Vá-se lá saber porquê

Por Renato Moura

A Assembleia da República acaba de reprovar a proposta de orçamento do Governo para 2022. Embora seja a primeira vez, não tem nada de anormal; só se surpreendem os governos habituados à menorização dos parlamentos. Neste caso só votaram a favor os deputados do PS.

Foi António Costa a querer ser 1.º Ministro sem acordo escrito com os partidos de extrema-esquerda. Já o ano passado prescindira do apoio do BE. Sabia que este ano precisava do PCP para passar o orçamento. Entretanto também recusara absolutamente o eventual apoio do PSD.

Neste momento político o PCP vive sob a tormenta de ter perdido muito terreno nas eleições autárquicas. O PSD e o CDS/PP estão instáveis, pois ambos em processos de disputa cruel de lideranças e à beira de realização de congressos previsivelmente atribulados.

O Presidente da República queima etapas, vaticina a realização de eleições antecipadas se o orçamento não for aprovado. Como se sentirão os conselheiros de estado quando forem ouvidos acerca de um tema cuja decisão já está tomada?! Só a ânsia de protagonismo levou um autoproclamado constitucionalista a ir tão longe, falando antes do tempo; ou então o quê?!

Os partidos da extrema-esquerda acusam agora o Governo – tantos anos parceiro – de prometer e não concretizar, de contratualizar e não cumprir, de orçar e não realizar. Como diria o povo “zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades”! Desfeita a aliança de esquerda, o Governo e o PS contra-atacam criando a tese de quem estiver contra o orçamento, estar contra Portugal!

Neste caldo político discursa o Governo no Parlamento, perfeitamente consciente dum resultado rigorosamente expectável. Procurou insistentemente, ao longo do debate, o ambiente de vitimização: para os portugueses e para o Governo socialista; como se fossem donos de Portugal!

Há seguramente portugueses a meditar, a perguntar: “vá-se lá saber porquê… e agora”, se pelos interesses partidários, se pelos portugueses?!

António Costa fechou a discussão da proposta de orçamento declarando desejar uma maioria reforçada (entenda-se absoluta) nas próximas eleições. E sem se demitir, dispondo-se a governar por duodécimos.

E no dia seguinte já o Secretário de Estado Adjunto do 1.º Ministro tomava todos os portugueses como estupefactos, mas serenava da reprovação do orçamento, pois o Governo manterá todos os poderes essenciais, nomeadamente os relativos ao Plano de Recuperação e Resiliência.

“Vá-se lá saber porquê” é quanto os portugueses têm de entender, de todos, para decidir, quando for tempo.

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