O cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, disse hoje no Vaticano que o processo de consulta aos católicos de todo o mundo, convocado pelo Papa, é mais do que uma luta entre votos contra ou a favor diversas propostas.
“Nesta dinâmica eclesial surge facilmente a tentação de resolver a escuta por meio de dinâmicas democráticas, sobretudo para dar ao voto um valor que corre o risco de transformar a Assembleia Sinodal num parlamento, introduzindo na Igreja a lógica da maioria e da minoria”, apontou o responsável, na sessão de sessão de abertura da 16ª assembleia geral do Sínodo dos Bispos, que promove um processo inédito de consulta, com assembleias diocesanas e continentais até 2023.
Perante centenas de participantes, com representações de organismos internacionais de bispos, delegados de vida consagrada e movimentos laicais, membros da Cúria Romana e do Conselho Consultivo dos Jovens, o cardeal destacou que a fase inicial de consulta não é “decorativa”.
“Temos de garantir a verdade do processo sinodal, para não comprometer a sua liberdade de desenvolvimento”, precisou, apelando à “escuta recíproca de todos”.
O secretário-geral do Sínodo deixou algumas sugestões para alterar a forma de “verificar o consentimento” às propostas das assembleias sinodais, admitindo o fim da votação tradicional, ponto a ponto, do documento final, por exemplo.
“Não basta apresentar objeções fundamentadas ao texto, talvez assinadas por um número adequado de membros da Assembleia, resolvido com um suplemento para comparação, e recorrer à votação como instância final e indesejada?”, explicou
D. Mario Grech propôs ainda que o documento final seja entregue às várias dioceses, onde começou todo o processo sinodal, antes de ser entregue ao Papa.
“Neste caso, o documento final chegaria ao Bispo de Roma, que sempre e por todos foi reconhecido como aquele que emite os decretos instituídos pelos concílios e sínodos, já acompanhado do consenso de todas as Igrejas”, precisou.
Os mais de 200 participantes nesta sessão ouviram testemunhos de leigos, religiosos e bispos, além de uma saudação do irmão Alois, prior da comunidade ecuménica de Taizé. Este responsável propôs a todos que, durante o processo sinodal, “os crentes das várias Igrejas, fossem convidados para um grande encontro ecuménico” em Roma e em várias partes do mundo. D. Lazarus You Heung-sik, prefeito da Congregação para o Clero (Santa Sé), recordou o seu batismo na véspera de Natal de 1966, aos 16 anos de idade. “Fui o primeiro cristão da minha família”, relatou. O membro da Cúria Romana elogiou o “caminho sinodal” como forma de travar o “clericalismo” e de aprender “cada vez mais a viver como irmãos”. Dominique Yon, jovem sul-africana, falou da sua experiência de doença oncológica e posterior recuperação, encontrando um “novo sentido de fé e missão” na sua vida. “Rezo para que todos nós possamos abraçar esta oportunidade para a mudança pessoal e estrutural tão necessária e ter a coragem, força, fé e visão para assumir este desafio de trazer inclusão para a estrutura da igreja, envolvendo intencionalmente mulheres e jovens nos processos eclesiais”, apelou. O padre Zenildo Lima Da Silva, reitor do Seminário de Manaus (Brasil), partilhou a sua experiência nesta zona amazónia, pedindo uma Igreja aberta a “novas experiências”. O sacerdote disse que cresceu numa paróquia conduzida por um “grupo responsável”, onde aprendeu a valorizar os “dinamismos de comunhão e participação”. |
A sessão plenária começou com a entronização da Palavra de Deus, numa procissão em que o jovem português Rodrigo Figueiredo, membro do conselho consultivo juvenil, transportou o Evangelho.
Depois da intervenção do Papa Francisco, que pediu uma Igreja “diferente”, mais aberta à escuta, ao diálogo e à proximidade, falou o cardeal Jean Claude Hollerich, relator-geral do Sínodo 2021-2023, que se dirigiu aos “cristãos diligentes, cristãos à margem da Igreja, cristãos progressistas e cristãos conservadores”.
“Não é permanecendo sentados que seremos capazes de discernir a vontade do Pai. É caminhando juntos que encontraremos muitos cruzamentos e teremos de fazer as nossas escolhas”, indicou.
As primeiras intervenções estiveram a cargo da teóloga espanhola Cristina Inogés, que falou de uma Igreja “profundamente ferida”, que precisa de transformar num “porto seguro para todos”, e do jesuíta Paul Béré, do Burquina-Faso, que evocou “os membros da família humana que estão sem fôlego, abatidos, exaustos e muitas vezes esmagados e bloqueados nos seu grito silencioso”.
(Com Ecclesia)