O Ouvidor das Flores, Pe Davide Barcelos, 36 anos, ordenado há 10, fala das comemorações jubilares da igreja das Lajes e faz balanço de oito anos de experiência in solidum na igreja mais a ocidente da Europa, deixando pistas para o futuro
Sítio Igreja Açores- A igreja das Lajes iniciou as comemorações jubilares: 500 anos de Igreja a Ocidente. Como vão ser essas comemorações?
Pe Davide Barcelos– A Ouvidoria das Flores pretende dar às comemorações dos 500 anos uma dinâmica de ilha. O tema escolhido a nível de Ouvidoria foi “Reavivar a Fé Recebida”, 500 anos de vida cristã na ilha das Flores, inserido também no tema pastoral diocesano. 500 anos é uma data que merece ser assinalada quer a nível paroquial, quer a nível da Ouvidoria e pretendemos ter iniciativas religiosas e culturais com vista a aprofundar o tema da fé.
Esta comemoração, será também um momento propício para olhar o passado e reflectir sobre a nossa vivência cristã actual, bem como repensar o futuro, estabelecendo metas e desafios.
Sítio Igreja Açores- As comemçorações abriram oficialmente em cima da solenidade de Nossa Senhora do Rosário, o que teve um enquadramento muito festivo…
Pe Davide Barcelos- No passado dia 28 de Setembro realizamos a abertura solene do ano jubilar na Igreja das Lajes, que constou de uma palavra minha enquanto ouvidor e do Presidente da Câmara. Apresentou-seo logótipo escolhido, seguindo-se depois um concerto por um grupo da Filarmónica de Nossa Senhora dos Remédios da Fajãzinha.
A nível religioso as comemorações abriram com a festa em honra de Nossa Senhora do Rosário, com a presença do Vigário Geral, que fez uma retrospectiva da evolução da paróquia, realçando que a primitiva ermida havia sido dedicada ao Espírito Santo. Também sugeriu que o Município das Lajes poderia utilizar este dado na festa do Emigrante, centrando-a na invocação do Espírito Santo.
Sítio Igreja Açores- Como é que se vai desenrolar esta comemoração daqui para a frente?
Pe Davide Barcelos– Ao longo do ano destacam-se as seguintes actividades ao nível religioso: encontro de Acólitos com o tema “Servir com Alegria”, com a participação do Seminário de Angra; jubileu das famílias em Dezembro; Te Deum de acção de Graças no último dia do ano; semana de pastoral vocacional promovida pelas religiosas naturais da ilha em Fevereiro; retiro para a primeira Comunhão com o tema “Vem descobrir um tesouro”; retiro para a Profissão de Fé com o tema “Fortes na Fé”; retiro para Jovens com o tema “Follow Me!”; retiro da quaresma para adultos; semana bíblica; dia da comunidade, sendo um momento de convívio, lazer e partilha a nível de ilha; peregrinação da Imagem de Nossa Senhora do Rosário por todas as paróquias; encerramento das comemorações na festa de Nossa Senhora do Rosário de 2015, com a presença de todos os padroeiros da Ilha.
Um dos momentos fortes será a Visita Pastoral do nosso Bispo que decorrerá de 26 de Abril a 7 de Maio, sendo um momento importante para reflectir sobre a pastoral “in solidum” e os desafios para o futuro.
Ao nível cultural estamos, ainda, numa fase de programação, sendo este trabalho realizado numa parceria com a Câmara Municipal das Lajes, uma vez que o Município também celebra 500 anos de existência.
Será constituída uma equipa mista, Ouvidoria e Município, para organizar os eventos culturais, estando já pensadas umas jornadas culturais e um concerto de Ano Novo, sendo dado realce aos filhos da terra nos diversos eventos culturais e religiosos. Também é nosso desejo lançar um livro comemorativo para recordação dos 500 anos.
Concluindo, gostaríamos de proporcionar a todos uma rica e variada experiência de fé cristã, alimentada nas fontes da fé e da vida cristã e eclesial, que são a Palavra de Deus, a Tradição viva da Igreja, a liturgia e a riqueza mística do seguimento de Cristo, para que todos possam dizer “Eu sou cristão”, tal como afirmou o nosso Vigário Geral, Pe Hélder Fonseca Mendes, na missa de festa em honra de Nossa Senhora do Rosário.
Sítio Igreja Açores- A história dos Açores está intimamente ligada à da Igreja. Que aspectos destacaria desse trabalho de povoamento a par de evangelização feito aí nas Flores?
