Bispo de Angra participa na concelebração de beatificação do Papa Paulo VI no próximo dia 19 de outubro
O bispo de Angra, D. António de Sousa Braga, é o único bispo diocesano português em funções, ordenado sacerdote pelo Papa Paulo VI e, por isso, já foi convidado pela Santa Sé, tal como alguns dos seus colegas, para participar na concelebração eucarística de beatificação do Papa Paulo VI.
“É uma honra que traduz uma graça recebida há 44 anos”, disse ao Sítio Igreja Açores o prelado diocesano.
D. António de Sousa Braga estava no último ano de Teologia, na Universidade Gregoriana em Roma, onde residia no Colégio Internacional da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de jesus. Deveria ter sido ordenado sacerdote no final do ano de 1969, mas “as dúvidas e algumas inquietações”, adiaram a ordenação, “providencialmente”.
A instabilidade dentro da igreja, as reformas conciliares, os problemas que daí decorriam, “faziam-nos pensar muito”, até porque havia uma “clara divergência entre nós ocidentais e a América do Norte e todos os outros e isso provocava dificuldades”.
Na primavera do ano seguinte, quando a palavra se espalhou pelos colégios internacionais de que o Papa Paulo VI iria ordenar diáconos estrangeiros e de algumas dioceses italianas, por ocasião das suas bodas de ouro sacerdotais, “não hesitei”.
“Foi uma graça e, ao mesmo tempo, um momento de desbloqueio da minha caminhada. Sem dúvida que Paulo VI, sem o saber, deu um `empurrãozinho´ enorme na minha decisão”, sublinha D. António de Sousa Braga.
Daquele dia 17 de maio de 1970, dia de Pentecostes, o que para um açoriano, nascido em Santa Maria, na freguesia de Santo Espírito tem “ainda um significado mais profundo” recorda as palavras do Santo Padre.
“Parece que estou a ouvi-lo dizer: nunca tenham medo nem duvidem do vosso ministério; usem-no para fazer chegar às pessoas a graça porque quem dá a cruz dará a coragem e a força para a carregarem”, recorda D. António de Sousa Braga emocionado, sem perder de vista o significado do dia em si.
“O Pentecostes é a inauguração da civilização cristã, que nos mostra como o caminho do Evangelho é o caminho da humanização e essa é uma mensagem que a Igreja nunca pode perder de vista e foi o Papa Paulo VI quem o acentuou”, sublinha ainda o Bispo de Angra.
“Por tudo isto, é óbvio que é o meu Papa, não só porque me ordenou mas porque é o Papa do Concilio”.
“João XXIII teve a ousadia de marcar o Concílio, mas quem o terminou e teve a coragem de o por em prática, numa situação bastante difícil dentro da igreja foi Paulo VI e por isso esta decisão do Papa Francisco tem imenso significado”, sublinha o responsável pela Igreja açoriana.
D. António de Sousa Braga destaca o pioneirismo de Paulo VI.
“Foi o primeiro a andar de avião, a visitar os cinco continentes, a falar na ONU, a promover o ecumenismo, a visitar a Terra Santa, a abraçar os chefes das igrejas Ortodoxa e Anglicana, a visitar Fátima…com ele a igreja deu passos significativos para acentuar a ideia de uma igreja perita em humanidade”, conclui.
Além do contributo “decisivo” para a implementação das reformas do Concílio, D. António de Sousa Braga lembra, também as inúmeras encíclicas sociais escritas por Paulo VI e todos os documentos “ricos do ponto de vista doutrinal e teológico pelos quais estudávamos”.
“As homilias dele eram verdadeiros tratados, muito ricas e cheias de significado”, diz o prelado que compara o Papa Francisco a Paulo VI, “sobretudo no que respeita à necessidade de uma verdadeira conversão da igreja e a uma progressiva humanização”.
“Penso que as maiores diferenças estão ao nível da comunicação: Paulo VI não era um bom comunicador ao contrário do Papa Francisco nem tinha a sua frescura. Quando recebeu os padres portugueses antes de vir a Fátima via-se que era uma homem desgastado, cansado, mas ainda assim com forças para rezar pela paz no mundo”, acrescenta ainda D. António de Sousa Braga.
O Bispo de Angra vai ser um dos concelebrantes na cerimónia de beatificação do Papa Paulo VI que será transmitida, na íntegra, em 3D pelos serviços de televisão do Vaticano, facto inédito.
“Pediram-nos para levar a estola que o Papa nos ofereceu no dia da nossa ordenação. Não sei quantos seremos dos 278 que fomos ordenados. Eu era a único português”, recorda o Bispo de Angra.
A cerimónia de beatificação realiza-se no próximo domingo dia 19, dia internacional das Missões.