Livro de José Carvalho conta a visita do Santo Padre a Portugal. O Sítio Igreja Açores coloca a descrição na primeira pessoa
“O Papa Paulo VI (1963-1978), de seu nome Giovanni Montini- beatificado hoje, pelo Papa Francisco, em Roma- foi o primeiro Pontífice a pisar o território de Portugal”.
Veio a Fátima no dia 13 de Maio de 1967 para assinalar os 50 anos das Aparições de Nossa Senhora (1917-1967), pedir a Paz no mundo e a unidade da Igreja. Mas também para dar um sinal claro da importância da presença de Maria na sociedade, pedir a intercessão da Virgem para o futuro da Igreja, para o bom termo do Concílio Vaticano II e, claro está, chamar a atenção da Humanidade para a importante Mensagem de Fátima.
Na época, Portugal era governado por Oliveira Salazar. Sabemos hoje que Salazar pensou em recusar a necessária autorização para Sua Santidade visitar Portugal. No entanto, e apesar de uma certa crispação inicial, a viagem redundou num verdadeiro êxito.
No início do ano de 1966 começou a circular uma interrogação: celebrando-se, em 1967, o cinquentenário das Aparições de Fátima, deslocar-se-ia o Papa Paulo VI ao Santuário?
Muitos desejavam a visita e apontavam-na como garantida; outros, da oposição ao regime, e olhando as viagens por uma perspetiva meramente política, consideravam que a mesma seria aproveitada pelo Governo, para seu prestígio, e entendiam que o Pontífice não devia realizar a viagem. A hierarquia da Igreja Católica, e em sinal de evidente prudência, manteve-se em silêncio.
Oliveira Salazar, por sua vez, não queria praticar o menor acto que a Santa Sé pudesse interpretar como desejo, por parte do Governo de Lisboa, de uma vinda do Papa a Portugal. Era importante eliminar todas as conotações políticas, que alguns gostariam de associar a esta eventual viagem.
Assim, e sem ceder a qualquer tipo de pressões, o Papa anunciou publicamente a sua viagem no dia 3 de Maio de 1967 aos numerosos fiéis reunidos na Basílica Vaticana, sublinhando o significado exclusivamente espiritual. Paulo VI viria, como Peregrino.
A notícia, tão ansiosamente esperada, levantou em Portugal uma onda imensa de alegria.
A Santa Sé foi cuidadosa em retirar à viagem qualquer carácter político e o Governo português, por sua vez, não fez do facto a menor exploração política. E facilmente se chegou a acordo sobre os pontos simbólicos de modo a «despolitizar» a viagem: o Papa não vinha a Portugal, mas a Fátima. E descia em Monte Real (mais perto de Fátima). Não havia troca de condecorações. O Papa não era hóspede do Governo mas da Diocese de Leiria.
O Papa queria fazer a visita a Fátima.
De local árido e pedregoso, Fátima, estava já transformado, nos anos 60, em pólo de atracção mundial para centenas de milhares de peregrinos. E foi nestes anos 60 que Fátima se projectou, e cada vez mais, como o «Altar do Mundo».
O Papa estava em Fátima.
Cerca de um milhão e 300 mil peregrinos aclamaram-no com indescritível entusiasmo.
Paulo VI entrou na Cova da Iria com lágrimas nos olhos, tal era a emoção de estar perante aquela multidão de peregrinos de lenços brancos. Multidão lavada em lágrimas e com constantes vivas ao Papa.
Todo o mundo testemunhou este histórico acontecimento.
Sobre a ligação do beato Paulo VI aos Açores, duas informações fundamentais:
1 – Paulo VI ofereceu um anel episcopal aos Bispos portugueses participantes no Concílio do Vaticano II (1962-1965). Anel que se encontra na posse da Sé de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira;
2 – O actual Bispo dos Açores, senhor D. António Sousa Braga, descobriu a sua vocação sacerdotal graças ao Papa Montini e foi ordenado pelo próprio Papa, no Vaticano, em 1970.
Nesta hora, e quando o Papa Paulo VI está a ser elevado às honras dos altares, fazemos votos para que os Portugueses invoquem a sua protecção”
Este Texto foi escrito pelo Professor e investigador de história, José Carvalho, que acaba de Lançar o livro “Paulo VI e Portugal – o primeiro sumo pontífice a visitar Portugal”, numa edição da Fonte da Palavra.