Pe Davide Barcelos- Julgo que na história dos Açores e consequentemente na história da Ilha das Flores, a Igreja desempenhou um papel fundamental.
Não se pode fazer a história das nossas ilhas sem realçar o contributo da Igreja. A Igreja acompanhou os povoadores, que supostamente já seriam cristãos, continuando ao longo do tempo o processo de evangelização. É de realçar que no início do povoamento da ilha das flores é construída junto ao porto das Lajes uma ermida dedicada ao Espírito Santo, o que manifesta a fé do povo que aqui chegou. A mesma fé fortificou-se ao longo dos séculos, erguendo-se igrejas, maioritariamente dedicadas a Nossa Senhora, bem como as chamadas Casas do Espírito Santo, que se destacam dos impérios ou teatros construídos noutras ilhas. Também é de realçar que esta evangelização contribuiu para uma forte piedade cristã, que se manifestou nos inúmeros sacerdotes e religiosas dados à Igreja. Note-se que, neste momento, temos ao serviço da Igreja 12 sacerdotes e 4 religiosas naturais da ilha.
Sítio Igreja Açores- Mas hoje os tempos são outros…
Pe Davide Barcelos– Por isso é que é necessário continuar o trabalho de evangelização na Ilha das Flores, uma vez que sofremos dos problemas comuns a todos os lugares: o secularismo, a descrença, a falta de participação e prática cristã, o materialismo, o individualismo, o hedonismo, etc… É preciso ter presente que o mundo de hoje apresenta-nos desafios. É essencial que os saibamos ver para podermos fazer um trabalho eficaz e sem enganos.
Sítio Igreja Açores- Nas orientações de pastoral, o Senhor Bispo fala na substituição de uma pastoral de manutenção por uma pastoral de proximidade. Como vai ser materializada esta ideia na Ouvidoria das Flores?
Pe Davide Barcelos- Acatamos com dedicação esta orientação pastoral, dando-lhe grande destaque na programação pastoral da Ouvidoria. Em primeiro lugar, decidimos que a pastoral escolar ficaria ao cuidado do Diácono Eurico Caetano, deixando-nos mais disponíveis para toda a restante pastoral, como por exemplo dos doentes, catequética, litúrgica, etc. Sendo assim, temos mais tempo para ir ao encontro das pessoas, proporcionando um espaço de atendimento e ajuda espiritual, quer pela direcção espiritual ou pela confissão.
Assim, nas freguesias onde há Eucaristia de semana, dedicaremos uma hora para atendimento. Nas duas vilas estaremos presentes, toda a tarde, devido ao maior número de população.
Também foi necessário reorganizar o horário do cartório inter-paroquial , demonstrando que estamos disponíveis para acolher, escutar e ajudar quem nos procura.
Isto não é nada de especial e nada que não se faça em outros lugares. Mas antes, não nos era possível fazer, devido à Escola e à gestão das Instituições. É preciso ter presente, que a Escola é uma Paróquia e admiro muito os padres que conseguem conciliar os dois trabalhos, porque ambos são muito absorventes. E imagine-se 10 paróquias, 3 IPSS’s e Escola. As pessoas eram as últimas e o que queremos fazer neste ano pastoral é inverter isto, primeiro pessoas e depois o resto.
Houve que fazer escolhas! Que foram difíceis, mas o que vemos é que as pessoas ao saberem que estamos disponíveis, procuram-nos, para se confessarem, direcção espiritual ou apenas para falarem.
Sítio Igreja Açores- Ser Igreja num sítio pequeno torna-se mais difícil. Como é que se gere uma ouvidoria que tem paróquias com 30 habitantes.
Pe Davide Barcelos- Quando aqui cheguei, há 8 anos, juntamente com o Pe Vítor Medeiros, atual pároco da Ribeirinha e Santa Bárbara, da Ribeira Grande, ambos vínhamos de ambientes diferentes. Ele de São Miguel e eu do Faial, mas trazíamos como objectivo aplicar a pastoral “in solidum” na Ilha das Flores, que tanto se ouvia falar nas cadeiras do Seminário.
É preciso referir que, inicialmente, enquanto seminarista, não via com bons olhos este tipo de pastoral, visto que, para mim a paróquia era a grande referência. Vir para as Flores foi então, um grande desafio.
