Professora Catedrática açoriana lamenta o momento e a forma como os deputados aprovaram a legalização da eutanásia
“A eutanásia de um país que sofre” é o título do artigo que Maria do Céu Patrão Neves escreveu este sábado no jornal Público a propósito da aprovação da Eutanásia no parlamento nacional, no passado dia 29 de janeiro.
“É trágico que os deputados que elegemos para nos representarem tenham colocado na sua agenda de Janeiro, no mês em que mais portugueses morreram, a aprovação de um novo caminho para a morte” começa por dizer a eticista que tem sido uma das vozes mais criticas no espaço público açoriano, e nacional, sobre esta questão da eutanásia.
“É trágico que os deputados que elegemos para nos representarem, para serem a nossa voz perante os demais poderes, para promoverem os nossos interesses e o bem comum, para nos defenderem de erros e de negligências do governo, tenham colocado na sua agenda de Janeiro, no mês em que mais portugueses morreram, a aprovação de um novo caminho para a morte” refere.
A antiga eurodeputada, eleita pelo PSD, lamenta a falta de “pudor e de sensibilidade que devia ter havido” num contexto em que todos os dias milhares de pessoas lutam para salvar vidas, no contexto da pandemia.
“A oportunidade da decisão tomada, para além de qualquer juízo sobre o conteúdo da nova lei, é ofensiva” afirma Maria do Céu Patrão Neves ao lembrar que esta decisão “ ofende todos os doentes covid-19, desde os que estão em coma induzida nas unidades de cuidados de saúde sem se saber se alguma vez acordarão, até aos assintomáticos que passam os dias na angústia de terem infectado familiares ou amigos que venham a desenvolver as conhecidas formas severas da doença”, mas “ofende todos os outros doentes também que correm o risco de uma morte prematura por incapacidade dos serviços de saúde os cuidarem de forma adequada e em tempo útil” e, ainda, “ofende todos os profissionais de saúde que há muito abdicaram da sua vida pessoal e familiar para se darem totalmente ao esforço de salvar a vida de quem precisa desesperadamente deles”.
“ Não, senhores deputados, vocês não ajudaram” acusa ao dizer que “não vale a pena dizer que a aprovação da designada morte assistida nada tem a ver com a ausência de assistência à vida de que o nosso país padece de forma ímpar”.
“Este desfasamento entre os políticos e os cidadãos que deviam servir, paradigmaticamente assinalado com esta extemporânea aprovação da eutanásia, é a origem de muitos males que atingem a saúde da democracia, sem que alguém a queira eutanasiar – suponho”, diz a professora catedrática da Universidade dos Açores.
Maria do Céu Patrão Neves fala mesmo em “arrogância política” na condução deste processo durante o qual foram “trocados valores por votos”
“Os pareceres dos especialistas foram negligenciados, porque, afinal, só interessam quando corroboram a decisão política e não quando a contrariam, como aconteceu com a Ordem dos Médicos e o Conselho Nacional de Ética”, refere ainda.