Percurso do bispo emérito de Angra é recordado pelos seus colaboradores diretos, ao longo de duas décadas à frente da diocese
Cumpre-se no próximo dia 30 de Junho o 25º aniversário da ordenação episcopal do bispo emérito de Angra, D. António Sousa Braga, que exerceu o seu ministério episcopal nesta diocese insular durante cerca de vinte anos.
“Este facto é vivido por todos nós, diocesanos de Angra, com júbilo e gratidão” refere em declarações ao Igreja Açores o bispo diocesano, D. João Lavrador.
“Alegria por podermos contar com a presença de uma figura tão rica e ilustre que, apesar da sua saúde débil, ainda continua a ser para nós referência de bom pastor que dá a sua vida pelo seu povo. Gratidão pela sua maneira generosa, humilde, acolhedora, sábia, sofrida, inteligente e com profunda fé e amor à igreja como exerceu o seu magistério pastoral de bispo à frente desta diocese” esclarece o prelado diocesano que foi bispo coadjutor de D. António Sousa Braga.
O atual prelado insular destaca “a marca indelével com que sinalizou a sua entrega total a esta Igreja diocesana e a esta sociedade que se manifesta como bússola para que hoje possamos prosseguir confiantes e seguros na tarefa de evangelização e na participação de todo o Povo de Deus que sempre estiveram no seu espírito e nos seus projectos pastorais”, conclui D. João Lavrador.
Um homem que confiava
“De D. António guardo a confiança que depositava nos seus colaboradores mais próximos” afirma por seu lado o atual Vigário-geral , cónego Hélder Fonseca Mendes que também desempenhou as mesmas funções no episcopado do prelado mariense.
“Antes de tomar alguma iniciativa, abordava o interlocutor com perguntas, até que com as respostas deste, elaborava a decisão mais ajustada, sendo esta assumida e partilhada” recorda ao salientar que o bispo emérito é um “Padre conciliar”, sem participar no Concílio Vaticano II.
“A sua formação na aérea da sociologia, marcada pela doutrina social da Igreja, dá sabor à sua ação pastoral. Eis um trabalhador incansável na vinha que tão bem conhece, por todos os recantos da cada uma das ilhas, até que a doença o afeta, reduzindo a sua capacidade de trabalho” denota o pároco da Sé.
“Soube levar a sua cruz, da ordem e da doença, com boa dose de oração e paciência” remata, ao recordar os vinte anos que se seguiram à ordenação episcopal, de trabalho pastoral nos Açores, “dez dos quais acompanhei de perto como vigário geral, em momentos luminosos e escuros, dentro e fora da Igreja, no meio de muitas alegrias e de algumas calamidades”, conclui destacando “ a sua simplicidade, bondade, proximidade, desprendimento, descontração e entrega, a tempo inteiro, a Deus e ao povo, de que me sinto parte”.
Gratidão e Comunhão
O atual Reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo foi um dos seus mais próximos colaboradores, desempenhando a missão de ecónomo, um dos mais novos da diocese nas funções.
“Penso que todos os sacerdotes têm uma relação especial de gratidão com o Bispo que os ordenou. Também eu não fujo à regra” começa por dizer o cónego Adriano Borges, atual Vigário Episcopal para a Vigararia Nascente.
“Sou grato ao D. António por me ter ordenado. Mas também sou-lhe grato pelas experiências que me proporcionou: Santa Maria, Ilha pequena mas de gente de alma grande. Por ser a Ilha de onde o Senhor D. António é natural, convivíamos bastante durante o seu período de férias naquela Ilha. Isto deu-nos ainda maior proximidade. O convite para estudar em Roma História da Igreja, foi a maior experiência da minha vida: a cidade, a Universidade e a universalidade de outros Sacerdotes com quem contactei” refere.
“Depois a confiança que em mim depositou ao escolher-me para ser Ecónomo Diocesano e do Seminário de Angra. Foi uma experiência desafiante, sobretudo pela situação delicada da Diocese. Mas senti sempre apoio da sua parte, mesmo sem sempre concordarmos”, refere ainda.
“D. António foi sempre um amigo de todas as horas, sobretudo as mais delicadas que tive de enfrentar. Senti sempre a sua proximidade dialogante e paterna”, salienta lamentando que esta proximidade com o clero, que era uma marca do seu ADN, “nem sempre foi bem entendida e, em alguns casos, resultou em aproveitamentos”.
“Alguns confundiram a sua proximidade e confiança como sendo ingenuidade, e foi pena para os próprios, para a Diocese e, em última análise, para o Senhor Bispo D. António” conclui.
O cónego Adriano Borges foi dos 55 sacerdotes que o 38º bispo de Angra, o segundo açoriano na história de quase 500 anos da diocese, ordenou. No ano em que foi ordenado, ano jubilar de 2000, D. António Sousa Braga ordenou 10 sacerdotes de uma só vez, todos alunos do Seminário Episcopal de Angra. Dessa “fornada” resultou também o atual ouvidor eclesiástico do Pico e reitor do Santuário do Bom Jesus.
