O Papa disse numa entrevista divulgada hoje pelo Vaticano que a pandemia veio aumentar as “bancarrotas da humanidade” e convidou a um novo olhar, inspirado pela perspetiva das crianças.
“O seu olhar, que é muito mais do que um simples ponto de vista, interroga-nos ainda mais hoje, num momento em que a pandemia parece multiplicar as bancarrotas da humanidade. Que fazemos para que as crianças possam olhar para nós a sorrir?”, refere Francisco, em conversa com o antigo responsável pelos media do Vaticano, mons. Dario Viganò.
O Papa admite que a “difícil situação” provocada pela Covid-19 gera medo e desconforto, defendendo uma “catequese do olhar”, para ver mais longe.
A entrevista abre o último livro do sacerdote italiano, intitulado ‘O olhar: porta do coração. O neorrealismo entre memória e atualidade’.
O Papa, natural da Argentina e filho de emigrantes italianos, diz que deve a sua cultura cinematográfica aos pais e que, em Buenos Aires, ia aos cinemas de bairro, onde se projetavam “três filmes de seguida”.
Francisco evoca a importância do neorrealismo italiano para “entender em profundidade a grande tragédia da guerra mundial”.
O Papa sublinha o “valor universal” desse cinema e a sua capacidade de ajudar as pessoas a “renovar o olhar sobre o mundo” e a reencontrar um “olhar puro”.
“Temos hoje muita necessidade de aprender a olhar”, aponta, recordando que em vários dos filmes neorrealistas é apresentado “o olhar das crianças sobre o mundo”.
Francisco fala do seu filme favorito, ‘La Strada’, de Federico Fellini, que deu “uma luz inédita ao olhar sobre os últimos”.
A entrevista aponta o cinema neorrealista italiano como “catequese de humanidade”, que soube olhar para “dentro do coração dos homens”.
“A capacidade de adquirir um olhar que sabe colocar-se em relação é a chave para uma comunicação autêntica e é-o ainda mais nesta fase difícil da pandemia, em que o contacto virtual predomina, muitas vezes, sobre o contacto real”, assinala o Papa.
Francisco realça a capacidade do Cinema de agregar as pessoas, ajudando-as a “construir comunidade”, para lá das dificuldades de cada momento.
(Com Ecclesia)