Foi necessário explicar bem às pessoas que iriamos trabalhar “in solidum” em nove paróquias, não existindo apenas um pároco, mas estando toda a pastoral dividida pelos dois. Realçamos que iriamos continuar o trabalho iniciado pelos padres Ângelo Valadão e Abel Vieira. Um sinal deste trabalho de equipa começou precisamente pela residencial paroquial em comum, que se fixou na Vila das Lajes. Lembro-me perfeitamente de algumas pessoas de Santa Cruz dizerem “muitos domingos vamos ficar sem missa”. O que nunca aconteceu! O facto da residência ser nas Lajes teve a sua importância para a solidificação deste trabalho. Porque o certo seria residirmos em Santa Cruz, onde tem o maior centro populacional e onde todos os serviços estão concentrados. Mas religiosamente, vivermos nas Lajes faz com esta parte da ilha não se sinta abandonada, obrigando-nos a passar por duas ou três freguesias. As pessoas vêem o senhor padre passar… isto é importante! Vivermos em Santa Cruz levaria a não estarmos tão presentes nas freguesias do concelho das lajes, que até são em maior número.
Sítio Igreja Açores- A experiência in solium, apesar de tudo, é recente. Como é que as populações reagiram?
Pe Davide Barcelos– O trabalho “in Solidum” tem neste momento oito anos completos. Penso que já é algum tempo! No início as comunidades reagiram com algum receio, como já o disse anteriormente, mas o caminho já estava preparado pelo Pe Ângelo e Pe Abel.
Quando começamos foi, por vezes, necessário “dar um murro na mesa”, caso contrário não o teríamos conseguido, porque como em tudo há sempre alguém que puxa para trás.
Só como exemplo, quando cá chegamos as pessoas perguntavam qual de nós era o padre de Santa Cruz e das Lajes e corrigíamos sempre, nós somos padres da ilha. A questão também era levantada pelos nossos emigrantes quando visitavam a ilha, sobretudo no Verão. Hoje a aceitação é geral, o que leva a que quando questionados as pessoas respondam: são os nossos padres. Penso que esta frase diz tudo.
Sítio Igreja Açores- Como é que desenvolveram, então, o trabalho?
Pe Davide Barcelos- Inicialmente dividimos a ilha em duas zonas pastorais, Santa Cruz e Lajes, que coincidiam com os Concelhos, juntando as pessoas nos diversos tipos de reuniões. Sempre afirmamos a necessidade de trabalhar em conjunto para a continuidade das comunidades.
Não foram fáceis os primeiros 3 anos. Foi necessário fazer uma grande sensibilização, visto que a ilha das Flores possui uma população muito envelhecida e educada com a mentalidade assente paróquia. Aproveitando os alicerces dos padres Ângelo e Abel fomos vincando a ideia, até que as pessoas começaram a afirmar, “já dizia o Pe Ângelo que um dia seria assim”.
Com a vinda do Pe Rúben Sousa o trabalho “in solidum” ganhou uma maior estabilidade, foi-se abandonando a ideia das Zonas Pastorais de Santa Cruz e Lajes e começou-se a falar de uma pastoral de Ilha. Entendemos a ilha das Flores, como uma única e grande paróquia, dividida em 12 igrejas. É preciso deixar claro, que cada paróquia mantém a sua autonomia jurídica, mas pastoralmente funcionamos em conjunto. Para uma boa gestão montamos o Cartório Inter-paroquial nas Lajes, com os Livros de Registos de todas as paróquias. Hoje, este trabalho está amadurecido, embora diferente do início.
Como disse o nosso Bispo na última visita pastoral de 2009 “este trabalho é irreversível, pois não era só uma questão prática e de necessidade, mas uma questão de princípio e é um caminho a continuar, aprofundar e a consolidar”.
É o que pensamos e temos feito!
Sítio Igreja Açores- Como se “faz e vive igreja” desta maneira?
Pe Davide Barcelos- Penso que a resposta é trabalhando, não cruzando os braços e quando as coisas não correm bem, repensar e começar de novo. É ter consciência de que não podemos fazer tudo, que somos limitados… Como nos diz o nosso bispo na sua última nota pastoral, «os tempos mudaram, mas não deixaram de ser uma “uma nova oportunidade” para o anúncio do Evangelho. A situação actual não é mais dramática do que no passado para a missão evangelizadora da Igreja».
