O Vaticano lançou hoje um “manual” de aplicação da encíclica ecológica e social ‘Laudato Si’, que o Papa publicou em 2015, com mais de 200 recomendações em defesa do ambiente e da vida humana.
‘A caminho para o cuidado da casa comum – Cinco anos depois da Laudato Si’ é o nome do documento, elaborado pela mesa interdicasterial da Santa Sé sobre a ecologia integral, que apresenta como chaves para uma mudança na relação das pessoas com a natureza a “sobriedade”, o “consumo responsável” e o “uso de energias renováveis”.
As comunidades católicas de todo o mundo são desafiadas a assumir iniciativas de educação e formação sobre a ecologia, a reciclar, a utilizar meios de transporte menos poluentes e a partilhar veículos (car sharing), a um consumo “crítico e circular” a um “investimento ético” ou a abolir o uso de plásticos descartáveis, entre outras medidas.
O Vaticano apela a uma economia com menor impacto ambiental, sem subsídios para energias fósseis e taxas para as emissões de dióxido de carbono (CO2).
Na questão dos investimentos, o texto refere que se devem evitar empresas que prejudiquem a “ecologia humana e social”, dando como exemplo a prática do aborto, o comércio de armas ou os combustíveis fósseis.
As várias instituições católicas de educação e formação são chamadas a sensibilizar a sociedade para as causas da paz, da justiça e da democracia, promovendo a defesa da dignidade humana e dos direitos de cada pessoa.
Nesse sentido, questiona-se a “cultura da eficiência, do usa e deita fora”, que coloca em causa o ser humano com “fragilidade”.
Outra série de propostas diz respeito à saúde humana e à defesa da vida, “desde a conceção à morte natural”, criticando “escolhas eutanásicas mascaradas”.
Eliminar vidas humanas não é uma política aceitável para defender o planeta e promover o desenvolvimento humano integral”.
As preocupações do Vaticano centram-se ainda no chamado “inverno demográfico”, sobretudo no Ocidente, pedindo aos Estados que promovam “políticas inteligentes para o desenvolvimento familiar”.
O texto apela ao diálogo entre gerações, à promoção de lideranças juvenis e à educação ambiental desde o início do percurso escolar, estimulando o “contacto com a natureza”.
A mudança proposta a partir da ‘Laudato Si’ inclui a dimensão espiritual, com colaboração entre Igrejas Cristãs e outras comunidades religiosas, para encorajar um “estilo de vida profético, contemplativo e sóbrio”.
Neste campo são propostos “ciclos de reflexão sobre as raízes éticas e espirituais dos problemas ambientais, a partir da ‘Laudato Si’, para que se encontrem visões alternativas aos modelos dominantes, do “paradigma tecnocrático”.
Da catequese à universidade, o Vaticano espera que se estude a “Teologia da Criação”, inserindo as questões ecológicos no quadro do ensinamento moral da Igreja Católica.
Ao mundo académico é pedido investimento no estudo sobre as alterações climáticas, sublinhando a necessidade de investigar o impacto da degradação ambiental nas populações e de reconhecer, juridicamente, a categoria de “refugiado climático”
Num momento de pandemia, o documento destaca os “perigos associados à rápida difusão de epidemias virais e bacteriológicas, num mundo caraterizado cada vez mais por uma forte urbanização e mobilidade”.
O setor bancário e financeiro é convidado a integrar este esforço, dedicando maior atenção à “inclusão social e à defesa do ambiente”.
As propostas pedem o fim dos “paraísos fiscais” para evitar a fuga de capitais e a lavagem de dinheiro.
A 24 de maio, o Papa assinalou no Vaticano o quinto aniversário da sua encíclica ecológica e social ‘Laudato Si’, lançando um ano especial que decorre até maio de 2021, com o objetivo de “chamar a atenção para o grito da terra e dos pobres”.
(Com Ecclesia)