O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) destacou hoje a importância da “consciência clara de quem quer mudar e de encontrar caminhos”, “sem embarcar em vitimismo”, no encontro de formação sobre proteção de menores e pessoas vulneráveis’, em Fátima.
“Não creio que a instituição Igreja seja pior do que outras da sociedade, a própria noção dos casos que temos, mesmo em todo o mundo, não é o lugar onde se cometem mais abusos deste género, mas a nós preocupa-nos que são um abuso grave”, disse D. José Ornelas em declarações à Agência ECCLESIA.
O presidente da CEP explicou que é preciso “criar uma mentalidade” para acabar com uma pseudo-autodefesa que “leva a que não se faça justiça”, nem se recuperam vítimas, nem se faça o trabalho necessário “com aqueles que causam estas vítimas”.
“Depois encontrarmos caminhos como sociedade inteira que nos possam ajudar da hecatombe pessoal que significam estes casos”, acrescentou.
A Conferência Episcopal Portuguesa está a promover uma formação sobre ‘proteção de menores e de pessoas vulneráveis como parte integrante da missão da Igreja’ e ‘a missão das comissões diocesanas para a proteção de menores e de pessoas vulneráveis’, em Fátima.
O encontro para bispos e membros das comissões diocesanas está a ser orientado pelo padre Hans Zollner, membro da Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores (CPTM), desde a sua criação, em 2014.
D. José Ornelas assinalou que as comunicações do sacerdote Jesuíta “vêm abrir caminho” na capacidade de clarificação e de metodologia que tem de ser feito pelas comissões.
“Dentro da Igreja também é preciso uma alteração de mentalidades. Falou-se aqui, em vez de ir para uma autodefesa, ir precisamente para uma clarificação, purificação, e um caminho com as vítimas, com as famílias, com os perpetradores”, desenvolveu.
A partir da formação, o presidente da CEP referiu que a violência sexual tem a ver com “as raízes da vida, dos afetos, da confiança”, e isso é “particularmente grave”.
“Se é grave para a sociedade toda, é muito mais, à priori, para aquilo que a Igreja quer ser e é chamada a ser. Temos aqui um caminho, sem ninguém se armar em muito bom, nem na Igreja, nem fora dela, mas para todos entendermos que há um caminho que temos de fazer juntos e esta é uma vitória sobre todo o género de violência”, desenvolveu.
O presidente da CEP referiu também que “todo o problema da violência” envolve a sociedade e a humanidade no seu conjunto e a Igreja Católica não está sozinha, destacando a importância de um serviço do crescimento de toda a sociedade, “particularmente dos mais frágeis, e quando se trata de crianças é fundamental para ter uma sociedade minimamente aceitável”.
D. José Ornelas salientou que “alguma coisa vai mal” quando 60% dos adolescentes em Portugal consideram que “a violência no namoro é uma coisa normal”.
“Dentro da Igreja temos também coisas destas e temos de ser claros, transparentes, e sobretudo bem assertivos nos objetivos que queremos atingir e nos meios que levam concretamente lá, que devem ser propostos, verificados, e constantemente atualizados” acrescentou.
O padre Hans Zollner, da Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores, vai continuar em Portugal e, esta segunda-feira, vai falar aos superiores das congregações religiosas, também em Fátima, e no dia seguinte, 1 de junho, encontra-se com o clero de Braga.
(Com Ecclesia)