O novo bispo de Viana do Castelo disse querer ser “uma pessoa do Concílio Vaticano II”, assumindo que o “tempo novo” que se está a viver tem dificuldades e exigências próprias, para a Igreja Católica.
“Estes tempos entre a saída dos Açores e a entrada na Diocese de Viana foram para mim um certo tempo de sínteses e de me perguntar como é que sou pastor, como é que fui pastor, como é que quero ser. Dentro dessa riqueza toda que é este acumulado de vida pastoral, quero ser uma pessoa do Concílio Vaticano II”, disse D. João Lavrador à Agência ECCLESIA.
Para a nova diocese, o bispo leva na bagagem “a aspiração daquilo que vai encontrar, há todo um sonho”, e sublinha que quer conhecer “a alma da diocese, do povo, da riqueza da cultura”.
“Levo também este sentido de não querer de alguma maneira reproduzir o que eu fui noutro lugar, gosto de levar esta riqueza para agora ser como que um manancial. É como uma bagagem que levamos e vai ser adaptada, vai entrar na riqueza daquilo que é a realidade”, desenvolveu.
D. João Lavrador evoca a “experiência muito rica” que foi acumulando ao longo do tempo, em particular “experiência pastoral como bispo”, como auxiliar na Diocese do Porto, de 2008 a 2015, e, nos últimos seis anos, na Diocese de Angra, de onde traz também “a saudade”.
A religiosidade popular e as suas grandes manifestações são uma imagem de marca no Alto Minho e o bispo diocesano salienta que a religiosidade popular tem “algumas vantagens extraordinárias em termos de evangelização”, elementos que aproximam da Igreja, “da verdadeira fé”.
“Quando olhamos para uma tradição, para uma forma de exprimir do povo na sua comunidade, que chamamos religiosidade popular, vemos algo que foi passando de geração em geração, e há modelos, há formas, há critérios”, desenvolveu, recordando que na exortação apostólica ‘Evangelii Nuntiandi’ (1975), o Papa Paulo VI explica que “o Evangelho não fica cingido a uma cultura, mas precisa da cultura para se exprimir e para se expandir”.
No âmbito do percurso sinodal que a Igreja está a viver desde outubro até 2023, o bispo revela que foi com “muito entusiasmo” que viu esta proposta do Papa Francisco, e recorda que, há quatro anos, lançou um sínodo na Diocese de Angra.
“Penso que estamos num tempo novo, que cria alguma dificuldades, toda a novidade traz sempre as suas dificuldades: Exige desinstalação, exige novos horizontes, exige novas linguagens. Há aqui uma aprendizagem”, realçou, assinalando que o Papa quis dar “predominância à escuta, mas segundo a intuição do espírito, também num sentido de discernimento”.
Segundo D. João Lavrador, estes tempos novos exigem também uma “fidelidade nova, muito mais requintada”, e é a própria sociedade que “está a obrigar a Igreja a ter essa fidelidade”, observando que “não é um Evangelho novo”, porque o Evangelho é de Jesus Cristo e “é sempre novo naquilo que ele tem de mais genuíno”.
O bispo diocesano destacou também a “prioridade aos mais excluídos” e a atitude de acolhimento de Jesus, para afirmar que a “Igreja não pode deixar de acolher a todos” e “olhar pelo pobre, pelo excluído, pelo marginalizado”, sendo exemplo para a sociedade e “provocar que têm responsabilidades a nível do poder”.
A cerimónia de tomada de posse do novo bispo decorre às 12h00 deste sábado, em Darque; já no domingo tem lugar a entrada solene de D. João Lavrador, na Sé de Viana do Castelo, pelas 15h30.
A entrevista ao novo bispo de Viana do Castelo vai estar em destaque no Programa ECCLESIA deste domingo, pelas 06h00, na Antena 1 da rádio pública.