Por Renato Moura
A Revista «Visão», de 20 de Agosto, publicou uma entrevista ao escritor e poeta José Tolentino Mendonça, um madeirense que o Papa Francisco fez Cardeal, em 2019. Foi a propósito do lançamento de mais um livro, este intitulado «O que é amar um país”. O entrevistador foi Onésimo Teotónio Almeida, ilhéu, mas açoriano, escritor e professor catedrático nos EUA.
Seja-me permitido destacar de Tolentino: “Uma comunidade só se torna verdadeiramente humana se no centro colocar a pessoa. E cada pessoa torna pleno o seu processo de humanização, quando do ‘eu’ passa ao ‘nós’; quando deixa de viver para si mesma, e em função de si, e descobre o poder do dom, da colaboração, do cuidado e da partilha. Precisamos de lembrar isto uns aos outros. Hoje o grande perigo é a desagregação que nos afasta da dimensão comunitária da vida, como se não fizéssemos parte uns dos outros”.
Noutro passo aponta: “Deixamos de estar preocupados apenas com o imediato e impõe-se com uma intensidade nova a questão do sentido: o sentido da vida, o sentido do que têm sido as nossas prioridades, o sentido dos nossos modelos de desenvolvimento”.
A grande riqueza destas densas considerações, do douto pensador, está, creio, na aplicabilidade às mais diversas atitudes e decisões e na grande abrangência para quantos tenham a humildade de se sentir beneficiários. Para quem se quiser tornar destinatário e construtor de esperança.
Valeria a pena se cada um de nós se detivesse, em silêncio, a olhar o «mundo» à volta e o «seu»; e ver! Cada qual procurando resolver os seus problemas, talvez passando por cima de tudo e de todos! Indisponibilidade para quanto não seja por dinheiro! Recusa de intervenção nas causas públicas! Pregar Deus, mas não praticar o atendimento, o amor e a solidariedade! Sujeição silenciosa e cúmplice perante o atropelo dos valores e dos princípios. Falta de paciência e de solidariedade para com os dramas alheios! Conformação com o abandono da relação pessoal e directa, até com os mais próximos! Deixar correr a vida pessoal sem projectos! Até aqueles dotados de dons não os fazerem render para a criação de uma esperança fundada, credível, arrebatadora e mobilizadora.
Diz-nos o Cardeal que quando fala com os sem-abrigo, os doentes, os afundados na desventura, os abandonados, de todos há uma frase ouvida frequentemente: «Só tenho a Deus; só Deus me resta; só posso confiar em Deus»”.
Quem detém poderes e cada um de nós deverá sentir-se interpelado: O que não fiz, ou fiz mal, para esta gente já só confiar em Deus?!