D. Manuel Clemente vai estar este domingo na cerimónia de beatificação do Papa italiano
O patriarca de Lisboa afirmou que a beatificação do Papa Paulo VI, marcada para este domingo, vai consagrar uma “grande figura” da história mundial, decisiva para a configuração atual da Igreja Católica.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, D. Manuel Clemente destaca a intervenção do Papa italiano no Concílio Vaticano II (1962-1965) e a forma como promoveu “a sua aplicação na liturgia, na vida da Igreja, na relação como o mundo” e com uma sociedade “em mudança”.
Vivia-se então “a geração do pós-guerra, em que as certezas tradicionais eram postas em causa por todo o lado” e “mesmo num certo de modo de viver da Igreja até aí, tudo abanava”.
Foi nesta conjuntura que Paulo VI conseguiu dar andamento aos propósitos do Concílio, na esteira de São João XXIII.
“O Concílio parte do coração generoso, do espirito largo de João XXIII, mas depois quem o sistematiza à volta da temática da Igreja, o que é que ela é a partir de Deus, o que ela é para o mundo, isto é ideia de Paulo VI”, frisa o patriarca de Lisboa.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) está em Roma a participar no Sínodo dos Bispos sobre a Família e vai marcar presença, este domingo, na cerimónia de beatificação de Paulo VI, em que participará também D. António de Sousa Braga, bispo de Angra, que foi ordenado padre pelo Papa italiano.
D. Manuel Clemente recorda ainda um homem que viveu “um tempo trágico quer a nível eclesial quer mundial e pessoal”.
No plano da Igreja, apesar do Concílio ter trazido um novo fôlego acarretou também diversas convulsões, pois “muitas expectativas postas à volta da sua convocação depois não se viram correspondidas”, o que causou “muitos abandonos da vida sacerdotal e religiosa”, lembra o patriarca.
Ainda assim, o Papa italiano conseguiu “manter o essencial de tudo quanto vinha de trás, de positivo” e nunca deixou de “amar a Igreja”.
Daí que São João Paulo II o tenha classificado como “um homem cansado pelo amor, de tanto amar uma Igreja que depois nem sempre singrava conforme as expetativas”, frisa D. Manuel Clemente.
O presidente da CEP sublinha ainda a importância e atualidade dos documentos deixados por Paulo VI.
A exortação apostólica “O anúncio do Evangelho” (Evangelii Nuntiandi), deixada no rescaldo do Sínodo dos Bispos de 1974, “é um documento que o Papa Francisco agora toma com ambas as mãos”, como modelo da forma como deve ser encarada hoje “a missão como anúncio de Jesus Cristo”, aponta o patriarca de Lisboa.
Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini nasceu a 26 de setembro de 1897 na Lombardia, Itália, e foi ordenado padre em 1920, tendo entrado ao serviço diplomático da Santa Sé.
Nomeado arcebispo de Milão em 1953, foi criado cardeal em dezembro de 1958, por João XXIII, a quem viria a suceder, cinco anos depois, já com o Concílio Vaticano II (1962-1965) em andamento, tendo-lhe dado continuidade.
Entre 1964 e 1970, Paulo VI fez nove viagens internacionais, as primeiras de um Papa moderno, incluindo a passagem por Fátima a 13 de maio de 1967, e discursou na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, a 4 de outubro de 1965.
O Papa italiano escreveu sete encíclicas, entre as quais a ‘Humanae vitae’ (1968), sobre a regulação da natalidade, e a ‘Populorum progressio’ (1967), sobre o desenvolvimento dos povos.
Paulo VI morreu no dia 6 de agosto de 1978.