O presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, disse à Agência ECCLESIA que falta “vontade política”, no país, para um verdadeiro projeto nacional de erradicação da pobreza.
“Tem de haver determinação, firmeza, e essa determinação tem faltado à classe política”, referiu o responsável, numa entrevista a respeito do III Dia Mundial dos Pobres, que a Igreja Católica assinala este domingo, por iniciativa do Papa Francisco.
Eugénio Fonseca lamentou o “equívoco” de agir “criticamente” sobre os pobres, estigmatizando a pobreza e culpando as pessoas pela situação em que se encontram ou acusando-os de “querer viver à custa dos outros”
“Uma sociedade, como a portuguesa, que ainda tem 2,2 milhões de pobres, não está bem”, apontou.
O presidente da Cáritas defende que, pelo menos uma vez por ano, a Assembleia da República deveria promover um Debate da Nação sobre a pobreza em Portugal.
“Há necessidade de um pacto de regime, nesta área. As ideologias não matam fome”, declarou.
O combate à pobreza, assinala Eugénio Fonseca, é um trabalho “multidisciplinar” que, no Governo, deveria ser coordenado pela Presidência do Conselho de Ministros.
“Defendo que deveria ser afeta ao PIB uma percentagem para conseguirmos ir erradicando a pobreza”, afirma.
O presidente da Cáritas Portuguesa alerta, em particular, para o nível de pobreza entre pessoas com emprego, os mais velhos e as famílias monoparentais, com a “feminização” deste fenómeno.
No início de uma nova Legislatura, Eugénio Fonseca pede que se aproveite “o que já existe”, em termos de propostas para a erradicação da pobreza, a partir das instituições da cidade civil
O entrevistado considera que, na Igreja Católica, o Papa tem colocado “o dedo na ferida”, com posições incómodas para muitos.
“Ele fala-nos muito na necessidade de ir às causas, de percebermos que a pobreza não se elimina só com bens materiais, que há toda uma outra dimensão”, refere o presidente da Cáritas Portuguesa.
O Papa Francisco, recorda, insiste na ideia de que “o pobre alimenta sempre a esperança de superar a sua situação”.
“Nós, Cáritas, a Igreja no seu todo, não podemos frustrar a esperança dos pobres”, disse Eugénio Fonseca.
O responsável defende que há causas da pobreza que estão no chamado “sistema”, destacando a importância da intervenção comunitária e da intervenção “sociopolítica” para situações como as baixas reformas, que exigem “medidas globais”.
A Cáritas, observa, é um serviço da Igreja Católica “para todos e com todos”, distinguindo o trabalho de “assistência” do assistencialismo, que é apenas “permanecer nas consequências, sem ir às causas”.
“A assistência, que é responder às necessidades primárias das pessoas, é uma ação muito nobre e muito necessária, porque só depois disso podemos passar para o patamar da promoção”, diz por outro lado.
Na sua mensagem para o III Dia Mundial dos Pobres, o Papa denuncia “formas de novas escravidões” a que estão submetidos milhões de homens, mulheres, jovens e crianças, nos dias de hoje.
O texto divulgado pelo Vaticano alude, em particular, a “milhões de migrantes vítimas de tantos interesses ocultos”, às pessoas sem-abrigo e marginalizadas e aos pobres que procuram, no lixo, algo com que se “alimentar ou vestir”.
À imagem dos anos anteriores, o Papa vai almoçar com um grupo de 1500 pobres, no auditório Paulo VI, do Vaticano, após a Missa na Basílica de São Pedro.
(Com Ecclesia)