Francisco foi eleito a 13 de março de 2013 e é o primeiro Papa na história da Igreja a conviver com um Papa Emérito
Os oito anos de pontificado do Papa Francisco, que se assinalam no sábado, dia 13 de março, têm sido marcados pela luta contra uma cultura do descartável, na natureza e na vida humana, e na promoção de uma Igreja em saída.
O Papa tem estado próximo dos mais pobres e excluídos, na defesa de uma globalização mais plural, que respeite a identidade de todos e os excluídos, ao mesmo tempo que defende uma ‘refundação da Europa’, particularmente necessária perante as crises de refugiados e do terrorismo internacional.
Francisco tem repetido mensagens em favor da paz nas várias regiões do mundo afetadas por conflitos, assumindo a defesa dos cristãos no Médio Oriente e criticando quem justifica ataques terroristas com as suas convicções religiosas.
Prova disso foi a última visita de Francisco ao Iraque, no passado fim de semana, criticada no seio da Igreja como uma “teimosia” mas que, aos olhos do mundo, foi um dos gestos mais emblemáticos do contributo da Igreja Católica, e de um Papa em particular, para a construção da paz.
Os gestos e o pensamento
Francisco tem sido um Papa de gestos que marcam e que ficam na memória, ciente de que a missão de qualquer pontífice é ir sempre um passo mais à frente do que o pesado corpo da Igreja. Como por exemplo aconteceu com a convocação de um Jubileu da Misericórdia, com a abertura da Porta Santa em Bangui, capital da República Centro-Africana, antes da Basílica de São Pedro, a 29 de novembro de 2015, ou logo na sua primeira semana Santa ter ido lavar os pés a reclusos de uma cadeia romana. Ou na sua primeira viagem para fora do Vaticano ter ido a Lampedusa, a um campo de refugiados.
As encíclica ‘Laudato Si’, de 2015 e Fratelli Tutti, em 2020 e, pleno ano da primeira pandemia deste século, sobre ecologia integral e fraternidade universal, respetivamente, são dois documentos estruturantes e fundamentais para compreender a revolução que Francisco propõe à Igreja e a toda a humanidade.
Se há palavras-chave que sirvam para anunciar e caracterizar um pontificado globalização e proximidade são duas delas. Francisco é um Papa global que se faz próximo de todos e defende para a Igreja essa cultura da proximidade ao jeito da parábola do Bom samaritano. Por isso, os excluídos, as vítimas da globalização, os invisíveis são aqueles que lhe merecem mais atenção.
E o mais curioso é que a oposição ao Papa é mais ruidosa no interior da Igreja do que fora dela, o que também se explica com esta atenção permanente às periferias. Daí que a maior dificuldade deste pontificado seja a reforma da própria Cúria romana, nomeadamente no que toca à gestão financeira do Vaticano e à sumptuosidade da “corte” romana.
Neste 8 anos de pontificado Francisco teve de conviver pela primeira vez com a figura de um Papa Emérito, quantas vezes invocado pelos seus opositores. Essa colagem foi particularmente visível durante no período que se seguiu ao Sínodo da Amazónia, que despoletou a questão do celibato e da ordenação sacerdotal de homens casados.
Um Papa do outro lado do mundo
O cardeal Jorge Mario Bergoglio foi eleito como sucessor de Bento XVI a 13 de março de 2013, assumindo o inédito nome de Francisco; é o primeiro Papa jesuíta na história da Igreja e também o primeiro pontífice sul-americano. Poucos daqueles que enchiam a Praça de São Pedro conheciam o cardeal argentino, mas ele fez questão de se apresentar de uma forma bem direta e simples que haveria de marcar para sempre a relação com o mundo: veio “do fim do mundo”, disse como cartão de visita. E veio mesmo. A Roma dos Papas é diferente dos gostos e dos hábitos de Francisco, que fez sempre questão de andar de transportes públicos, rezar junto dos mais pobres, celebrar missas nos bairros de lata.
Prometeu ser breve, num pontificado que não desejava nem lhe estava na massa do sangue. Há momentos em que o seu semblante transporta uma carga de tal forma simbólica que basta olhar para ela e ver o quão penoso lhe é este exercício, sobretudo quando preside no Vaticano, sendo notória a mudança de semblante sempre que se junta á assembleia que enche, ou enchia a Praça de São Pedro. A bênção Urbi et Orbi de março de 2020, mesmo no momento crucial da pandemia, foi um dos gestos mais simbólicos que um Papa poderia ter feito. E Francisco fê-lo sozinho, numa praça que nunca esteve tão cheia de Mundo.
Ordenado padre a 13 de dezembro de 1969, foi responsável pela formação dos novos jesuítas e depois provincial dos religiosos na Argentina (1973-1979).
João Paulo II nomeou-o bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992 e foi ordenado bispo a 27 de junho desse ano, assumindo a liderança da diocese a 28 de fevereiro de 1998, após a morte do cardeal Antonio Quarracino.
O primaz da Argentina seria criado cardeal pelo Papa polaco a 21 de fevereiro de 2001, ano no qual foi relator da 10ª assembleia do Sínodo dos Bispos.
Tem como lema ‘Miserando atque eligendo’, frase que evoca uma passagem do Evangelho segundo São Mateus: “Olhou-o com misericórdia e escolheu-o”.
Fátima e os Romeiros açorianos
Entre as viagens de Francisco esteve a visita que fez a Fátima por ocasião do Centenário das Aparições, em maio de 2017, altura em que canonizou os dois primeiros santos de Fátima Francisco e Jacinta Marto.
Este é também o Papa que se cruzou de forma especial com os açorianos, nomeadamente com os Romeiros de São Miguel, a quem recebeu na Praça de São Pedro, em dezembro de 2014. Francisco não visitou os Açores, como São João Paulo II, mas foi o único Papa que elogiou publicamente uma das marcas essenciais da religiosidade de São Miguel: as romarias quaresmais.
Na ocasião o sumo Pontifice recebeu das mãos do Grupo Coordenador um Terço dos Romeiros de São Miguel e um `ramalhete espiritual´.
No “ramalhete espiritual”, os romeiros fazem uma descrição das romarias, integram-nas no contexto social, cultural e religioso da ilha de São Miguel e explicam este carisma penitencial da Quaresma, o tempo que antecede a Páscoa no calendário litúrgico da Igreja Católica e que este ano, pelo segundo consecutivo em quase 500 anos de história, não saíram à rua por causa da pandemia.
Na altura, na saudação em português, o Papa dirigiu uma mensagem aos Romeiros de São Miguel: “Queridos amigos, obrigado pela vossa presença e sobretudo pelas vossas orações! Peçamos ao Espírito Santo, artífice da unidade da Igreja, que aplane a estrada para a plena comunhão de todos os cristãos no Senhor Jesus. Que Deus vos abençoe a vós e a vossos entes queridos”, declarou.
Francisco, durante este Pontificado já foi a quatro dos cinco continentes e deixou gestos muito significativos. Determinou a realização de três sínodos- Família, Juventude e Amazónia- e publicou vários documentos entre eles uma alteração ao catecismo da Igreja Romana, retirando do seu texto o incompreensível apoio à pena de morte.
O Diálogo Inter-religioso e os esforços para uma igreja mais pobre junto dos pobres, têm sido o seu maior compromisso.
(texto elaborado com Ecclesia e Vatican News)