A Igreja Católica celebra hoje o Dia de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, com uma reflexão da Congregação para o Clero (Santa Sé) que alerta para um “défice de intimidade” na vida dos padres católicos.
“O que representa um alto potencial de risco na vida do padre é aquilo a que se chamou ‘défice de intimidade’. Todo o estado de vida, para ser integralmente abraçado e protegido de incursões ameaçadoras, deve cultivar uma especial ‘relação íntima’ que lhe valorize as possibilidades e lhe diminua os riscos: para um sacerdote, trata-se da amizade pessoal e quotidiana com o Senhor”, refere o texto, divulgado em Portugal pela Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios.
O dia de oração pela santificação do clero é celebrado todos os anos na Solenidade do Coração de Jesus.
Em Portugal, esta sexta-feira marca a celebração da Missa Crismal em mais de uma dezenas de dioceses, depois do seu adiamento na data tradicional de Quinta-feira Santa, por causa da pandemia de Covid-19.
O dia de oração pelo clero, em 2020, tem como ponto de partida uma carta enviada a 4 de agosto de 2019 pelo Papa Francisco aos padres de todo o mundo, no 160.º aniversário da morte do Santo Cura d’Ars, padroeiro dos párocos católicos.
“Nos últimos tempos, pudemos ouvir mais claramente o clamor – muitas vezes silencioso e silenciado – de irmãos nossos, vítimas de abusos de poder, de consciência e sexuais por parte de ministros ordenados. Sem dúvida, é um período de sofrimento na vida das vítimas, que padeceram diferentes formas de abuso, e também para as suas famílias e para todo o Povo de Deus”, escreveu o pontífice.
Num texto com cerca de 10 páginas, o Papa destaca a importância da vocação sacerdotal, com gratidão e respeito pelos compromissos assumidos, “com Jesus e com o povo”.
“No âmbito psiquiátrico e psicoterapêutico acerca de alguns problemas de natureza moral e afetiva da vida dos padres, a vitalidade e o cuidado desta relação espiritual com Deus, juntamente com o desenvolvimento de uma boa maturidade humana e de sãs relações interpessoais, constitui o melhor ambiente para o cuidado do celibato sacerdotal e da espiritualidade presbiteral”, refere a nota do Congregação para o Clero.
O organismo da Santa Sé destaca que o “défice de intimidade não é senão a aridez da vida espiritual”.
“O padre que já não reza com fidelidade e que descura os elementos estruturantes da sua relação de intimidade com o Senhor acumula um ‘défice’ perigoso, que pode gerar sentimento de vazio, perceção de frustração e insatisfação, dificuldade na gestão da solidão, das necessidades e dos afetos”, pode ler-se.
A nota propõe cinco palavras para o Dia de Santificação do Clero, tiradas da carta do Papa Francisco: um coração agradecido, misericordioso, compassivo, vigilante e corajoso.