativo. A nossa sociedade, muitas vezes, também faz isso. Determinados interesses querem levar o produto e é preciso um discernimento muito sério para ver o que está por atrás da capa ou do embrulho”, defendeu.
A nível nacional, afirmou estar preocupado com “a pobreza, os sem-abrigo, os que trabalham e que não tem o mínimo necessário para a subsistência da sua família”, e com a “mentalidade antinatalidade que se projeta numa sociedade envelhecida” e que tem de ser “rejuvenescida”.
Sobre a diocese de Viana do Castelo, que abrange os 10 concelhos do Alto Minho, sublinhou querer “conhecer a alma do povo” da região.
No imediato, quer reunir-se com a Cáritas Diocesana, para encontrar soluções em relação “à muita pobreza e ao aumento dos pedidos de ajuda das famílias”.
Pretende ainda reunir-se com outras entidades como o hospital e as misericórdias para equacionar a forma de enfrentar os problemas sociais da região.
“Gostaria muito de acompanhar todas as áreas profissionais. Onde estão as pessoas, onde lutam, onde se condensam muitas das suas aspirações. Não sei muito bem como se pode fazer isso, porque muitas vezes as áreas profissionais confundem-se com as áreas político-partidárias. Preciso ter cuidado porque não gostaria de dar a mínima sensação de que não estou a ter a mesma relação com todos os partidos, porque todos são importantes”, adiantou
(Com Lusa)