Cónego Adriano Borges lembra dificuldades decorrentes da pandemia e diz que este ainda não é o tempo de uma “ celebração habitual”
Pelo segundo ano consecutivo as festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres em Ponta Delgada não serão celebradas da forma habitual com várias procissões e momentos de veneração da imagem. A festa que terá o momento alto na Eucaristia de domingo, será presidida pelo bispo de Angra, D. João Lavrador.
Em comunicado a que o Igreja Açores teve acesso, o reitor lembra que a situação de pandemia, em especial em São Miguel, marcada pela incerteza, determina que este ano ainda não existam condições para todos regressarem ao Campo de São Francisco, nos próximos dias 8 e 9 de maio. Por isso, em articulação com a Mesa da irmandade sublinha que a “festa do Senhor ainda terá de ser vivida de forma marcadamente espiritual, à distância, sem a possibilidade de nos encontrarmos todos presencialmente, e de novo, no `Campo do Senhor´. A causa é, infelizmente, bem conhecida de todos nós” refere o cónego Adriano Borges.
Numa nota intitulada “Senhor Santo Cristo! Reforça a nossa Esperança” esclarece que com a aproximação da data das festas “ todos percebemos que face ao atual contexto será muito difícil celebrarmos a nossa festa, a festa de todos os açorianos, nos moldes habituais”.
“Uma vez mais teremos de ser fortes, como temos sido: fortes e resilientes, cumpridores e respeitadores, porque a isso nos convoca a nossa fé” refere o sacerdote.
“A situação pandémica trouxe perdas e sofrimento, e em alguns casos, irreversíveis. Sentimo-nos mais próximos do Senhor, fazendo a dura experiência da cruz, no que ela tem de sofrimento. Mas também sabemos que é a cruz que nos salva e, por isso, nela encontramos o sinal da esperança” adianta ainda.
“Esta situação durará ainda mais algum tempo, embora este tempo seja tão indeterminado, mas não durará para sempre. Desejaríamos que fosse já amanhã o seu fim, ou pelo menos que soubéssemos a data de desfecho. Não sabemos! E ninguém sabe ao certo!” constata o cónego Adriano Borges que apela, uma vez mais, ao respeito pelas diretivas das autoridades de saúde.
“Resta-nos a confiança em quem tem responsabilidades na saúde pública; continuaremos a respeitar, escrupulosamente, todas as regras que nos são pedidas. A nossa fé desafia-nos a sermos parte da solução e nunca do problema”, frisa.
“Como Reitor deste Santuário apelo a que cada um de nós respeite as indicações da autoridade de saúde protegendo-se a si e aos seus e, assim, respeitando todos os outros” refere o COMUNICADO , ao sublinhar a verdadeira dimensão de uma peregrinação.20
“A maior e mais profunda peregrinação é aquela que fazemos ao interior do nosso coração, aquela que nos leva até ao verdadeiro encontro com o Senhor” ressalva citando o exemplo de resiliência dos emigrantes.
“Pela distância sabem bem a importância destas palavras. Ainda não será este ano que poderão vir como desejariam. Estamos sempre prontos para vos acolher quando puderem e quiserem vir, em qualquer altura do ano. E, juntos, celebraremos a nossa fé. Mas façamo-lo sempre em segurança” esclarece.
O sacerdote termina a comunicação pedindo “alegria e esperança” na vivência das festas pois esse é “o maior e mais importante testemunho de fé”.
A festa em honra do Senhor santo Cristo dos Milagres é, a seguir ao Espírito Santo, a maior devoção dos açorianos fazendo convergir, anualmente, no quinto domingo a seguir à Páscoa milhares de fieis para o Campo de São Francisco em Ponta Delgada. Este culto foi iniciado pela religiosa Teresa da Anunciada, cujo processo de canonização está agora na fase de recolha de fundamentação histórica e teológica.
Durante dois dias, a cidade de Ponta Delgada cobre-se de tapetes de flores e a imagem do Ecce Homo saí às ruas percorrendo todo o centro histórico da cidade açoriana, durante mais de quatro horas, no domingo do Senhor. Habitualmente há uma missa Campal e a festa religiosa propriamente dita, começa no sábado com a mudança da Imagem para a Igreja do Senhor Santo Cristo onde permanece durante cerca de 24 horas. Habitualmente há ainda a Vigília que por motivos de espaço, de há alguns anos a esta parte, decorre na Igreja de São José. Nesta altura a cidade é visitada por muitos emigrantes, especiais devotos do Senhor Santo Cristo dos Milagres.