Por Carmo Rodeia
Dois terços da população do mundo, num terço dos países, vivem situações de discriminação ou perseguição por causa da sua fé . A situação piorou nos últimos dois anos diz o Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, divulgado pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre na passada terça – feira. Os cristãos continuam a ser o grupo mais perseguido e a pandemia ajudou a agravar a situação.
Os dados, que podem ser consultados de uma forma mais profunda na página da AIS, dão conta das zonas mais castigadas, onde a tortura, a discriminação ou intolerância , abrangendo um vasto território que vai desde o Extremo Oriente asiático (Coreia do Norte, China, países do Sudeste asiático, Índia), passa depois para o Médio Oriente (onde Israel, Palestina e Líbano são as únicas excepções, ainda que sob vigilância), continua pelo Norte de África e desce, depois, por grande parte dos países da África Central.
Europa, Américas, Austrália e Nova Zelândia são as zonas do mundo mais respeitadoras da liberdade religiosa, com algumas excepções: na Europa de Leste, há problemas que colocam a Rússia, Ucrânia e Bielorrússia sob observação neste capítulo de respeito pelos direitos humanos fundamentais; igualmente sob observação, na América Latina, estão Guatemala, Haiti, Honduras e México, enquanto Cuba, Nicarágua e Venezuela são listados no segundo grau mais grave de violações.
O relatório resume a situação em pontos chave: radicalização de milícias que se reivindicam implicadas no islão e que recrutam membros através de plataformas digitais; culpabilização das minorias religiosas pela pandemia; intensificação da perseguição a crentes e violência sexual utilizada contras as minorias; tecnologias mais e mais sofisticadas de “vigilância repressiva” usadas contra vários sectores; perseguições severas, entre outros.
Este mal, que não é de agora, tendo atravessado toda a história da civilização com a Igreja Católica muitas vezes (talvez de mais!) do lado do agressor, é um desafio à nossa humanidade. A liberdade religiosa ou de crença é um bem precioso, como já foi definido pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que o considerou “um dos fundamentos de uma sociedade democrática”.
“As pessoas continuam a procurar um sentido último na vida, a acarinhar as suas convicções existenciais, a prestar culto juntamente com outros e a criar os seus filhos em conformidade com os valores que têm em alta estima. Viver juntos numa sociedade pluralista e democrática requer uma cultura de respeito, que não floresceria sem liberdade religiosa ou de crença” refere o relatório.
Como dizia previamente, as perseguições têm sido uma constante ao longo do tempo. Também já as fizemos, mas hoje parece-me razoavelmente consensual o repudio pelas perseguições em nome de Deus. Além de despropositadas encerram em si mesmas uma contradição absoluta: Deus é amor e nunca em seu nome, se pode tirar a vida ao irmão ou sequer fazer-lhe mal.
São muitos os exemplos daqueles que respondem à opressão com mansidão, procurando vencer o mal com o bem.
Estas pessoas, como lembrava o Papa no dia de Santo Estevâo, também ele mártir, são testemunhas que iluminam a aurora de Deus nas noites do mundo.