Hoje é necessário estudar o mundo em que vivemos para podermos dar uma resposta adequada à variedade de situações com que nos deparamos, pois apesar de ser bom o modelo pastoral em vigor, é sempre indispensável perceber como vivem as pessoas, o que sentem, o que as preocupa, quais as suas necessidades, de forma que a Igreja possa amparar os seus membros.
Sítio Igreja Açores- Mas já não vivemos “um tempo de cristandade” como diz o Bispo de Angra?
Pe Davide Barcelos- O tempo que atravessamos é desafiante, basta olharmos com atenção e vermos que o homem foi-se esvaziando do verdadeiro conteúdo interior e transcendente. Acabo de ler um livro que me tem ajudado muito a discernir os nossos tempos. Nele se diz que “os valores humanos são substituídos pelos interesses superficiais de cada um. À informação televisiva chama-se-lhe de cultura. Do cinema, diz-se que é a biblioteca actual e sala de leitura permanente. Nos meios de comunicação, citam-se os filmes mais do que os livros. A religião passou de interior e determinante para o homem e para o seu destino, a ser meramente um dado cultural. Na verdade, nem os sacramentos como o Baptismo, Confirmação e a Eucaristia são compromissos vitais”.
Nota-se que o homem é cada vez mais indiferente ao verdadeiramente sentido da sua vida, ao transcendente. Os grandes temas da sua existência já não lhe interessam. Portanto, não tem certezas firmes nem convicções profundas. Só o presente tem interesse e, do presente, só lhe agrada aquilo que se pode ver e tocar.
Antes o valor supremo era Deus, hoje o valor supremo é aproveitar a vida. Os valores essenciais da religião cristã perderam a sua força devido ao consumismo, ao naturalismo e ao materialismo reinantes, seguidos com fervor por uma sociedade que se vai descristianizando e perante os quais, o homem fica muitas vezes desamparado.
Perante tudo isto, a Igreja tem de dar uma resposta leal, humilde e corajosa aos problemas dos tempos presentes. E ser Igreja hoje, seja nas Flores seja em qualquer outra parte do mundo, exige que a mensagem do Evangelho seja apresentada a todos, a fim de que todos os homens possam acreditar e ser salvos.
Sítio Igreja Açores- Quais são as grandes prioridades de pastoral para o próximo ano em termos de ouvidoria?
Pe Davide Barcelos- Uma das nossas grandes prioridades será a celebração dos 500 anos da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário da Vila das Lajes, que irá absorver todo o ano. E, tendo em conta, que queremos dar uma dimensão de ilha, muitas das actividades pastorais passarão por este acontecimento e pela Vila das Lajes.
Outra, será fazer uma análise sobre o trabalho de pastoral “In Solidum”, examinando com seriedade o que correu bem e o que correu mal para podermos delinear um caminho para o futuro. Esta análise, que terá de ser feita com o Conselho Pastoral de Ilha e com a comunidade em geral, também servirá como preparação para a visita pastoral em Abril. Queremos fazer uma avaliação a partir de nove pontos que o nosso Bispo nos deixou nas conclusões da última visita pastoral de 2009.
Um outro ponto que urge reflectir será a vida de cada paróquia, a sua dinâmica pastoral, tendo presente as seguintes questões: Como está a nossa paróquia? Conhecemos bem a realidade, pelo menos a realidade religiosa da nossa paróquia? Encontrar resposta para estas questões é importante porque partindo de uma reflexão séria, olhando o passado e o presente, poderemos preparar um caminho para o futuro, estabelecendo metas e desafios.
O Papa Francisco diz que é necessária uma renovação eclesial. Renovação que é inadiável e que passa sobretudo pela paróquia. Diz no número 28 da Evangelii Gaudium «A paróquia não é uma estrutura caduca; precisamente porque possui uma grande plasticidade, pode assumir formas muito diferentes que requerem a docilidade e a criatividade missionária do pastor e da comunidade… se for capaz de se reformar e adaptar constantemente, continuará a ser a própria Igreja que vive no meio das casas dos seus filhos e das suas filhas».
Outra será a realização de algumas obras, mais concretamente, a Casa Paroquial de Santa Cruz e Igreja da Fajãzinha. São duas obras muito grandes, mas que tínhamos todo o gosto em realizá-las.
Julgo que este ano será sobretudo um ano de reflexão, porque na altura da Visita Pastoral, a ilha das Flores estará completando nove anos de Pastoral “In solidum”, quase uma década de trabalho de conjunto, um trabalho exigente para os sacerdotes e comunidades, mas que penso ser importante continuar.