Pertença e filiação
“Nutro pelo D. António de Sousa Braga um sentimento de gratidão, pertença e filiação, uma vez que foi o Bispo que me ordenou e que me enviou para a porção do povo de Deus que sirvo desde então” refere o padre Marco Martinho.
“Desde cedo senti a confiança que depositou nos sacerdotes mais jovens, nos quais na altura me incluía, dando-nos responsabilidades de liderança, quer nas ouvidoras, quer como no meu caso específico, na orientação espiritual e pastoral do Santuário Diocesano do Senhor Bom Jesus”, refere reconhecido.
“O seu episcopado foi sem dúvida um serviço de proximidade e diálogo com os seus padres e com o seu povo. A sua presença habitual nas várias ilhas e a sua forma humilde e próxima de estar com as suas gentes, fez com que ele se tornasse querido e amado por este seu povo” adianta.
“Homem de diálogo aberto, cordial e construtivo, pois desde a primeira hora, quer nos assuntos pessoais, quer nos da ouvidoria, sempre teve a cordialidade e a amabilidade de os conversar abertamente comigo, em vista ao bem eclesial” é assim que o sacerdote faialense, que serve no Pico, fala do bispo emérito de Angra.
No ano em que D. António foi ordenado bispo, o padre Hélder Miranda Alexandre frequentava o primeiro ano de Filosofia no Seminário.
“Paulatinamente fui-me apercebendo da personalidade de D. António. Recordo a sua proximidade na tragédia da Ribeira Quente, em S. Miguel e, em 1998, o seu interesse pelas causas da reconstrução após o sismo da Ilha do Faial. No dia 11 de Dezembro de 1999, no decorrer da minha instituição de leitor, fomos esmagados pelo terror da queda do avião da SATA no monte da Esperança em S. Jorge. D. António foi dos primeiros a chegar ao lugar da tragédia” recorda o atual reitor do Seminário, nomeado ainda por D. António de Sousa Braga.
A proximidade de um Pai
“Nunca se interessou muito por formalidades, mas por estar com as pessoas. Facilmente se encontrava num arraial entre o povo ou a escutar as dores e misérias de quem se aproximava. `Cheirava as ovelhas´ como poucos”, adianta.
Recorda uma das visitas pastorais ao Faial onde foi colocado, recebendo D. António na casa paroquial.
“Preparei uns cadernos de cânticos para uma celebração, e, ainda por acabar, deixei as cópias em cima da mesa. Ao regressar, estavam devidamente dobradas. Tinha sido ele. Aquele gesto impressionou-me. Justificou-se dizendo que eu estava mais ocupado do que ele. D. António surpreendia com frequência. Em 2012, confiou-me a reitoria do Seminário de Angra juntamente com outras responsabilidades. Foi tudo muito rápido” revela.
“Senti nele uma confiança excecional, uma proximidade de pai. Pediu-me que fosse próximo dos seminaristas, um pouco à sua imagem. Após a sua passagem por esta Igreja Particular tudo se alterou”, salienta.
“Nele está uma parte importante da nossa história. Bem merece a homenagem e a gratidão de toda a Diocese!” conclui.
À semelhança do Bom Pastor
“D. António era um bispo perito em humanidade! Tal como o Bom Pastor que se entrega totalmente pelo rebanho, D. António de Sousa Braga foi alguém que ao longo de duas décadas, nos ensinou a viver as virtudes do despreendimento, da humildade e da proximidade” refere por seu lado o atual ouvidor eclesiástico do Faial.
“Ele foi o rosto daquilo a que chamamos um “cristianismo de encarnação”, que nos convida neste mundo a sermos imitadores do cuidado que Jesus tinha por todos aqueles que O procuravam” salienta o padre Marco Luciano Carvalho, atual Diretor do Museu de Arte Sacra da Horta.
“Não olhando aos bens materiais e muitas vezes esquecendo-se de si próprio, esteve sempre com o rebanho, particularmente nos momentos de maior dificuldade e sofrimento do povo açoriano” destaca ao recordar a sua presença em momentos de dor do povo açoriano como os já nomeados episódios da Ribeira Quente ou de São Jorge, mas também no Sismo do Faial e do Pico em 1998.
“Nestes e em muitos outros momentos dolorosos da vida do nosso povo, o Bispo da Diocese era quase sempre o primeiro a chegar. Metia-se nos aviões ou barcos, muitas vezes desprovido de bagagem e confiando apenas na providência daqueles que o recebiam em sua casa e com quem partilhava o pão e muitas vezes a roupa. A sua presença e as suas palavras, em muitas circunstâncias difíceis da nossa história recente, foram sinal de um bispo próximo e de coração grande” refere o padre Marco Luciano Carvalho que agradece “ a sua herança espiritual”.
“Cativava-nos pela sua simplicidade, conheci-o no dia do meu Crisma contando-nos uma simples história…”o que queres ser quando fores grande!?”” lembra o padre Horácio Dutra, padre em Santo António além Capelas e professor de Educação Moral e Religiosa Católica.
