Pelo Pe. Hélder Miranda Alexandre
Num comentário à Parábola da Misericórdia (Lc 15), Henri Nouwen escreveu: “Deves ter noção de que foste chamado a ser o pai. Procuraste amigos durante toda a vida; desejaste ardentemente afetos desde que te conheço, interessaste-te em milhares de coisas; pediste atenção, carinho e afirmação à direita e à esquerda. Chegou o momento de afirmares a tua vocação: ser um pai que pode acolher com calor os próprios filhos sem lhes colocares uma questão e sem querer nada em troca. Não temos necessidade de ti como um bom amigo, nem como um irmão generoso. Temos necessidade de ti como um pai disposto a reivindicar para si a autoridade da verdadeira misericórdia”.
Não sei se Nouwen pensou num padre quando escreveu este extraordinário comentário. Mas penso que assenta como uma luva na noção que temos daquilo que ele deve ser. É verdadeiramente um pai, que guia, que acompanha, e que vai atrás do rebanho. As nossas comunidades não precisam de peritos ou especialistas, mas de alguém que as oriente e as acompanhe, que faça caminho orientando a luz a seguir, homens de fé e de testemunho.
A correria da vida de um padre, com várias funções e comunidades à sua conta, fá-lo, por vezes, sentir-se cansado. Não tanto por ter trabalhado muito, mas por suspeitar que trabalhou mal. Perdido em projetos marginais, sente-se filho do quotidiano, fragmentado entre tantas forças e solicitações. O sentido de dispersão fá-lo sentir, por isso, a necessidade de uma ocasião propícia para parar e redescobrir o motivo daquilo que começou a ser. Um ponto de partida para que um padre, empenhado a fundo no seu ministério, considere com atenção o próprio itinerário espiritual e se interrogue pela sua identidade cristã.
Aprender a ser, nem nunca o conseguir. A vocação é isso, caminho de felicidade, nunca terminado. Uma busca incessante por sinais de pista.
Na semana maior de oração pelas vocações sacerdotais e pelos Seminários, na feliz coincidência do aniversário da fundação do nosso Seminário, aumenta a atenção para com os futuros sacerdotes da nossa Igreja. Adquire sentido a frase escolhida para esta semana: “O Senhor não pensa apenas naquilo que tu és, mas em tudo aquilo que poderás chegar a ser” (CV 289). Um otimismo que só faz sentido para quem tem fé. Apenas temos uma certeza: o olhar de Cristo que nos vê com imenso amor!
Quando vemos um jovem frequentar o Seminário, notamos o brilho novo no seu olhar. Precisa de nós para aumentar esta faísca que um dia lhe tocou a alma e fez dizer: é isto que quero ser!