Por Renato Moura
Os portugueses começam a regressar à normalidade. Uns motivos para alegria e outros para desolação.
Houve quem acreditasse que o isolamento forçado pela Covid19 iria melhorar muitas coisas. Não acreditei tanto. Bem bom, as pessoas começam a dar sinais de desejar o convívio pessoal e não se converteram, ainda mais, ao contacto pelas redes sociais e pelo telemóvel. Depois de tudo dito e o seu contrário sobre o vírus, até com adesão oficial, o tempo vai fazendo cair algumas teorias alegadamente científicas, as quais conduziram pessoas ao desvario.
Regresso, também pelos piores motivos.
No futebol voltaram as guerras entre clubes, contra dirigentes; cenas de pancadaria mesmo sem jogos. Na política, como se já não bastasse o amargo de ver um Estado endividado a emprestar dinheiro para tapar os buracos do Novo Banco, veio a descoordenação pública entre o 1.º Ministro e o Ministro das Finanças. Falta de sensatez, imaturidade, em plena crise.
O 1.º Ministro, faz o seu jogo, desvia atenções e lança, à saída duma fábrica, a recandidatura do Presidente da República. Este escolhe agradecer, apoiando o 1.º Ministro, no episódio da transferência dos 850 milhões para o Novo Banco. Mais uma acha para a fogueira. Oportunismo e falta de sentido de Estado de figuras do topo da hierarquia institucional.
Monta-se teatro para figurar a confiança de Costa em Centeno. É o jogo para dar a imagem de continuidade do Ministro das Finanças, na qual ninguém acredita para lá do tempo imprescindível. Ao mesmo tempo, por detrás do pano da boca de cena, cada artista ensaia o epílogo que, pessoal ou partidariamente, mais lhe convenha para a substituição do Governador do Banco de Portugal.
Fala-se da crise económica que virá. Assegura-se: não haverá austeridade. Objectivo: passar a imagem; depois se vê o nome de cada medida. Para já soa a demagogia. Correm maratonas, por lá e por cá, com manobras políticas populistas. Não perdem oportunidade para aparecer e falar: das suas competências, ou das alheias. Alimentam guerras de comunicação, mas negam, a pés juntos, as motivações eleitorais. É ofensivo pensarem que não descobrimos o jogo. Seria de esperar dos políticos, com formação jurídica, o especial dever de não cometer infrações. E não abusarem da habilidade de contornar ou torcer a lei. Tenha-se em conta que nem todas as coisas legais são boas, mas nem todas as coisas boas são legais. Primeiro a disposição legal e depois a decisão.
Cada cidadão tem direito e dever de discernir as acções rectas, dos jogos de imagens.