“No Seminário tive o prazer de conviver com ele, sabia no nome de cada um de nós, embora por vezes trocasse a ilha e ria… no entanto fazia questão de conhecer também as nossas famílias. Homem afável sempre junto do povo, de grande generosidade; inúmeras vezes o presenciei nas ruas de Angra” relembra.
“Um ano após ser diácono fui ordenado Sacerdote, e recordo algumas das suas palavras “em ti levas o Tesouro de Deus somos de barro, frágeis mas fortes com Cristo para confundir os que se consideram sábios”… e no fim guardo no coração o gesto de se ter ajoelhado a pedir-me a Bênção”, salienta.
“Na forma simples de se tornar presente na vida do povo Açoriano, quer na Diocese ou na Diáspora onde me cruzei com ele, recordo um homem Bom, afável e generoso. Apesar das suas preocupações procurava ser conciliador”, conclui.
D. António Sousa Braga é religioso; pertence à Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, que integra a CIRP. Duas das congregações mais antigas e expressivas nos Açores lembram-no com saudade.
Uma “marca” presente
“Expressar o nosso sentir sobre D. António Braga, que foi o Pastor desta Diocese, é dizer com verdade a marca deixada no seu contacto pessoal e comunitário do seu pastoreio” refere a Irmã Helena Godinho superiora das Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição.
“A sua missão foi, profundamente, expressão da sua pessoa, como Homem e Religioso de uma Congregação marcada pelo carisma do Amor do Coração de Cristo. Com a naturalidade que lhe era peculiar, manifestava os valores do seu ser que orientavam o seu viver e agir: Humildade, Simplicidade, Proximidade e Boa disposição” refere a religiosa que é diretora do Colégio de Santa Clara, em Angra.
“Sempre me pareceu ser uma pessoa amada e estimada pela Igreja açoriana. Do pouco tempo que estive com o senhor Bispo D. António, apraz-me dizer que o tempo do seu episcopado, foi um tempo pleno de graças que deixou marcas inesquecíveis no coração da Igreja e do povo açoriano. Um pastor que conhecia muito bem as suas ovelhas. Ricos e pobres encontraram lugar no seu coração onde eram acolhidos” salienta a Irmã Domingas Lisboa, diretora do Colégio de São Francisco Xavier, em Ponta Delgada.
“Foi um tempo pautado pela entrega, pela oração, pela humildade, pela proximidade, pelo humanismo, pela escuta e pela preocupação em manter viva a chama da fé da Igreja dos Açores, um tempo de aposta na pastoral vocacional” refere a religiosa das Irmãs de São José de Cluny.
Empenho e Proximidade
Os leigos ouvidos pelo Igreja Açores destacam um “bispo perito em humanidade”, que por ser açoriano “conhecia bem a realidade humana e religiosa das nossas gentes”.
“Tive o privilégio de conhecer D. António quando fiz parte do Secretariado Diocesano do Movimento de Cursilhos de Cristandade, e de forma mais pessoal e próxima quando o Senhor me chamou a servir como Presidente Diocesano. Tenho de D. António de Sousa Braga a “figura” de um homem de grande Fé, de exemplar simplicidade, afável, simpático, humilde e muito dialogante, com um sentido enorme de oportunidade, exímio na escuta das diversas opiniões e capaz de reconhecer diversos pontos de vista e pensamentos, o que nem sempre é fácil para um Bispo, e extramente oportuno na forma como expunha depois as suas palavras” refere Fausto Dâmaso.
“Com uma excelente relação com os Cursilhos de Cristandade, que bem conhecia, recordo muitas das suas palavras quando participava nos nossos Encerramentos de Cursilhos, pois sempre que a sua agenda o permitia, fazia questão de se juntar a nós. Recordo também com estima e imensa consideração a sua participação em tantas outras atividades do Movimento na Diocese, como o exemplo das nossas Ultreias” conclui.
“D. António de Sousa Braga alterou significativamente o paradigma no governo da Diocese de Angra. De imediato, envolveu os leigos nas diversas vertentes da vida diocesana, com maior incidência na pastoral e na formação. Desde logo, revelou características de enorme humanidade, bondade, generosidade e acolhimento a todos sem fazer aceção de pessoas” refere por outro lado João Carlos Leite presidente da Associação Movimento de Romeiros de São Miguel .
“Muito aberto ao diálogo, promovendo a congregação de todos, percebeu a importância da religiosidade popular para a dinâmica Pastoral da Diocese, dando grande relevo ao Culto ao Divino Espírito Santo (ao Império do Divino , como dizia frequentemente) e às Romarias Quaresmais de São Miguel, incentivando os responsáveis a promoverem uma formação contínua, contribuindo com a sua presença e orientação sistemática”, recorda.
O bispo emérito de Angra viverá o dia das bodas de prata episcopais em Santa Maria, terra que o viu crescer na fé.