Monsenhor José Constância propõe sinodalidade a partir das bases e envia “descodificador” para as comunidades paroquiais da sua ouvidoria
Sete pontos, com questões e interpelações diversas, compõem o “descodificador” enviado esta sexta-feira pelo ouvidor de Ponta Delgada a todas as paróquias, congregações e institutos religiosos e serviços da sua ouvidoria.
Na antevéspera da abertura do ano pastoral, marcado pelo arranque dos trabalhos do sínodo decretado por Roma e com repercussões na Igreja local, Monsenhor José Constância lembra que a “sinodalidade nas bases exprime-se bastante na paróquia. O Conselho Pastoral Paroquial é por excelência o Conselho da Comunidade”.
“Aproveitemos esta hora para reativarmos, renovarmos ou dinamizarmos sinodalmente os conselhos pastorais na nossa Ouvidoria de Ponta Delgada” exorta o sacerdote, o mais velho dos membros do Colégio de Consultores, a quem caberá agendar a reunião que elegerá o novo administrador diocesano, a partir do dia 27 de novembro, caso até lá o Papa não nomeei um novo bispo de Angra.
“A Sinodalidade a partir das bases e ao alcance de todos” é o título do documento base para a Escola de Formação Cristã da ouvidoria. Composto por sete pontos (interrogativos e indicativos), o sacerdote lança várias perguntas concretas, de resposta fácil e direta, mas que obrigarão as paróquias a refletir em comunidade muitas questões.
“Existe Conselho Pastoral Paroquial na comunidade? Se sim, por quem é constituído? Como funciona? Se não, porquê? Indiferença da comunidade? Qual a situação real de cada Conselho Pastoral Paroquial? Só o padre é que decide a vida da paróquia? Ou os leigos é que têm o papel decisivo” são algumas das questões, diretas e práticas, sugeridas de forma a conhecer a realidade local. Paralelamente, o sacerdote propõe que, a par desta reflexão concreta, se possa também refletir e explicar os documentos da Igreja sobre o que é um conselho pastoral, quem deve nele intervir ou o que significa a sinodalidade, como marca da Igreja deixada pelo Concílio Vaticano II.
As questões levantadas pelo documento enviado a todas as paróquias de Ponta Delgada pretendem ser um ponto de partida para uma discussão mais profunda sobre a relação entre as estruturas da Igreja e a sociedade, de forma a que os cristãos possam ser presença viva junto da comunidade, sobretudo dos mais frágeis.
“Que características especiais deve ter o Conselho Pastoral Paroquial?”, interpela o sacerdote propondo que se reflita sobre se esta estrutura base da paróquia deve “ser eco do mundo, da comunidade humana(freguesia) e da comunidade cristã-paroquial e em saída missionária, ou seja, que atue nas realidades humanas e sociais e tenha como opção a integração dos pobres e a luta contra a pobreza”.
Neste sentido, questiona: “Quando dizemos a nossa Igreja quem faz parte dela? Que pessoas ou grupos são lançados à margem? Como são ouvidos os leigos em especial os jovens e as mulheres? Como ouvimos o Conselho? Ouvimos o contexto social e cultural em que vivemos? Como promovemos, no seio da comunidade e dos seus organismos, um estilo comunicativo livre e autêntico sem ambiguidades e oportunismos? De que forma a oração e a celebração litúrgica inspiram e orientam efetivamente o nosso caminhar juntos? Como se verifica o discernimento e respeito das escolhas relativas à missão e quem participa? Como são enfrentadas as divergências de visão, os conflitos, as dificuldades?” são algumas das perguntas formuladas a partir do instrumento de trabalho composto por 10 tópicos definidos para toda a Igreja pelos relatores do Sínodo de Roma, que acontecerá em outubro de 2023, e que foram enviados a todas as igrejas locais.
O sacerdote pede ainda às estruturas paroquiais que possam aprofundar a relação entre cada conselho pastoral paroquial e o conselho pastoral de ouvidoria.
No último ponto deste “descodificador” monsenhor José Constância levanta algumas questões transversais a toda a diocese, nomeadamente, questões relacionadas com o diálogo entre crentes e não crentes- “com quem está a nossa Igreja particular em dívida de escuta?”- , como se conjugam visões diocesanas diferentes sobre os mesmos problemas- “como são enfrentadas as divergências de visão, os conflitos, as dificuldades na nossa Diocese ?”- ou, ainda, que estruturas devem formar a diocese de forma a que atenda a uma realidade geográfica especifica- “como se exerce a autoridade no seio da nossa Igreja particular?”-.
Recorde-se que este domingo arranca o ano pastoral na diocese com uma celebração presidida pelo 39º bispo de Angra, agora administrador apostólico da diocese insular, D. João Lavrador, na Catedral diocesana em Angra do Heroísmo.
É também neste dia que começa formalmente o processo sinodal na fase diocesana, que culminará em março com um documento que será enviado pela diocese para a Conferência Episcopal Portuguesa que depois dará o seu contributo a Roma.