Por Carmo Rodeia
O confinamento teve um forte impacto na saúde mental da população idosa, com aumento dos sintomas depressivos e a redução drástica da qualidade de vida.
Os primeiros resultados de um estudo da Universidade de Coimbra, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), sobre o impacto do isolamento social no bem-estar físico e psicológico dos idosos, veio confirmar aquilo que todos suspeitávamos.
Sandra Freitas, que lidera a equipa do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, autora do estudo, em declarações ao Jornal de Notícias na passada semana dizia que os resultados confirmam que há um forte impacto do isolamento social quer na estabilidade emocional e bem-estar, quer em termos de variáveis psicopatológicas, nomeadamente com o aumento da sintomatologia depressiva e a diminuição da perceção de qualidade de vida, que foi drasticamente alterada. Ou seja, o confinamento refletiu-se ainda no aumento da ansiedade não só dos idosos, mas também dos cuidadores informais.
Perante o aumento das queixas, a maioria dos idosos, explica a investigadora, recorreu ao médico de família para pedir apoio psicológico e aguarda acompanhamento.
Julgo que não é difícil percebermos o que aqui está em causa. Aliás, os especialistas têm alertado para as consequências do isolamento ao nível da saúde mental das pessoas. Uma situação que se agrava, naturalmente, quando falamos de pessoas mais vulneráveis, que sentem que já não têm tempo para recuperar os afectos perdidos, porque a idade física colocam-nas perto do fim da linha.
O isolamento, em nome da proteção dos idosos, vai ter consequências dramáticas.
“Não vou morrer do covid na certa, mas quem sabe morrerei de solidão”, desabafava outro dia uma pessoa chegada, isolada agora pela impossibilidade de circulação entre concelhos e por confinamentos obrigatórios em nome da saúde de todos, mesmo que todos tudo façam para combater e mitigar esse isolamento. Medidas que se compreendem mas que não deixam de põr a nu essa evidência que é as nossas sociedades não estarem organizadas o suficiente para dar lugar aos idosos, com justo respeito pela sua dignidade e fragilidade. E, onde não há cuidado com os idosos, não há futuro para os jovens, como nos lembrava o Papa no passado mês de outubro, frisando que nenhuma pessoa- jovem ou velha, é dispensável.
Estima-se que até 2030 o número de pessoas com 60 anos ou mais deve crescer 38%, passando de 1 bilião para 1,4 biliões. Nessa altura, o número de idosos irá superar o número de jovens em todo o mundo. Esse aumento será maior e mais rápido nos países em desenvolvimento. Só com esta grandeza de números é que percebemos a extensão de um problema de saúde mental que se avizinha, depois desta pandemia. A somar-se a questões económicas, sociais e outras.
A pandemia que nos pôs de joelhos vai deixar-nos de cócoras durante muitos e largos anos. A vacina pode criar uma nova segurança e todos devemos estar disponíveis para a acolher mas as sequelas da Covid passam por outras dimensões. E, pelo andar da carruagem, duvido que estejamos a identificá-las todas. A começar com o cuidado, que pode começar na proteção da doença mas nunca pode esgotar-se nela.
Tenho para mim que neste Natal, o Deus-Menino se apresentará de cabelos brancos.