Pelo Padre Hélder Miranda Alexandre
Recebemos hoje, dia 27 de março, a bênção Urbi et orbi, com indulgência plenária, dada com o Santíssimo Sacramento, pela primeira vez fora dos dias do Natal e da Páscoa!
Ao anoitecer chuvoso, numa praça de S. Pedro estranhamente vazia, que abraça a cidade e o mundo, apenas com as imagens do Crucificado da Igreja de São Marcelo e de Maria Santíssima – tal Sexta-feira Santa que se prolonga há semanas – o Papa Francisco falou hoje ao mundo para confirmar na fé os seus irmãos. A imagem de Cristo é impressionante, desfigurado e só, sem arranjos, como acontece com tantos irmãos na solidão da doença ou na agonia do leito de morte.
Nas nossas casas foi possível fazer uma pequena Igreja, em união com os corações crentes. Não se pode ficar indiferente! Os momentos que assistimos ficarão para a História, como um dos grandes gestos de Francisco. Convida-nos a ser criativos, a fazer o que for possível para trazer esperança a tantos irmãos. Ser criativo é amar!
Jesus parece dormir no meio da tempestade, recordou o Papa, meditando no Evangelho de Marcos. “Há semanas, parece que a tarde caiu. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo de um silêncio ensurdecedor e de um vazio desolador… Vimo-nos amedrontados e perdidos.”
Estamos naturalmente assustados. A mãe natureza quis provar-nos duramente, para nos lembrar que o nosso destino não depende de nós. Parecia que este mundo tinha todas as soluções, seguro de si mesmo. Estávamos a bom ritmo económico! Mas, afinal somos tão frágeis… Bastou um vírus para colocar de rastos os nossos dias, os nossos sonhos e projetos.
No meio da tempestade, muitos perderam a esperança. Aliás, muitos quiseram que Ele dormisse, afastaram-no propositadamente. Ninguém está fora da barca. Aqui choramos todos. “A tempestade mostra-nos que não somos autossuficientes, que sozinhos afundamos. Por isso, devemos convidar Jesus a embarcar em nossas vidas. Com Ele a bordo, não naufragamos, porque esta é a força de Deus: transformar em bem tudo o que nos acontece, inclusive as coisas negativas. Com Deus, a vida jamais morre”.
Depois da palavra, o silêncio, diante de Jesus Eucarístico. É o Senhor! Ele está connosco, está vivo! A sexta-feira nunca terá a última palavra, mesmo que a morte aconteça. Mas o mesmo Senhor fala-nos à nossa consciência. É necessário encher de sentido este caminho, enchendo os nossos dias de gestos concretos e de esperança porque temos a certeza de que o amor é eterno. Este é o tempo de escolha, de separar o que é necessário daquilo que não é. É tempo de conversão.
“Não tenhais medo!”, diz o Senhor aos seus discípulos. Ninguém se pode sentir sozinho. Embora fisicamente separados, nenhuma geração pôde estar tão unida como a nossa. Vai tudo correr bem! Um bem que é O amor!