Realço que, nesta matéria, é essencial também envolver o Seminário, principal escola na formação dos futuros sacerdotes, onde é necessário falar deste tipo de trabalho pastoral, sem rodeios e sem medos, mas como algo relevante. Digo isto, porque verifico que os nossos seminaristas quando se ordenam gostam muito de afirmar que estão disponíveis para servir a Igreja Diocesana, mas a Igreja Diocesana vai desde Santa Maria ao Corvo. Todas as ilhas têm a sua dinâmica própria e todas elas têm as suas qualidades e defeitos, mas são porção do Povo de Deus.
Sítio Igreja Açores- Este ano, para além dos dois sacerdotes que gerem as 10 paróquias “In solidum” há um diácono. Como é que isso se traduz na organização de trabalho?
Pe Davide Barcelos- Ao longo destes anos contamos com 2 sacerdotes a trabalhar em conjunto nas 10 Paróquias, usufruindo da colaboração de um diácono permanente, filho da terra. Já a paróquia da Fazenda, concelho das Lajes, tem como Pároco, o Pe José Trigueiro de 79 anos de idade. No ano passado tivemos a ajuda do Pe Francisco Xavier, que estava em ano sabático, ajuda esta que veio provar a necessidade de mais um sacerdote.
Já há alguns anos temos vindo a alertar a Diocese para a necessidade de colocar três sacerdotes nesta pastoral “In Solidum”. Um que estivesse responsável pelas aulas de Educação Moral e Religiosa Católica, mais voltado para o trabalho catequético e juventude e os outros dois centrados no restante trabalho pastoral e Instituições Particulares de Solidariedade Social, com o objectivo de pôr em prática a proximidade de que tanto se fala. Como já referi temos 3 Instituições Particulares de Solidariedade Social sobre a nossa responsabilidade: Centro de Bem Estar Social da Paróquia de Santa Cruz das Flores, creche e Jardim de Infância “O Girassol”, a Cáritas Paroquial de Nossa Senhora do Rosário, que funciona como Cáritas Ilha, bem como, a Santa Casa da Misericórdia das Lajes das Flores, a qual fomos chamados a gerir e agora com uma mesa administrativa.
A necessidade de colocar um terceiro sacerdote na pastoral “In Solidum” prende-se também com uma questão de continuidade, imprescindível para a estabilidade das comunidades. Muitas foram as tentativas feitas, concretizando-se agora com a colocação do Diácono Eurico Caetano, não só para nos auxiliar, mas pensamos também para a continuidade.
Com a vinda deste diácono torna-se possível o trabalho pastoral que desejávamos, sendo o mesmo enriquecido, o que prova que tínhamos razão, ao solicitarmos um terceiro membro para a equipa.
Sítio Igreja Açores- A missão do sacerdote é a mesma em qualquer parte. Mas não é seguramente a mesma coisa ser padre nas Flores e ser padre em São Miguel. Como é que se evita uma quase omnipresença do sacerdote em todos os eventos?
Pe Davide Barcelos– Ser padre nas Flores e ser padre em São Miguel é exactamente a mesma coisa! Tudo depende da capacidade que nós temos de trabalhar e de distribuir o serviço. E aqui é muito importante saber delegar serviço, responsabilizar as pessoas pelas tarefas onde não é necessário o padre estar presente.
Neste sentido, foi necessário um trabalho longo e de grande amadurecimento, mas penso que hoje está bem melhor de quando aqui chegámos.
Não podemos estar em tudo, estamos no essencial e o resto vai-se formando as pessoas para assumirem as responsabilidades. Nós, os padres muitas vezes temos é medo de delegar, de perder o domínio, mas este trabalho é necessário, senão morremos afogados em tantos eventos e reuniões e deixamos o essencial para trás, a relação com o Senhor.
Sítio Igreja Açores- Que balanço faz para a Igreja?
Pe Davide Barcelos- O balanço que faço para a Igreja das Flores é positivo. Sinto-me feliz a trabalhar neste projeto, com a atual equipa do clero. Podemos dizer que a pastoral “In Solidum” ajuda-nos a sentir a vivência em comunhão, a exemplo das comunidades primitivas, como nos vem relatado no livro dos Atos dos Apóstolos. Peço que Deus me dê a força necessária para continuar a desempenhar a missão que me confiou, seja onde for.