O cultor ao Divino Espírito Santo é um dos mais fortes elos de ligação entre os açorianos residentes e os da diáspora
Os Correios de Portugal (CTT) vão promover na quinta-feira uma emissão de 300.000 selos dedicada às Festas do Divino Espírito Santo, que têm grande tradição em todas as ilhas dos Açores.
De acordo com uma nota de imprensa da empresa, esta emissão filatélica é composta por três selos, com uma tiragem de 100.000 exemplares cada, para envio nacional, europeu e para o resto do mundo.
Contempla também um bloco filatélico limitado a 35.000 exemplares, sendo que o ‘design’ dos selos esteve a cargo de Hélder Soares, do Atelier Design&etc.
O selo para envio nacional mostra o Teatro do Espírito Santo do Império ou Irmandade do Terreiro em Porto Judeu, na ilha Terceira, através de uma fotografia de António Araújo, outra sobre a distribuição do bodo, na ilha do Faial, de Maurício Abreu, e ainda outra imagem sobre a coroa do Divino Espírito Santo, uma fotografia de Gaspar Ávila.
Já o selo para envio para a Europa mostra os foliões e cavaleiros da Beira, Velas, na ilha de São Jorge, numa fotografia de Jorge Blayer Góis; o “Balho” dos pescadores em Rabo de Peixe, na ilha de São Miguel, de autor desconhecido; e uma pomba, símbolo central na bandeira do Divino Espírito Santo, através de António Araújo.
OS CTT revelam ainda que o selo para envio para o resto do mundo mostra a bênção do bodo e a saída da coroa, nas Bandeiras, da ilha do Pico, numa fotografia de Maurício Abreu; a confeção das sopas na Copeira de Nossa Senhora dos Milagres, Império do Espírito Santo dos Milagres, em Vila do Porto, ilha de Santa Maria, através de uma foto de Ana Pina; a par de um pormenor da rosquilha de massa sovada enfeitada com flor, na Vila Nova, da ilha Terceira, numa fotografia de António Araújo.
Já o selo do bloco filatélico tem uma imagem da Casa do Espírito Santo da ilha do Corvo, fotografada por Jorge Barros; o grupo de foliões da freguesia da Caveira nas orações à Santíssima Trindade, na Casa do Espírito Santo da Caveira, na ilha das Flores, através de Pepe Brix; e as decorações em carro de bois, na ilha de São Jorge, de Karol Kozlowski.
O fundo do bloco mostra um carro de bois na freguesia de Rosais, na ilha de São Jorge, numa fotografia de Jorge Blayer Góis.
O historiador e museológico Francisco Maduro-Dias recorda que os açorianos recorrem ao Espírito Santo, “sobretudo, em busca de ajuda e ânimo, porque alguma doença visitou o lar, a vida não corre bem, em tempo de terramotos ou guerra, quando, perante adversidades em demasia, as forças tendem a faltar”.
O historiador considera que “é impossível resumir tudo o que estas festas envolvem, mas, tentando, poder-se-á dizer que são momentos de encontro, de partilha, de irmandade, de alegria e de paz, celebrando-se, todos os anos, entre o Domingo de Páscoa e o Domingo da Trindade, sete semanas depois”.
As festas que celebram o Culto do Espírito Santo começam no domingo imediatamente a seguir à Páscoa tendo como ponto alto nas ilhas referidas o domingo de Pentecostes e o da Trindade.
Na ilha Terceira, os impérios prosseguem durante o verão, até ao Império de São Carlos, em setembro.
Na ilha Terceira, o culto do Espírito Santo está documentado desde 1492, data em que já se fazia o Império e se distribuía o bodo, no dia de Pentecostes, à porta de uma capela pertencente ao hospital do Espírito Santo.
A festa constava da missa do Espírito Santo, “coroação” e bodo e, se algum irmão da confraria “tomasse o império” sem ter meios para o desenvolver seria ajudado pelos restantes membros da irmandade.
Quando se instituiram as Santas Casas da Misericórdia na ilha Terceira, a de Angra, em 1495, e depois a da Praia, em 1498, instalam-se nos Impérios do Espírito Santo, acabando por se tornar as responsáveis pela organização dos bodos no dia de Pentecostes, facto que não afetou a criação de irmandades em todas as freguesias destes dois concelhos.
As festas do Espírito Santo nos Açores possuem uma estrutura tradicional comum mas apresentam bastantes variantes entre as várias ilhas do Arquipélago e, dentro da mesma ilha, entre os vários Impérios.
O ciclo das festividades é, no entanto, comum. Este domingo e no próximo vivem-se os bodos e no final do bodo do próximo domingo tiram-se “as sortes” para conhecer os irmãos que vão ficar com as domingas, sete, do próximo ano. Quem tirar a primeira “dominga” ficará com o Espírito Santo todo o ano em Casa, ou seja, a Bandeira e a Coroa ficarão na casa desse irmão, em lugar de destaque, durante um ano.
(Com Lusa)