Igreja católica celebra semana das migrações de 10 a 17 de agosto.
Nos Açores residem 3600 trabalhadores imigrantes, maioritariamente ocupados na construção civil e muito concentrados em Ponta Delgada apurou a Agência Lusa junto da Associação dos Imigrantes dos Açores, AIPA.
No concelho de Ponta Delgada, o principal problema hoje é o desemprego, devido à crise na construção civil.
“O esforço que estamos a tentar fazer, em conjunto com outras entidades, situa-se a dois níveis, no sentido de garantir apoio a situações de emergência e fazer com que possam ter outra mobilidade profissional, que passa também por dar estas competências profissionais a estes imigrantes”, disse Paulo Mendes, responsável da AIPA, em declarações à agência Lusa.
Paulo Mendes disse que esta tem sido “a principal preocupação aqui também em Ponta Delgada”, que “resulta de uma situação estrutural”, mas que “afeta de uma forma particular a população imigrante que reside no concelho”.
A maior cidade açoriana assinala na sexta-feira o Dia Municipal do Imigrante e do Diálogo Intercultural, instituído pela autarquia em 2013, na sequência de uma sugestão apresentada pela AIPA, através do CLAII, com o objetivo de dar visibilidade aos imigrantes residentes no concelho e valorizar a multiculturalidade que existe em Ponta Delgada.
Leoter Viegas, coordenador do Centro Local de Apoio à Integração de Imigrantes (CLAII), frisou que “há quatro ou cinco anos, o maior problema era a questão da legalização”.
“Hoje em dia, isto já não se coloca em grande número e o problema aqui é a questão do desemprego e a precariedade económica. Alguns imigrantes não recebem ou RSI ou subsídio e o apoio social é crucial aqui para minimizar a situação”, salientou, acrescentando que o CLAII conta com espaços em Ponta Delgada (ilha de São Miguel) e Angra do Heroísmo (Terceira).
Na maior cidade açoriana, faz “uma média de 25 a 30 atendimentos por mês e, basicamente nos últimos dois anos, tem sido procurado exatamente na área de apoio social”.
Segundo Leoter Viegas, o concelho acolhe hoje “imigrantes de mais de 60 países diferentes” e daí a importância de institucionalizar este dia.
O Dia Municipal do Imigrante e do Diálogo Intercultural em Ponta Delgada vai ser assinalado este ano na sexta-feira com uma conferência sobre “Migrações, Interculturalidade e Políticas Públicas Municipais”, por José Malheiros.
A autarquia instituiu o dia 15 de julho como Dia Municipal do Imigrante e do Diálogo Intercultural.
Paulo Mendes sublinhou a importância das autarquias “assumirem também, enquanto poder local, a responsabilidade de desenvolver políticas ativas de integração dos imigrantes”.
A Igreja católica açoriana também está preocupada com o problema . A pouco menos de um mês de celebrar a Semana Nacional das Migrações, que tem como ponto alto em Ponta Delgada, onde residem 36% dos estrangeiros nos Açores, oriundos de 60 nacionalidades, a realização de uma Eucaristia de ação de graças, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, a igreja católica sublinha as situações de “vulnerabilidade social” em que se encontram muitos destes trabalhadores.
Ainda recentemente, depois de um encontro entre os responsáveis diocesanos nacionais pelas migrações, a Igreja Católica alertou para situações de exploração laboral e de tráfico de pessoas, como consequência da atual crise económica, a nível nacional.
“Os casos de exploração sexual, servidão doméstica, exploração laboral, mendicidade e adoção ilegal, que se verificam em Portugal mostram que a atuação ao nível internacional não dispensa a intervenção local e o empenhamento das comunidades”, referem as conclusões do Encontro Nacional de Secretariados Diocesanos de Migrações, que decorreu em Tomar, no inicio deste mês de julho.
Segundo os participantes, “o desprezo pela dignidade da pessoa humana, a pressão económica que incide sobre as empresas que procuram mão-de-obra barata e as situações de vulnerabilidade social potenciam o tráfico de seres humanos e os mais diversos tipos de exploração”.
“Numa Europa em crise, cansada e desgastada, em que os compromissos financeiros parecem ser o único critério de orientação, julgamos necessário afirmar novamente o valor absoluto da dignidade da pessoa humana que deve ser o eixo principal das políticas migratórias e de asilo”, advertem os responsáveis católicos.