Monsenhor José Constância propôs uma reflexão sobre o sentido dos limites e a morte, no terceiro dia do novenário preparatório da festa do Senhor Bom Jesus Milagroso, no Pico
O sofrimento humano só é insuportável porque a humanidade recusa-se a aceitar os seus limites e a sua própria condição, disse esta tarde o Vice-reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres aos peregrinos que participaram no terceiro dia do novenário, que está a decorrer no Santuário Diocesano do Senhor Bom Jesus Milagroso, na ilha do Pico.
“O sofrimento físico, social ou psicológico faz parte da vida; quem de nós não sofreu tribulações provocadas pela doença, pela perda do emprego, por um divórcio, pela perda de um familiar? Todos sofremos, mas o maior sofrimento é aquele que resulta do facto de não aceitarmos os nossos limites” afirmou o sacerdote.
“O maior sofrimento é aquele que resulta da ideia de que tudo tem de ser perfeito; por isso, a maior desilusão desta nossa sociedade é pensarmos que esta vida não tem limites e que tudo podemos” esclareceu ainda ao citar o livro do Eclesiastes sobre a vaidade humana que nos remete para uma espécie de endeusamento do homem e ausência de Deus.
O sacerdote lembrou a pandemia que se vive há dois anos para exemplificar que o sofrimento custa e “dobra-nos os joelhos” mas a condição cristã desafia a olhar e a viver com confiança esse sofrimento. E, desafiou os picoeneses a olharem para a humanidade de Jesus.
“A sua vida foi marcada por incompreensões, abandonos, julgamentos e criticas” mas, no momento de maior dor, diante da morte, “confiou-se ao pai”.
“Jesus caminhando para a morte sentiu o abandono de todos, sofreu, com o abandono dos seus mais próximos e quando Ele grita `Meu Deus porque me abandonaste´ esse grito transforma-se num grito de esperança, que se confia a Deus Pai”, disse.
“É este grito que temos de fazer: sem iludir o sofrimento, que existe e nos mostra o limita da nossa humanidade, temos de ter confiança cientes de que Deus nunca nos abandona”, afirmou.
“A vida é um grito e ai daqueles que não gritam nem choram; são aqueles que passaram pela vida mas não a viveram, passaram pela vida como que envolvidos em papel celofane” acrescentou ainda lembrando que “a nossa vida, a vida dos cristãos, tem que ser configurada à de Jesus e isso significa sofrer mas sem perder a confiança e a esperança”.
“O mundo hoje, por maior que sejam as sombras e as solidões, tem que gritar como Jesus gritou, temos de ser fortes e confiar como Jesus confiou”, disse.
A partir da liturgia desta quinta-feira, que faz memória pela primeira vez dos três irmãos de Betânia – Marta, Maria e Lázaro -, amigos de Jesus, Monsehor José Medeiros Constãncia desafiou os picoenses a fazer do seu coração uma nova Betânia.
“Toda e qualquer casa pode ser Betânia; o Santuário é uma Betânia alargada que acolhe todos e onde Jesus nos acolhe e toma conta de nós, através da palavra e do altar”, concluiu.
O pregador tem a novena orientada a partir de um conjunto de nove questões dirigidas ao povo de Deus pela pregação de Jesus. A partir de nove passagens dos evangelhos, o sacerdote reflete sobre o sentido da vida no mundo de hoje; O mundo de hoje e os seus sinais; o Sentido dos limites e a morte ; A procura de Deus hoje; Quem é Cristo? O “dossier” de Jesus Cristo hoje; Quem é Cristo para nós cristãos?; Poder ou serviço? A Missão; Transformação cristã do mundo de hoje e Seguimento de Jesus Cristo nossa Esperança.
A festa do Senhor Bom Jesus terá no próximo dia 4 um momento alto e simbólico com a homenagem que a Igreja do Pico vai fazer ao bispo emérito de Angra, D. António de Sousa Brag, para assinalar os 25 anos da sua ordenação episcopal. No dia 6 celebrará a grande festa do Senhor Bom Jesus Milagroso. Esta festa atrai inúmeros peregrinos ao Santuário do Pico que por estes dias está aberto até à meia noite para permitir a veneração da Imagem.