Celebração no Domingo da Divina Misericórdia, junto à Praça de São Pedro, reuniu reclusos, refugiados e pessoas com deficiência
O Papa questionou hoje, na celebração do Domingo da Divina Misericórdia, uma fé “estéril”, em que não existe partilha dos bens nem atenção ao sofrimento dos outros.
“Se o amor acaba em nós mesmos, a fé evapora-se num intimismo estéril. Sem os outros, torna-se desencarnada. Sem as obras de misericórdia, morre”, declarou, na homilia da Missa a que presidiu na igreja do Espírito Santo, em Sassia, junto à Praça de São Pedro, na Festa da Divina Misericórdia.
A intervenção recordou a passagem dos Atos dos Apóstolos que fala sobre a vida da primeira comunidade cristã, após a ressurreição de Jesus, indicando que “ninguém chamava seu ao que lhe pertencia”, mas tudo era “comum” e “não havia ninguém necessitado”.
“Não é comunismo, mas Cristianismo no seu estado puro”, sustentou Francisco.
Para o Papa, estes primeiros cristãos descobriram que tinham em comum “a missão, o perdão e o Corpo de Jesus”, pelo que a partilha dos bens surgiu como uma “consequência natural”.
“Ali viam Jesus, ali está Jesus, nas chagas do necessitado”, apontou.
Francisco convidou os católicos a superar a indiferença perante os outros, para que não vivam uma fé “a meias, que recebe mas não dá, que acolhe o dom mas não se faz dom”.
“Hoje é o dia de nos perguntarmos: ‘Eu, que tantas vezes recebi a paz de Deus, o seu perdão, a sua misericórdia, sou misericordioso com os outros? Eu, que tantas vezes me alimentei do seu Corpo, faço alguma coisa para matar a fome a quem é pobre?”.
A Missa contou, simbolicamente, com a presença de um grupo de reclusos e reclusas, uma representação de enfermeiras do Hospital de Espírito Santo de Sassia, a pessoas com deficiência, uma família de migrantes da Argentina, jovens refugiados – da Síria, Nigéria e Egito -, um voluntário da Caritas Síria e uma representação de missionários da misericórdia, instituídos durante o último Jubileu extraordinário (dezembro de 2015-novembro de 2016).
O Papa defendeu que os católicos devem ser “testemunhas de misericórdia”, a partir da experiência de receber a misericórdia de Deus, para quem cada pessoa é “insubstituível”.
“Deus acredita em nós mais do que nós acreditamos em nós mesmos”, afirmou.
“Para Deus, ninguém é falhado, ninguém é inútil, ninguém é excluído”, acrescentou.
Francisco recordou a experiência dos discípulos de Jesus, que recuperaram a paz após o encontro com Cristo ressuscitado, passando “do remorso à missão”.
O Papa disse que todos devem “abrir o coração para se deixar perdoar”, recomendando a Confissão, como sacramento da “ressurreição, misericórdia pura”.
“Tudo nasce daqui, da graça de ser ‘misericordiados’. Aqui começa o caminho cristão. Se, pelo contrário, nos apoiamos nas nossas capacidades, na eficiência das nossas estruturas e dos nossos projetos, não iremos longe. Só se acolhermos o amor de Deus é que poderemos dar algo de novo ao mundo”, sustentou.
A Igreja do Espírito Santo em Sassia é particularmente dedicada à promoção da espiritualidade de Santa Faustina Kowalska, que inspirou São João Paulo II a instituir a celebração da Divina Misericórdia, no ano 2000.
No final da celebração, o Papa presidiu à recitação da oração do Regina Caeli.
“Vós representais algumas realidades em que se concretiza a misericórdia, a proximidade, o serviço, a atenção às pessoas em dificuldade. Desejo que vos sintais sempre ‘misericordiados’ para serdes misericordiosos”, disse à assembleia.
Francisco esteve durante vários minutos a cumprimentar as várias pessoas que participaram na Missa.
(Com Ecclesia)