Por Monsenhor José Constância
O Concílio Vaticano II colocou toda a Igreja em Caminhada Sinodal como práxis permanente, sobretudo por ocasião da preparação e celebração dos Sínodos da Igreja Universal, realizados todos os três anos, bem como com os Sínodos Continentais e Intercontinentais e os especiais, como por exemplo, o dos Bispos da Holanda e o da Amazónia.
Nos avanços e recuos do post-Concílio encontram-se também as reais dificuldades na vivência da sinodalidade apesar dos órgãos colegiais ou sinodais.
Com o Papa Francisco a sinodalidade tornou-se um conceito forte ou chave na reforma da Igreja, sobretudo com os Sínodos da Família, dos Jovens e da Amazónia. Mesmo assim, o Papa tem encontrado grande oposição, chegando mesmo hoje os seus inimigos ou opositores a afirmarem «que ele nem está doente, nem resigna».
No que diz respeito à Igreja em Portugal a prática da Sinodalidade não tem sido grande no post-Concílio, mesmo com quase metade das Dioceses a terem realizado já os seus sínodos diocesanos. O trabalho em comum é muito difícil e exige uma verdadeira mudança ou conversão pastoral das pessoas e das estruturas.
A nossa Diocese vem em caminhada post-Concíliar com os entusiasmos, debilidades pastorais e com as sinalizações a que fiz breve referência histórica nos artigos anteriores. Viverá na década de 2020 a celebração do seu Sínodo Diocesano que é precedido desta Caminhada que se iniciou em Setembro do ano passado. O nosso lema: «a beleza de caminharmos juntos em Cristo» é uma ideia e expressão do Papa sobre a Sinodalidade.
Vamos na sequência de uma preparação remota e próxima celebrar depois o máximo da expressão da sinodalidade que é o Sínodo Diocesano.
No ano de 2019/2020, aprofundaram-se temas em Ouvidoria sobre a sinodalidade, a beleza de caminharmos juntos e os sinais dos tempos. Fez-se também nas bases das paróquias, ouvidorias, serviços e movimentos uma análise à realidade açoriana nos aspetos cultural, sócio-económico e eclesial, colocada em síntese demonstrativa e interessante que dará lugar ao “instrumento de trabalho” da Assembleia Diocesana que se aproxima.
Não obstante, os aspetos positivos da caminhada sinodal neste primeiro ano temos sentido falhas e dificuldades, cujas causas convém procurar, estudar e superar.
Faço aqui o elenco de algumas dificuldades reais da nossa atual caminhada sinodal neste primeiro ano: falta de determinação para um trabalho de conjunto a vários níveis que ultrapasse os nossos esquemas habituais ou tradicionais; pouca vontade de avançar para um trabalho diferente e novo fora da religiosidade popular e da manutenção paroquial; desconforto dos que queriam já o Sínodo e desconfiança inicial do que é e será a caminhada; pouco lançamento e aprofundamento em algumas ouvidorias da dinâmica da caminhada; dificuldade da caminhada sinodal ser colocada ao alcance de todos; inércia e cansaço de presbíteros fruto da falta de renovação em setores como a identidade ministerial, espiritualidade, formação permanente, integração pastoral e estatuto económico; pouca compreensão da lógica pastoral da caminhada sinodal que foi na linha da análise da realidade; inexistência de instâncias sinodais como conselhos pastorais de paróquia e outros trabalham mal; os trabalhos dos três esquemas de estudo que foram apresentados de uma maneira muito erudita, abrangente e com muitas perguntas; pouca auscultação aos que estão de fora, na margem, ou “distantes” das comunidades cristãs e do todo diocesano; falta de colocar às instâncias próprias as dificuldades ou discordâncias ao longo do ano.
Há duas dificuldades, às quais gostaria de fazer uma referência especial: a necessidade de um apoio maior da Comissão Diocesana e o fenómeno da pandemia.
A Comissão Coordenadora da Caminhada Sinodal Diocesana, tem importância, mas dará depois lugar àquela que será a Comissão do Sínodo. A nossa comissão poderia ter feito maior apoio e acompanhamento, mas estes dizem também respeito às Vigararias e Ouvidorias, como instâncias que estão capilarmente no território geográfico e pastoral de todas as ilhas.
A dificuldade inesperada da Pandemia foi grande, pois levou a uma suspensão de atividades e ao adiamento da Assembleia Diocesana que se deveria ter realizado em Maio transato, retardando o que será a opção pastoral para o próximo ano.
A Pandemia e o post-Pandemia(?) criaram um novo ciclo social alterando a realidade nas dominantes Sanitária, Económica, Social, Espiritual, Cristã, Eclesial e Pastoral.
A nossa grande dificuldade comum agora é ler a realidade nos principais desafios do mundo dos Açores nesta Pandemia. Depois, a Igreja Local na próxima Assembleia Diocesana, de inicio de Outubro, nos seus membros, leigos, religiosos/as, diáconos, padres e Bispo, deverá debater e escolher o caminho do novo ano pastoral, e de certo modo, saber do horizonte da data do inicio da realização do Sínodo nesta década de 2020.
A caminhada sinodal deve pois aterrar nas realidades que estamos a viver hoje, aqui e agora, criando referências para um caminho pastoral post- “Covid-19” .
Esperamos que esta assembleia seja ativa e prospectiva, abrindo-se numa dinâmica evolutiva ou evolucionária que redimensione para o agora a nossa caminhada diocesana.
*Monsenhor José Constância é assistente do Serviço Diocesano da Pastoral Familiar e Presidente do Instituto Católico de Cultura