Livro sobre pedofilia junta pensamento dos papas Francisco e Bento XVI

Publicação é posta hoje à venda e abre com um texto do jesuíta Frederico Lombardi, ex diretor da Sala Stampa, no Vaticano

Um livro sobre a pedofilia na Igreja junta o pensamento dos dois papas vivos, assumindo o problema como seu e intervindo nas respetivas responsabilidades pastorais.

O livro “Não façam mal a nenhum destes pequeninos. A voz de Pedro contra a pedofilia”, que chegou hoje às livrarias, junta escritos fundamentais dos dois papas vivos, apresentados por um texto do jesuíta Federico Lombardi, presidente da Fundação Vaticana Joseph Ratzinger – Bento XVI.

Segundo a editora, este projeto editorial foi incentivado pelo Dicastério para as Comunicações da Santa Sé e pelo arcebispo Georg Gaenswein, prefeito da casa papal e secretário pessoal do papa emérito Bento XVI, e estão a ser publicadas versões em diversas línguas.

Em abril o papa emérito Bento XVI publicou um documento sobre o tema dos abusos sexuais cometidos por membros do clero da igreja católica.

A divulgação deste texto surgiu dois meses depois do encontro sobre “A Proteção dos Menores na Igreja”, convocado pelo Papa Francisco, com a participação de representantes do episcopado mundial e de superioras e superiores religiosos.

O papa emérito identifica no contexto histórico, cultural e teológico das décadas passadas alguns aspetos que, à luz da sua experiência e competência, considera particularmente relevantes e dignos de consideração na tragédia dos abusos sexuais na igreja, entre os quais a “revolução sexual”.

Segundo Frederico Lombardi, que esteve ao serviço dos dois papas, não faltaram comentários, interrogações e discussões sobre as intenções, o tempo e a forma da publicação em si, bem como a relação e a sintonia (ou não) entre o que foi expresso por Bento XVI e o que foi dito durante o encontro ou nas tomadas de posição pelo Papa Francisco.

No texto, o papa emérito esclareceu ter coligido algumas considerações, desenvolvidas pessoalmente depois de o encontro ter sido convocado, que foram apresentadas ao secretário do Estado e ao próprio Papa Francisco, tendo recebido autorização para as publicar na revista mensal do clero católico na Baviera.

O livro publica este escrito do papa emérito, que fala lateralmente da escuta das vítimas e do seu acompanhamento, praticamente não fala da cobertura culposa dos crimes, não entra no campo das problemáticas psicológicas e patologias da pedofilia, nem no campo da prevenção para além da formação do clero.

“Não façam mal a nenhum destes pequeninos. A voz de Pedro contra a pedofilia” publica também a carta do papa emérito aos católicos da Irlanda de 2010, considerado o seu documento pastoral mais desenvolvido sobre o tema.

Já no que se refere ao Papa Francisco, Frederico Lombardi refere que este se colocou desde o início do seu pontificado numa linha de continuidade com o seu predecessor, embora empenhando-se naturalmente em dar novos passos.

“Como é sabido, também ele se encontrou pessoalmente com diversas vitimas de abusos; aliás, quanto Bento XVI geralmente se encontrava com elas por ocasião de diversas viagens ao estrangeiro, Francisco ganhou o habito de se encontrar com elas por mais vezes, na sua residência de Santa Marta no Vaticano”, refere.

O livro, explica Frederico Lombardi, mostra como o Papa Bento XVI e o Papa Francisco encaram e vivem a grande prova com que a Igreja se defronta, já há décadas, na sequência dos crimes de abuso sexual cometidos pelos seus membros qualificados.

“Dois grandes pontífices assumem como seu o sofrimento dos mais pequenos e de todo o povo de Deus, tomando-o sobre os ombros, intervêm nas suas respetivas responsabilidades pastorais, interpretam em profundidade, segundo a fé estes acontecimentos”, escreve.

Frederico Lombardi refere ainda que “tendo trabalhado ao serviço de ambos” pode atestar que os dois dão um testemunho “exemplar de amor pelos mais pequenos, de humildade, de paciência, de coragem, de verdade, de amor pela justiça”.

(Com Lusa)

 

 

 

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